quarta-feira, março 29, 2006

4 POEMAS



Formigas

Uma seguindo a outra,
Vão as formigas ao encontro do torrão de açúcar.
Um pé, à espreita, aguarda o momento de esmagar a procissãozinha.


Neném

Era assim, mãe, que te chamavam.
E, talvez, nunca o deixaste de ser.


Discordância

Perdoe a ousadia de discordar de você
Alguém que, na poesia, ainda anda de gatinhas.
E, ademais, ama tanto os versos
Que o seu gênio de vozes múltiplas criou.
Mas, Fernando, não acho que o poeta seja um fingidor.


Circo

Hoje não tem espetáculo:
O palhaço fugiu com o leão.


sábado, março 25, 2006

AGATHA CHRISTIE & CLARICE LISPECTOR

Em 1940, enquanto Londres era atingida por bombardeios da aviação alemã, Agatha Christie escrevia Curtain, que, no Brasil, recebeu o título de "Cai o Pano" (Nova Fronteira/2005). Nesse romance, Agatha Christie decidiu que o detetive Hercule Poirot deveria morrer. Segundo informa Carlos Augusto Lacerda, apresentador do livro, ela temia morrer com aquele bombardeamento intenso e não queria que o personagem, tão bem criado por ela, viesse a ser utilizado por outros escritores do gênero policial. "Cai o Pano", pois, marca a despedida de Poirot, mas esse é apenas um dado a mais para se ler esse que é um dos melhores trabalhos da grande dama do crime.
Poirot aparece muito debilitado, preso a uma cadeira de rodas, mas com o cérebro funcionando em perfeitas condições. A história é narrada pelo capitão Hastings, amigo e colaborador do detetive. Não me lembro de ter lido algum livro em que esse personagem fizesse parte da trama, mas, pelo que se deduz do que ele diz, isso ocorreu. E talvez tivesse sido uma espécie de Doutor Watson para Poirot. Desenrolado num hotel de uma cidadezinha inglesa, o enredo, como sempre ocorre com os livros de Christie, tem muitos personagens e alguns deles são um exercício para o leitor descobrir quem é o autor do assassinato da esposa de um médico. Poirot aparece pouco na trama, , sempre conversando com Hastings, com uma ou outra exceção. E como sempre acontece nos livros da autora, a trama é bem urdida, até se descobrir quem foi o autor do crime. E, interessante, é a maneira como Christie criou esse criminoso. Não vou entrar em detalhes, para não estragar a surpresa de quem estiver interessado em ler o livro. Só digo que não foi ele que cometeu o crime, como, aliás, ocorreu, anteriormente, com cinco outros homicídios, nos quais ele teve participação.
É, digamos, o "autor intelectual", mas o faz de uma maneira (que não vou dizer) que leva uma pessoa a cometer o assassinato. É uma bela sacada da autora, que reserva ainda uma surpresa com relação a Poirot, inimaginável num homem que está do lado da lei.
Como se não bastasse a qualidade de "Cai o Pano", existe um outro elemento que torna a sua leitura indispensável. É que a tradução é de ninguem menos do que Clarice Lispector. Sim, Clarice Lispector. Quando soube disso, há cerca de um mês, fiquei num pé e noutro para adquirir o livro, movido pela curiosidade de ler um livro de Agatha Christie traduzido por Clarice. (Além, é claro, de ser um fã de carteirinha da autora inglesa.) Foi na década de 1970 que Clarize traduziu "Cai o Pano". Conforme diz o apresentador, naquele período, até sua morte em 1977, Clarice exerceu intensamente essa atividade (certamente por razões financeiras), chegando a tradizor uma média de 3 livros por ano.
E, pelo visto, ela gostou do livro. Eis o que ela disse, num depoimento: "Prazer engraçado tive ao traduzir um livro de Agatha Christie. Em vez de lê-lo antes no original, como sempre faço, fui lendo à medida que ia traduzindo. Era um romance policial e eu não sabia quem era o criminoso, e traduzi com a maior pressa, pois não suportava a tensão da curiosidade". Pois é, Agatha Christie e Clarice Lispector reunidas num mesmo livro. Duas grandes escritoras, cada uma naquilo se propôs a fazer, com o seu próprio universo, com sua maneira de ver o mundo, com o seu estilo.

terça-feira, março 21, 2006

AUTÓGRAFOS


Em toda a minha vida, que já vai se aproximando da chamada terceira idade, obtive apenas três autógrafos de pessoas famosas. Das três, uma gozava de muita fama (desde os anos 1960), as outras foram (uma ainda vive) bem menos agraciadas pelo aplauso público. Tive, mais do que o autógrafo, a dádiva de receber um livro de Jorge Amado, em cuja página em branco ele fez uma rápida apreciação do meu primeiro livro. Mas, autógrafo com a pessoa "de corpo presente" , só essas três.
O primeiro foi de Glauce Rocha. Aqueles que são de gerações anteriores à minha talvez não tenham ouvido falar dessa grande atriz que atuou no cinema (Terra em Transe, de Glauber Rocha, entre muitos outros filmes), no teatro e, menos , na televisão. Eu a vi duas vezes no palco, uma em Natal e a outra em Fortaleza, onde passava a lua-de-mel. Foi em Fortaleza que colhi o seu autógrafo. Ela apresentava um monólogo, Um Uísque para o Rei Saul, se não me falha a memória. Depois do espetáculo, acompanhado da esposa, fui para um local do teatro, onde ela estava recebendo os cumprimentos de alguns espectadores. Ao chegar a minha vez, disse àquela mulher alta, simpática e suave, que não chegava a ter um rosto bonito, que a tinha visto em Natal. Ela elogiou a cidade e eu lhe pedi o autógrafo, que ela concedeu no próprio programa da peça. (Desgraçadamente, perdi esse papel.) Alguns meses depois ela morreria de um ataque cardíaco, com apenas 41 anos.
O segundo autógrafo ocorreu também em Fortaleza, onde estava residindo. Foi de Sérgio Ricardo, compositor (é autor e intérprete das canções de Deus e o Diabo na Terra do Sol), cantor e cineasta. Ele estava em Fortaleza para uma apresentação e um veterano cineclubista local promoveu, em sua residência, um encontro dele com alguns intelectuais. Fui um dos convidados. Depois de muita conversa (onde não podia faltar o assunto de censura, estávamos no governo de Médici), bebida e comida, me levantei, fui ao encontro de Sérgio Ricardo, com o seu último elepê, cuja capa mostrava o compositor com um esparadrapo tapando a boca. Lhe perguntei se ele ´conhecia aquele disco. Ele deu uma olhada e, sorrindo, respondeu "é. eu já andei vendo ele pelas lojas". Pedi que o autografasse. De caneta, emprestada por alguém, perguntou o meu nome e por alguns segundos ficou buscando palavras que não dissessem aquele seco "um abraço". Um dos presentes , talvez percebendo isso, foi em seu socorro e lhe disse que eu era "um dos bons contistas do Ceará". Ele disse, ah, é? e , de imediato, escreveu: "Ao Sobreira, de um modesto 'contista' musical, com um abraço". (a) Sérgio Ricardo.
Foi de Nara Leão, uma das minhas cantoras preferidas, o terceiro autógrafo. Aí foi em Natal, para onde tinha regressado. Ela ia se apresentar no Teatro Alberto Maranhão e fui vê-la, carregando ,não um violão, como diz uma de suas músicas, mas o seu último disco, Nasci para Bailar. Nara está linda, envolta por um véu. Quando cheguei, vencendo uma crônica timidez, perto daqueae mulher que admirava , acima de tudo, pela coragem em desafiar a ditadura militar, foi quase como se estivesse diante de uma Deusa. Ela foi muito simpática. Ao sorrir, mostrou os dentes ressaídos, que lhe tirava um pouco da graça e da simpatia que inspirava. Ao lhe dizer o meu nome, ela informou que tinha um filho também chamado Francisco. (Na verdade, eu já sabia disso, porque no filme Chuvas de Verão, de Cacá Diegues, então marido de Nara, ele o dedica aos seus filhos Francisco e Isabel . Não tenho bem certeza se é esse o nome da filha.) Saí do teatro nas nuvens: tinha conhecido Nara, trocando umas poucas palavras com ela e ganhara o seu autógrafo, que até hoje guardo com o maior carinho. Dias depois, encontrei um amigo que me disse que, na sua estada em Natal, Nara tivera um problema de saúde. Deve ter sido o mesmo que o levou à morte poucos anos depois. Glauce e Nara, que a terra lhes seja leve.

sábado, março 18, 2006

30 ANOS SEM VISCONTI

Ontem, 17 de março, fez 30 anos que Luchino Visconti morreu. Esse milanês, nascido em 2 de novembro de 1906 (neste ano, portanto, se dará o seu centenário de nascimento), foi um dos gigantes da arte cinematográfica. Assistente de direção de Jean Renoir no inacabado "Une Partie de Campagne", estreou na direção em 1942, com Ossessione, uma adaptação do livro "O Destino Bate à Porta", de James Cain. Esse filme é considerado o inaugurador do Neo-Realismo. Seis anos depois, ele realizaria aquele que é o seu maior filme, La Terra Trema, Um semi-documentário, já que se, por um lado caminha a exposição veraz das condições de vida dos pescadores de uma comunidade, explorados pelos que verdadeiramente lucram com o seu duro e arriscado trabalho, por outro cria uma história centrada numa família, cujo filho mais velho se rebela contra a situação, consegue que saiam dela por algum tempo, mas o implacável destino os faz retornar à "vidinha" de sempre. Daí para frente, Visconti construiria uma admirável carreira no cinema (apesar de um ou outro fracasso), alternando-a com a atividade teatral, chegando , inclusive, a dirigir óperas, tendo a cantora Maria Callas como estrela principal. Aliás, essa sua participação no palco o tornou alvo de ataques de alguns críticos, que enxergavam em sua produção cinematográfica a forte influência da linguagem teatral. O escritor Alberto Moravia, que foi também crítico de cinema, declarou certa vez que Visconti não era um diretor de cinema e sim um diretor de teatro. Uma infeliz opinião do grande escritor, para dizer o mínimo. Mas Visconti nem estava aí para esse tipo de crítica. Achava natural que o cinema poderia acolher elementos teatrais, da mesma forma que o teatro poderia receber influência do cinema. Esse intercâmbio só faria promover o enriquecimentos das duas formas de arte.
Um grande apaixonado também pela literatura, não foi por acaso que Visconti tenha se valido de obras literárias para fazar vários de seus filmes, Além do americano James Cain (cujo livro "O Destino Bate à Porta", dizem, fora lhe recomendado por Renoir), ele adaptou Dostoiewski ("Um Rosto na Noite"), Camus ("O Estrangeiro"), Camilo Boito ("Sedução da Carne")Thomas Mann ("Morte em Veneza"), D' Annunzio ("O Inocente", seu último filme), Giuseppe Tomasi Di Lampedusa ("O Leopardo"). Talvez mais um ou outro.
A sua biografia registra uma curiosidade (talvez se pudesse dizer melhor um paradoxo): pertencente à classe aristocrática (era conde), bandeou-se para o Partido Comunista. E na Segunda Guerra, juntou-se às forças de resistência ao nazi-fascismo, chegando a ser preso e a sofrer torturas. Além disso, uma das características do seu cinema é a preocupação social. Mas a linhagem aristocrática, pela vivência e pela compreensão da classe foi benéfica a Visconti na adaptação do livro "O Leopardo" (cujo autor era também um nobre), possibilitando-lhe realizar o seu segundo maior filme. Pois se como afirma Moacy Cirne, ele não era o diretor mais capacitado para transpor para o cinema o universo camusiano, não creio que nenhum de seus pares pudesse captar com perfeição a mensagem do livro de Lampedusa, que mostra a chegada da burguesia para substituir a aristocracia. A proximidade da morte do Príncipe de Salinas simbolizando a morte daquela classe. E isso feito com o apuro plástico e o requinte visual, tão presentes no cinema de Visconti.
E por falar em morte, ela foi muito cruel com o cinema italiano na década de 1970. Além de Visconti, "a indesejada das gentes" levou De Sica, Rosselini, Pasolini e Germi, este um diretor do segundo time, que, contudo, deu uma elogiável contribuição ao cinema, seja na comédia (sobretudo), seja em outros gêneros.

quarta-feira, março 15, 2006

OUTROS POEMAS DE HORÁCIO PAIVA

PEDRAS
Pedras
guardais
o som imóvel das serras
e em silêncio ficais.

E de supor
não se haveria
que vos reveste
a pele de Deus.

NA TORRE AZUL
Moro numa torre azul
e tenho o mar ao meu lado
não aos meus pés.

Do alto posso contemplar
dois mistérios
dois caminhos infinitos
e paralelos:

a praia de curvas ondulantes
e a rua de asfalto negro.

O primeiro leva a Netuno
e às vastidões oceânicas.

O segundo, a Plutão
e aos seus domínios subterrâneos.

O ESPELHO
No espelho não procures
o retorno de tua alma
ou de teu corpo.

Crês no que vês, é certo -
mas imagens são miragens
que no deserto enganan
os teus olhos fatigados.

NOTÍCIAS DO LOBO
O vento uiva em minha porta.

Traz-me notícias do lobo
perdido e faminto
nas florestas da infância...

A ÚLTIMA CEIA
À mesa tomam assento os convidados
e pães verdes são servidos -

pães e vinho verdes
na última homenagem à esperança.

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(Do livro O SOM IMÓVEL inédito.)

sábado, março 11, 2006

5 POEMAS


Velhice
Mas o teu rosto na foto emoldurada
Conserva o viço e a beleza de outrora
E livre ficarás da crueldade do tempo.


Beijo
O rubro do teu batom deixou-me vaidoso
E com um rubor pelas troças dos outros.


Pasárgada?
O rei foi destronado.
As prostitutas preferem os donos de dólares e euros.
Bicicletas no trânsito se encolhem com medo dos veículos pesados.
Celulares ressoam por todos os recantos.
Sujas de detritos ficaram as águas.
A violência faz aposta com a desfaçatez dos políticos.
Poeta, se estivesses vivo, aonde irias te refugiar?


Poeta
Quando um poeta morre,
Vai compor poemas para os anjos.


Contraste
Crianças brincam de adulto.
Um homem quer brincar de criança.

quarta-feira, março 08, 2006

"Com certeza"


Amigo, Amiga, que visitam este blogue, me respondam uma coisa: quantas vezes, durante o dia, em contato com pessoas, ou vendo televisão, vocês ouvem a expressão "com certeza"? Quinze, vinte, trinta vezes? Ou mais? Já perdi a conta. Você liga a tevê, um jogador de futebol é entrevistado e, tão certo como Lula estava ciente da imoralidade do seu partido e dos partidos aliados no caso do mensalão, a uma pergunta do jornalista, lá vem a resposta: "com certeza". Mas não ocorre apenas com jogador, uma categoria na qual são muito poucos os que conseguem ter um discurso articulado e que fuja da mesmice das palavras e das idéias. Também políticos, ministros, o presidente, juristas, médicos, o diabo a quatro. Até de escritores já ouvi essa expressão, que já vem sendo usada há muitos anos. O abuso já chegou a um ponto que até um boteco, aqui perto de casa, foi batizado de "Com Certeza". Parece que foi a Leda Nagle, aquela que interrompe a todo instante o entrevistado do "Sem Censura", que divulgou essas duas palavrinhas que, parece, vieram para ficar. Não tenho esperança de deixar de ouvi-la antes de morrer. Um dia desses um encanador veio fazer um serviço num banheiro do meu apartamento. Em uns dez minutos, no máximo, que conversamos, eu querendo saber a causa do problema, o encanador, aliás, muito competente, a cada pergunta que eu lhe fazia, ele iniciava a resposta com um "com certeza". Com certeza, Seu Francisco.
Houve um tempo em que se abusava de "inclusive". Ainda se usa, mas com certa parcimônia. Me lembro que meu pai só faltava ter um ataque de nervos ao ouvir essa palavra em excesso. A implicância dele era, principalmente, quando "inclusive" iniciava uma frase. Uma vez estávamos vendo tevê e um jornalista entrou pra falar sobre futebol. Papai detestava futebol, tanto quanto detestava cinema (não puxei a ele), mas ficou ouvindo atentamente a fala do jornalista, que durou cerca de dez minutos. Ao final, papai não conteve a satisfação (quase , poderia dizer, a felicidade): "Cabra bom. Não usou uma só vez 'inclusive'". E, imitando-o, quando vejo alguém ser entrevistado na tevê e, em nenhum momento, o ouço pronunciar "com certeza", me lembro do velho e digo pra mim mesmo "cabra bom".

domingo, março 05, 2006

NOITES DE CIRCO (Gycklarnas Afton/1953)


Sabe-se que um dos propósitos da arte é provocar, incomodar, remexer os sentimentos mais íntimos das pessoas, deixá-las refletir sobre o que lhes foi mostrado e revelado. É claro que o artista, às vezes, se excede, carrega demais nas tintas, e o seu intento perde muito da eficácia pretendida. "Noites de Circo", de Bergman, agora lançado em DVD, é um filme exemplar nesse desígnio da arte, sem, no entanto, pecar pelo exagero, pelo excesso. Essa história de uma companhia de um circo mambembe é composta de personagens humilhadas, sem perspectivas de melhoria em suas vidas, exploradas, expostas ao ridículo e à zombaria, e com uma tendência para o masoquismo. Embora o enfoque narrativo se concentre nas figuras do diretor do circo, Albert (Ake Gronberg), e sua jovem amante Anna (Harriet Andersson), é, a meu ver, o palhaço Frost (Anders Ex) o personagem-símbolo desses pobres viventes, vítima da infidelidade da esposa. Quando o filme começa, a leviana mulher já abandonou o marido. E numa sequência em flashback, ficamos sabendo da vergonha e humilhação a que submeteu o marido, ao se banhar, despida, num rio na companhia de oficiais do exército. E a cena em que ele retira a esposa do rio e leva-a de volta ao lugar onde o circo está armado, é uma das mais fortes já mostradas pelo cinema. O palhaço conduz a mulher, como se estivesse carregando uma cruz, e a expressão do rosto dela é a de alguém que, mais do que condenação, inspira compaixão.
Sobre "Noites de Circo" falou-se, na época do seu lançamento, da presença de um expressionismo tardio. De fato, as figuras de Albert, feio, de uma gordura balofa, de Frost, que sempre aparece com a indumentária de palhaço, do anão, do ator de teatro (com quem Anna trai o amante), seja nos gestos, seja nas expressões faciais, e ainda como presas de um destino cruell, inelutável, lembram personagens da Escola surgida nos anos vinte na Alemanha. E Anna, em certo moment, usa uma forma de penteado que chega a lembrar a Lulu de "A Caixa de Pandora", de Pabst.
Esse filme também é, hoje, considerado o marco inicial da evolução de Bergman, até às alturas em que hoje é colocado na história do cinema. No entanto, um ano antes, ele já mostrara em "Mônica e o Desejo" (com a mesma bonita Harriet Andersson), "Quando as Mulheres Esperam" e "Juventude" (o mais fraco dos três) as qualidades e as preocupações temáticas que anunciavam o nascimento do grande artista que viria a ser.
Para terminar, uma curiosidade. "Noites de Circo" representa o início da parceria de Bergman com Sven Nykvist, um dos gigantes da fotografia no cinema, que emprestou também o seu grande talento a outros (poucos) diretores, como Woody Allen, na época em que este intentou imitar o cineasta sueco.

quarta-feira, março 01, 2006

CURIOSIDADES CINEMATOGRÁFICAS

1) Um dia desses citei , aqui, exemplos de membros de famílias que trabalham (ou trabalharam) no cinema. Hoje vou mostrar alguns casos de familiares que trabalharam juntos em filmes. Em alguns casos, atuando como atores, em outros um por trás da câmera e o outro à frente da câmera. E há até os casos de Welles e Woody Allen (entre outros), em que eles exerceram as duas funções: Welles em "A Dama de Shangai". dirigindo a sua então esposa Rita Hayworth e com ela contracenando: Allen fazendo o mesmo em vários filmes com a esposa da época Mia Farrow. Eis alguns exemplos, entre tantos e tantos. Marlon Brando atuando com a irmã Jocelyn em !Quando os Irmãos se Defrontam"; Henry Fonda (em seu último filme) trabalhando com a filha Jane em "Num Lago Dourado"; os irmãos John e Lionel Barrymore em "Grande Hotel"; John Wayne atuando com o filho Patrick em "Rastros de Ódio", entre outros filmes; Charles Chaplin dirigindo o filho Sidney em "Luzes da Ribalta"; Gerard Depardieu e o filho Guillaume em "Todas as Manhãs do Mundo"; Humphrey Bogart e a esposa Lauren Bacall em "À Beira do Abismo", "Prisioneiro do Passado" e "Paixões em Fúria"; Ryan O' Neal e a filha Tatum em "Lua de Papel"; Francis Coppola dirigindo a filha Sofia (hoje diretora) em "O Poderoso Chefão 3"; Mel Ferrer dirigindo a então esposa Audrey Hepburn em "A Flor que não Morreu"; Vincente Minelli dirigindo a filha Liza em "Questão de Tempo", último filme dele (também no mesmo filme atuaram Ingrid Bergman e Isabella Rosselini, mãe e filha); Gregory Peck atuando com a filha Cecilia em "O Retrato", filme feito para a tevê; Paul Newman e a esposa Joanne Woodward em "´Delícia de um Dilema", entre outros filmes; Hitchcock dirigindo a filha Patricia em "Pacto Sinistro" e "Psicose"; Huston dirigindo o pai Walter em "O Tesouro de Sierra Madre" e a filha Anjelica em "A Honra dos Poderosos Prizzi" e em mais outros 2 filmes; Jean Renoir dirigindo o irmão Pierre em alguns filmes, entre eles "La Nuit du Carrefour"; Fellini dirigindo o irmão Riccardo em "Os Boas-Vidas"; Ford dirigindo o irmão Francis Ford em vários filmes, entre os quais o encantador "Depois do Vendaval"; e Pasolini dirigindo a mãe em "O Evangelho Segundo São Mateus". E por aí vai.
2) Em sua edição de 7 de setembro de 1952, a revista inglesa "Sight and Sound" publicou uma lista dos 10 filmes que eram os preferidos de Orson Welles. Eis , para o diretor de "Cidadão Kane", os filmes de que ele mais gostava;
1 . Luzes da Cidade (Chaplin)
2 . Intolerância (Griffith)
3 . Sciuscià/Vítimas da Tormenta (De Sica)
4. - A Mulher do Padeiro (Pagnol)
5 . No Tempo das Diligências (Ford)
6 . Greed/Ouro e Maldição (Stroheim)
7 . Nanook, o Esquimó (Flaherty)
8 . O Encouraçado Potenkim (Eisenstein)
9 . A Grande Ilusão (Renoir)
10. O Pão Nosso (King Vidor)
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Obs. (1) - Dessa lista não conheço "Sciuscià", "A Mulher do Padeiro", "Greed", "Nanook, o Esquimó" e "O Pão Nosso", exatamente a metade.
Obs. (2) Welles faleceu 33 anos depois de divulgar essa lista. Teria sido muito interessante saber se três décadas depois ele manteria os mesmos filmes relacionados naquela época. Não sei, mas tenho cá comigo que ele modificaria 2 , no máximo , 3 filmes. Ou, talvez, até mantivesse a lista.