sábado, fevereiro 25, 2006

CARNAVAL

Este texto foi publicado neste espaço, por ocasião do carnaval do ano passado. Sai aqu de novoi, por dois motivos: 1) não tenho um assunto novo para hoje, e 2) dar oportunidade a algumas pessoas que não visitavam o meu blogue, na época, o lerem. Mas aqueles que já o conhecem e quiserem comentá-lo, não façam cerimônia. E um bom carnaval para todos.
#####################################################
Não gosto de carnaval. Nunca gostei. Nunca brinquei. Mas as músicas me fascinavam e ainda hoje cantarolo algumas, principalmente as compostas nas décadas de 1930 e 40, as fases mais criativas daquele gênero musical. Até me casar, a não ser em raras ocasiões, passei o carnaval em Canindé, a cidade onde nasci. Mesmo quando já estava trabalhando, corria pra lá, na época do carnaval. Na infância e adolescência, quando começava o baile no clube, a poucos passos da minha casa, ia fazer parte da turma do "sereno", vendo os foliões pularem ao som das marchinhas e sambas. Alguns deles a gente via chegando, passando pertinho da gente, com as suas fantasias. Estas exerciam sobre mim um grande fascínio. E o lança-perfume? É um cheiro que ainda hoje sinto, apesar de nunca o ter aspirado, se posso confiar na memória. Perto de mim, ali na frente de clube, tantas vezes testemunhei um folião ensopar o lenço de lança-perfume e levá-lo ao nariz. Das fantasias nunca me esqueci das que usava um bloco de 4 ou 5 rapazes. Eles desfilavam à tarde, trepados em um daqueles jipes grandes que não mais se fabricavam nos anos 50, alugado a um médico. E montados nele chegavam ao clube, já cheios de cana. Era "A Turma do Funil", nome tomado de empréstimo a uma marchinha de sucesso.
Sempre que me lembro daqueles modestíssimos carnavais de Canindé, logo me vem à cabeça a figura de Boió. Um mulato baixo e atarracado, que, quando o conheci, tirava a subsistência com a revenda de revistas semanais que ia comprar em Fortaleza. A mais vendida, entre as mulheres, era a "Capricho", por causa das fotonovelas de procedência italiana. (Uma das minhas irmãs era freguesa de Boió e, assim, cheguei a ler muitas daquelas melosas histórias que fizeram grande sucesso naquele período.) Pois esse Boió, um sujeito calmo, trabalhador, humilde, soltava a franga quando chegava o carnaval. Brincava os quatro dias, municiado, claro, de bebida, usando uma fantasia que variava a cada ano, mas das quais só me lembro de uma que imitava úm índio. E o curioso é que brincava o seu carnaval sozinho. Seu quartel-general era a calçada de um extinto posto de gasolina, que, no entanto, conservara a mercearia. Ficava pertinho da minha casa. Do alpendre dava para vê-lo dançando sozinho, sob as vistas dos curiosos. E o mulato tinha um bom jingado. Pobres carnavais da minha infância e adolescência, mas que ficaram para sempre na minha memória.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

TABLADO SURREALISTA


O espaço de hoje deste blogue é ocupado pela poesia do querido amigo Horácio Paiva. São 3 poemas de Horatius (como gosto de chamá-lo na intimidade) , que farão parte do seu próximo livro, os quais constituem uma parte do livro denominada Tablado Surrealista. Ei-los.
#######################################
Apocalipse
As geringonças funcionaram mal:
e eis-nos às portas
do Apocalipse.
Extremoz
Extremoz é uma lagoa sagrada
onde os perus do Vaticano
vão matar a sede.
Les Mains Sales
O tempo escorria lentamente
e tudo estava tranquilo...
até Sartre roubar o meu relógio.

sábado, fevereiro 18, 2006

CURIOSIDADES CINEMATOGRÁFICAS


1) Certa vez um jornalista perguntou a Welles o que ele achava de Antonioni. E Welles, com uma cortante ironia, respondeu que nos filmes do cineasta italiano os personagens caminhavam muito. A atriz Jeanne Moreau repetiu o que Welles tinha dito, mas se referindo, especificamente, ao filme A Noite, do qual ela foi protagonista. Vi as declarações de La Moreau num especial sobre ela , apresentado pelo Eurochannel no ano passado. E pelo que ela disse, alguns membros da equipe do filme partilhavam da mesma opinião. Como o filme foi rodado durante a realização das Olimpíadas em Roma, em 1960, as pessoas brincavam com ela, comparando-a a uma maratonista que estivesse particando do evento esportivo. Mas ela recordava isso com um certo humor, sem fazer uma crítica direta a Antonioni. Uma atitude inteiramente diversa da época em que ela terminou A Noite. Numa entrevista ela revelou o seu descontentamento com o método de trabalho de Antonioni, com o seu temperamento, fatores que, segundo ela, criaram um clima pesado e desagradável durante as filmagens. Concluiu afirmando que nunca mais voltaria a trabalhar com Antonioni. E para enfatizar a decisão, disse: "Nem que me oferecessem todo o dinheiro do Banco da Itália".
Os anos foram passando e a gente via que Jeanne mantinha a decisão, embora não seja improvável que Antonioni a tivesse convidado para trabalharem juntos outra vez. No entanto, em 1995, a promessa da atriz foi quebrada. Foi em Além das Nuvens, em que Antonioni, já vitimado por um derrame, dividiu a direção com Wim Wenders. Jeanne tem uma participação especial no filme, ao lado de Marcello Mastroianni, aliás, seu parceiro em A Noite.
2) Existe um ponto em comum nas filmografias de Welles e Chaplin. Ambos só uma vez deixaram de atuar em seus próprios filmes. Em Welles foi Soberba, em Chaplin, Casamento ou Luxo? Por outro lado, se Welles trabalhou em uma infinidade de filmes de outros diretores, Chaplin só atuou nos dele. E Vittorio de Sica, outro diretor-ator, salvo engano, só trabalhou na série Pão, Amor e... entre os filmes que dirigiu.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

VERSO & PROSA

ATRIZ

Nua cavalgavas na tela iluminada
E no escuro da sala eu quis ser tua montaria.


LUA

Uma pequenina foice
À espera de ceifar estrelas?


PRESENÇA

Ficou o perfume
Quando você partiu.
##################################

A QUE CHEGA COM CERTAS MANHÃS

Lia um texto no jornal e a certa altura o autor disse algo que me trouxe uma inesperada alegria.
Uma revelação, mas feita de passagem, talvez porque , para ele, o fato não tivesse o mesmo valor que para mim. Diferentemente de quando você está conversando com um amigo ele diz de alguma coisa que lhe ocorre com certa frequência e você, surpreendido, exclama "mas isso também acontece comigo", e os dois começam a falar daquilo que têm em comum. Não, o autor disse aquilo no meio de uma frase longa, como se fora um parêntese, e, no entanto, senti uma grande alegria por saber que aquele estranho, com quem, certamente, jamais me encontrarei, e eu nos uníamos naquela ocorrência.
É o seguinte. Em certas manhãs acordo e enquanto permaneço deitado por algum tempo, me deixando envolver por um restinho de sono, chega-me, de repente, a lembrança de uma determinada música. E aí está o detalhe: não é uma música de um CD que tenha adquirido há pouco e venha ouvindo com frequência; não, é uma música que fez parte da minha infância ou da minha juventude e que nunca mais ouvi. E agora ela está nos meus ouvidos, como se viesse de um rádio, ou de outro aparelho, ali ao meu lado. Mas, ao contrário do que se a estivesse realmente ouvindo, ela não tem um tempo de duração, pois permanece grudada nos meus ouvidos, quando, enfim, me levanto e vou fazer o asseio matinal e durante uma parte do dia.
Haverá uma explicação para isso? Quem sabe o Dr. Freud tenha? Mas é até melhor que não haja, que o fato permaneça como uma desses indevassáveis mistérios da mente humana. O bom é que essas músicas, que julgava apagadas das minhas lembranças, retornem no alvorecer de alguns dias, deixando-me "ouvi-las" depois de tantos e tantos anos. E já estou pensando em qual será a próxima.

sábado, fevereiro 11, 2006

O Segredo de Brobeback Mountain (Brobeback Mountain/2005


Poucas vezes vi o cinema mostrar um amor tão intenso, que só a morte pode destruir, como o que é mostrado nesse filme de Ang Lee. Um amor nascido quando os dois, sozinhos, trabalhavam para um criador de ovelhas. E que se conserva, mesmo quando são despedidose vão tomar rumos diferentes em suas vidas, inclusive conhecendo as mulheres com as quais se casam. É tão forte o sentimento, reforçado pela atração carnal, que os une, que tanto Ennis Del Mar (Hethg Ledger) quanto Jack Twist (Jake Gyllenhaal) não conseguem amar suas respectivas esposas, mas sequer ter com elas um relacionamento amigável. E se Jack ainda consegue manter o casamento, pelo menos até a sua morte num acidente, Ennis não demora a se divorciar da esposa Alma (Michelle Williams). A incapacidade de os dois homens levarem uma vida mais ou menos feliz, condena-os à solidão, que só pode ser atenuada quando estão juntos em Brokeback Mountain, uma espécie de Pasárgada para ambos. E acho que aí está o dedo do co-roteirista Larry Mc Murtry, o mesmo de A Última Sessão de Cinema, de Peter Bogdanovich, autor também do romance em que aquele filme foi baseado. Para quem não se lembra, um dos temas tratados no filme de Bogdanovich é o da solidão.
E falando de roteiro, é preciso ressaltar a perfeita sintonia existente entre este (que tem a participação de Diane Ossana) e direção em O Segredo de Brobeback Mountain. Uma sintonia que se afirma até no que, talvez, seja o único escorregão do filme, ou seja a dispensável cena (que dá a impressão de ser uma concessão ao grande público) em que Alma surpreende o marido entre beijos e abraços com o amigo, num reencontro depois de quatro anos sem se verem. Ideal seria que Alma fosse assaltada pela suspeita de que as constantes e demoradas reuniões do marido e do amigo ultrapassem os limites de uma simples e pura amizade. Por outro lado, o sofrimento da esposa, que aparece mais de uma vez chorando, é reservado, é guardado só para si mesma. Só uma única vez ela faz um desabafo para Ennis, quando os dois já estão separados e ela está vivendo com outro. E ainda assim, é de passagem que ela toca no relacionamento do ex-marido com Jack, a quem chama de pervertido.
Essa sintinia entre roteiro e direção não significa, no entanto, que o diretor Ang Lee seja um mero administrador do roteiro. De jeito nenhum. Não me lembro de ter visto outro filme desse cineasta nascido em Taiwan e radicado nos Estados Unidos e ele me causou uma boa impressão nesse filme. Sua direção é vigorosa, quando necessário (destaque-se a cena em que Jack impõe a sua autoridade diante do sogro, que procura manobrá-lo como um títere), delicada e sensível quando é preciso. E ele sabe valorizar o silêncio em alguns momentos. Uma qualidade que ele tem, pelo menos em O Segredo de Brobeback Mountain, é a forma de dirigir os atores, extraindo deles uma forte expressividade em seus rostos. Há um momento exemplar disso, já perto do final, quando Ennis telefona à viúva de Jack, depois de saber da morte deste. Há um instante em que Ennis, comovido, fica silencioso, ela pergunta se ele ainda está ao telefone, ele, afinal, responde e se despede. A câmera pega o rosto de Lureen (Anne Hathaway) e a expressão que ela transmite nos dá a sensação de que, pela primeira vez, suspeita do que moveu o relacionamento entre aqueles dois homens.
O Segredo de Brobeback Mountain é um filme muito bom, que, inclusive, serve como um alento para o combalido cinema americano. E quem sabe se mais filmes como esse (não, claro, abordando o mesmo tema) não tirem aquele cinema do atoleiro da pobreza criativa num futuro não muito distante, atoleiro no qual se meteram até cineastas de um passado digno, honroso? Quem sabe?

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

CINEMA: Por que gosto tanto dele?


Muitas pessoas já me perguntaram a origem e a causa do meu amor pelo cinema e nunca pude satisfazer-lhes a curiosidade. Porque, simplesmente, não sei explicar. Sou filho de um homem que detestava cinema, que, tenho quase certeza, nunca viu um filme em seus quase oitenta anos de vida. Minha mãe, a mesma coisa. Sim, alguns irmãos mais velhos gostavam, mas não me lembro de ter sido incentivado por nenhum deles a amar o cinema. E a este iam por diversão, como ocorreu comigo até aí pelos vinte anos. E se meus pais não tinham o mínimo interesse por cinema, é natural que proibissem os filhos menores de o frequentarem. Por isso não frequentei, com a assiduidade de meus amigos de infância, o Cine Canindé, da minha cidade, que funcionava três vezes por semana: às quintas, sábados e domingos. Mas, apesar da proibição, eu ia ao cinema na minha infância. Escondido dos meus pais, como se estivesse cometendo um grave pecado. Mas ia. Me lembro dos seriados, dos westerns de Durango Kid e companhia e até de um gênero de filme (geralmente exibido aos domingos) que os meninos chamávamos de "filme de amor".
A memória não me deixa lembrar como conseguia dinheiro para ver os filmes. Pode ser que algumas vezes tenha me socorrido de uma das minhas irmãs, já moça-feita. Ou por um outro meio. Um dos meus amigos era filho do proprietário do cinema, talvez o homem mais rico da cidade. Mas aí a memória é generosa comigo, nunca me atrevi a lhe pedir pra me botar pra dentro do cinema do pai.
Agora, com um riso retrospectivo, menciono um expediente nada honesto para entrar no cinema. Mas isso ocorreu umas cinco, seis vezes, no máximo. Sem um tostão no bolso, sem querer perder o seriado, ou o filme de caubói, olha o que eu fazia. Me postava perto dos degraus que levavam ao porteiro e esperava, entre ansioso e amedrontado, a entrada de um grupo de pessoas. Quando isso ocorria, eu, depressa, me misturava entre elas e, sempre ligeirinho, ia procurar uma cadeira bem longe do porteiro. Uma noite ocorreu um fato engraçado. No momento em que ia entrando, talvez pela pressa, escorreguei e me esborrachei no chão, às vistas do porteiro. Este (Deus o tenha), não fez nada, até riu comedidamente e não impediu que, ao me levantar, eu fosse em frente. Foi a última vez em que entrei "de graça". Na vez seguinte (como me lembro!), apareci, altivo, de ingresso na mão. O pobre porteiro deu um risinho irônico, como quem diz hoje você vai entrar como todos os outros o fazem.
Ao encerrar este texto, em que mais uma vez não consegui explicar como fui acometido pela "doença do cinema" (como diz um personagem de Cinema Paradiso) não posso omitir o incentivo que recebi de alguns companheiros do Cineclube Tirol, . Ao ingressar nele, em 1965, quando cheguei a Natal, fui aprimorando a visão crítica do cinema, graças ao convívio com companheiros, como Gilberto Stabile, Franklin Capistrano, Bené Chaves e, claro, Moacy Cirne.

domingo, fevereiro 05, 2006

O RELÓGIO DA CONSTRUÇÃO



Um relógio existe no edifício em construção:
sem pnnteiros, vidro e algarismos.
Em seu vocabulário restrito e brincalhão,
os operários o chamam de cachorra.
É como uma haste de ferro e no topo se encaixa uma ferradura,
em que se bate com uma varinha também de ferro.
As pancadas das sete horas chamam os homens para o trabalho.
As das onze avisam que devem interrompê-lo para o almoço.
Reiniciam o serviço, quando ressoam pancadas uma hora depois.
O encarregado da cachorra, porém, não a toca,
ao final de mais um dia de trabalho.
E os operários prorrogam o seu horário,
porque o patrão tem pressa em terminar a obra.

##########################################
Este poema data de mais de vinte anos. Foi escrito numa época em que tentei experimentar a poesia, tendo chegado a escrever uns 15 poemas, num periodo de poucos. Conservei, apenas, uns 4, que me parecem os menos ruins. Não vai no que digo nenhum sentimento de falsa modéstia. Não, a poesia, para uma usar uma palavra de alguns anos atrás, não é a minha praia. Se publico este, é mais para satisfazer uma amiga da blogosfera, que se queixou, outro dia, que eu nunca publicava poemas de minha autoria. Aí está, amiga. Por fim, informo que O Relógio da Construção foi publicado numa revistinha literária de Teresina (PI) e no jornal cultural O Galo, aqui de Natal, ambos já extintos.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

VALQUÍRIIA E O MENINO


Foi assim de uma hora para outra. Quando a via, olhava para ela de um modo diferente, e sentindo despertar-lhe uma coisa nova que a sua pouca idade não poderia discernir. Às vezes ficava sem vontade de brincar com os amigos na pracinha, só querendo olhar para a moça que se sobressaía diante das amigas pelo jeito festivo, o timbre da voz, a conversa incessante. Aquela moça branca, branca como... Como o quê? Não sabia como comparar a cor da sua pele. Curioso: se não estava perto de Valquíria, não pensava nela. Era quando a encontrava (às vezes durante o dia), que aquilo lhe ocorria. E se punha determinado a não perdê-la de vista quando ela volteava pela pracinha com as amigas.
Uma noite Valquíria não estava acompanhada das amigas. Ficou com uma sensação de perda, como se um amigo lhe tivesse levado o gibi que amava, a bola que o pai lhe presenteara no último aniversário, com a qual dormia abraçado. Qualquer coisa assim. Mas não arredou pé da pracinha. Foi apostar corrida com os amigos. Num dado momento descobriu-a num banco com um rapaz. Parou de correr, num instante. Os amigos o chamavam, o xingavam, e ele ali estático, como se alguém muito forte o prendesse pelos braços. Estava a uma pequena distância de Valquíria e pôde observar que as alvas mãos dela estavam entrelaçadas com as do namorado. Não sabe o que lhe deu, para, de repente, sair da posição estática e se dirigir para o banco. Foi numa reta em direção aos dois. Para que, meu Deus? Ele próprio não saberia explicar o ato impulsivo. Ao chegar bem próximo do casal, olhou para Valquíria, ela olhou para ele e (jamais poderia imaginar a reação dela) lhe sorriu. Os dentes imaculadamente brancos, tal como a pele. Ele se voltou e saiu em disparada.
Deixou de frequentar a pracinha. Os amigos não atinavam com a causa da recusa e ele inventava desculpas que não os convenciam. Mas manteve a decisão. Chegou a ver Valquíria uma ou outra vez na rua (numa delas estava com o namorado, ele com a mão sobre o ombro dela), mas não quis olhar para o seu rosto. Ainda que fosse para receber um sorriso.
E não muito tempo depois, Valquíria foi embora, para nunca mais voltar. Um dia, à hora do almoço, o menino ouviu o pai dizer que o pai de Valquíria ia se transferir para outra cidade. Foi feito um soco na cara do menino. Terminou, às pressas, de comer, foi para o seu quarto, deitou-se na rede. E pensando em Valquíria, cantou, baixinho, uma música que tocava quase todas as noites na amplificadora, em cujos versos um homem revelava o seu amor por uma outra Valquíria.