sábado, setembro 11, 2010




Por mais de uma razão, que me poupo de revelar, o Luzes da Cidade se despede da blogosfera, após 68 meses em atividade, hoje completados. Um muito obrigado a todas  as pessoas que passaram por aqui,  ao longo desse período, mas ESPECIALMENTE àquelas que nunca deixaram de frequentar este blogue, desde que o visitaram pela primeira vez. E não poderia deixar de agradecer à querida amiga Claudinha, do Transmimentos de Pensações, pela inestimável ajuda que me prestou  sempre  que recorri aos seus préstimos para solucionar algum problema surgido neste blogue. Com o peso dos encargos inerentes  à profissão, acrescidos das obrigações de esposa e mãe, Claudinha sempre demonstrou a maior boa vontade em socorrer este analfabeto, ou quase, da Internet.

Não sairei da blogosfera, só que  agora na condição de visitante, o que farei  com a possível regularidade. Gostei muito da experiência, sobretudo por  ter me proporcionado "conhecer" pessoas da melhor qualidade humana, além de talentosas e inteligentes.   Com elas aprendi muito.
Um abraço para os amigos e um beijo para as amigas.  Um excelente restante de ano para todos.

domingo, setembro 05, 2010

PALHAÇOS

Foto :  Google


Sábado retrasado fui à festinha de aniversário dos dois anos de um neto. Gosto de ir a essas festinhas  por causa das crianças, a visão delas brincando, gritando, se divertindo me traz de volta a infância. Faz-me bem observar aqueles meninos e meninas em sua inocência, inconscientes dos problemas, aborrecimentos e dificuldades que têm os seus pais (é verdade que que estes usufruem o lado bom que a vida oferece). Mas não há dúvida de que é a infância a melhor quadra da vida de uma pessoa e não é por outra razão que o adulto, principalmente o da minha idade, está sempre a relembrar os seus momentos de criança.
Essa última festinha teve a presença de um palhaço, o que deixou as crianças ainda mais animadas e fez este sócio do clube da terceira idade transformar-se, por  alguns instantes, em  uma delas, ao se lembrar da chegada anual de um circo mambembe à sua pequena cidade. O palhaço era a principal atração da meninada, Na verdade, eram dois ou três, que, com as suas brincadeiras, entre si, levavam-nos ao delírio. Claro que eles divertiam os adultos, soltando piadas, muitas vezes impróprias para a nossa idade, mas que não entendíamos e não maculavam a nossa inocência. Um palhaço (talvez o principal)  criava um bordão, ou mais de um, que era repetido no dia a dia dos habitantes da cidade, até mesmo quando o circo ia embora.
Tenho uma lembrança recorrente de um dessas figuras que levam as pessoas ao riso franco e tão saudável, sobre as quais Fellini fez um filme. Era anão, de um moreno acentuado e gordo. Me recordo dele percorrendo as ruas na distribuição de folhetos para a apresentação do circo à noite. Os meninos à sua volta, os mais brincalhões mexendo com ele e a sua reação era fazer alguma graça que nos provocava gargalhadas.
Mas o palhaço, só o sabemos quando crescemos, é, em geral, um ser triste, quando não está no picadeiro ,fazendo as pessoas rirem., e têm que enfrentar a vida lá fora. Há um quadro impressionante do pintor francês Georges Rouault (1871-1958). que mostra três palhaços com uma expressão de tristeza de fazer dó.  Já o escritor argentino Ernesto Sabato, no seu livro de memórias "Antes do Fim", narra um fato que presenciou, quando menino,  e que lhe ficou gravado na memória: o suicídio do palhaço Scarpim y Bertoldito em plena apresentação da peça "Espectros" (segundo o escritor, ele gostava de  interpretar  personagens trágicos), ingerindo uma porção de um veneno, "enquanto o público aplaudia inocentemente".   
Voltando à festinha de aniversário, em dado momento fui ao local onde o palhaço se apresentava. Havia uma "casinha" de madeira, com uma "janelinha", onde aparecia um boneco de engonço. Ao lado havia a coadjuvante do palhaço,  bonitinha e muito jovem. Pela voz do palhaço, o boneco dialogava com a mocinha, cada um deles pedindo a manifestação quando um dizia algo do outro. Todas sentadinhas, as crianças interagiam com a dupla. Fiquei observando atentamente aquele espetáculo e, confesso, me emocionei. Me emocionei ao ver aqueles meninos e meninas que, por alguns momentos, tinham deixado de lado os video games  e a televisão (e, alguns, talvez, até a Internet) para assistirem a algo novo para eles,  um divertimento  que extrai  o seu encanto através  da simplicidade,   até mesmo, diria , de uma  certa simploriedade,  e com  isso acontece a comunicação com a plateia. Eles que, ao contrário dos avôs, jamiais entraram num circo (jamais entrarão) e se depararam, entre outros atrativos,  com a arte do palhaço.  

domingo, agosto 29, 2010

A GRETA GARBO DO JAPÃO

 Setsuko Hara em "O Idiota", de Akira Kurosawa (1951)


Em 1963 a atriz japonesa Setsuko Hara decidiu abandonar o cinema. Tinha 43 anos e 28 de carreira,  iniciada em 1935.  E por ter o seu filme de estreia no cinema alcançado  um enorme sucesso, a companhia produtora achou por bem mudar o nome da atriz (Masae Aida) para Setsuko, o mesmo do personagem que ela interpretava. E como Tetsuko Hara, a atriz, mercê do talento e da beleza, transformou-se, no correr dos anos, em uma das mais queridas e admiradas pelos cinéfilos e críticos do Japão. Por causa disso, a sua aposentadoria precoce deixou  os fãs chocados, perplexos e assim como órfãos.Para piorar, a justificativa que ela apresentou não os convenceu e até - possibilidade em que  eles próprios jamais pensaram - lhe fizeram sérias críticas.  A esse respeito, eis o que escreveu o crítico Donald Richie (1): "Não teve a polidez de criar uma ficção relativa a problemas de idade - ela tinha apenas 43 anos - , a saúde debilitada, algum desejo ardente de se entregar a obras de caridade, a um mandamento espiritual de entrar para um convento. Nada disso - apenas uma declaração que soava como a verdade nua e crua".  A justificativa de Setsuko foi que "nunca havia gostado de fazer filmes, que os fizera meramente para sustentar uma família numerosa, que nada de seu desempenho como atriz lhe parecera bem e, agora que a família estava em boa situação, não via razão para continuar fazendo algo que não a interessava". Essas palavras feriram fundo os seus fãs, como uma punhalada nas costas. De repente, eles se sentiam como que logrados ao amar uma atriz que revelava que exercera a sua profissão não por vocação, mas como uma forma de dar sustento a uma família. E aí, de amada, ela passou a ser odiada. E entre os ataques  que recebeu, houve inclusive o que fazia insinuação sobre a sua sexualidade. É que Setsuko nunca casou, nunca se soube de nenhum caso amoroso seu, tudo indicando que mantém a virgindade até hoje, já velhinha, com 90 anos completados em junho passado.
Essa entrevista marcou sua última aparição em público. Tornou-se uma reclusa, só saindo para fazer compras e  em sua casa só recebia as poucas amigas. E quando um jornalista, descobrindo a sua casa,  aventurava-se a ir procurá-la, tinha a porta fechada na cara. A sua experiência no cinema ensinou-a  manter-se a uma estratégica distância dos fotógrafos, de maneira que nas fotos tiradas  Setsuko não aparecia com a nitidez que  comprovasse que ela era mesma a fotografada. Nos primeiros anos de aposentadoria recebeu ofertas  milionárias da sua produtora para voltar a trabalhar, mas recusou todas. 
Também em 1963 ocorreu um importante fato com outra pessoa ligada ao cinema: a morte de Yasujiro Ozu, no dia em que faria 60 anos. Ele foi um dos três maiores diretores do cinema japonês (há os que o consideram  o maior deles), ao lado de Kenji Mizoguchi e Akira Kurosawa. Setsuko Hara foi a atriz preferida de Ozu, com quem fez 5 filmes, entre eles as obras-primas "Pai e Filha" (1949) e "Contos de Tóquio" (1953), sobre as quais escrevi aqui. Pois bem. A atriz comunicou a decisão de se retirar do cinema poucos dias depois da morte do diretor. Teria essa decisão repentina  e nunca esperada a ver com a morte do cineasta, que também nunca casou, vivendo na companhia da mãe viúva? Ou foi uma simples coincidência?   Não sei  se, no Japão, alguém tenha levantado a hipótese de exisitir uma relação entre os dois fatos, mas sei que por lá circula a informação de que Setsuko mora em Kamakura, região que faz parte da grande Tóquio, na qual foi rodado "Pai e Filha" e onde se encontra o túmulo de Ozu.

(1) Publicado no livro "Emoção e Poesia - o cinema de Yasujiro Ozu", edição do Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2010. 

domingo, agosto 22, 2010

15 FILMES DE GRANDE FINAL (3) *

O garoto Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) no final de Os Incompreendidos.


- Glória Feita de Sangue (Stanley Kubrick)
-  Mephisto (Istvan Szabo)
-  O Delator (John Ford)
-  Na Teia do Destino (Max Ophuls)
-  A Conversação (Francis Ford Coppola)
-  Fale com Ela (Pedro Almodóvar)
-  Ladrões de Bicicletas (Vittorio De Sica)
-  Os Esquecidos (Luis Buñuel)
-  A Época da Inocência (Martin Scorcese)
-  Os Incompreendidos (François Truffaut)
-  Ser ou não Ser (Ernst Lubitsch)
-  Verão Violento (Valerio Zurlini)
-  O Eclipse (Michelangelo Antonioni)
-  Punhos de Campeão (Robert Wise)
-  Teorema (Pier Paolo Pasolini)


* Sem ordem de preferência.



"ALÔ, MinC


É pena. O Cine Edgar, único de Cataguases, MG, terra de Humberto Mauro, que exibiu ali o seu primeiro longa Na Primavera da Vida, em 1926, está para virar... supermercado.
Uma turma fez um curto manifesto que será exibido em canais abertos e em festivais".
(Ancelmo Gois em seu blogue Ancelmo com, em O Globo, edição de 17.08.10.)
 


                         

 

sábado, agosto 14, 2010

DA JANELA

Foto : Google



Tenho o costume de ficar à janela do meu "escritório", observando o que se passa lá fora. No verão, quando o sol e o calor me obrigam a saltar mais cedo da cama, vou para a janela e vejo pessoas, muitas pessoas, fazendo a sua caminhada. Vêm sozinhas, em grupo, e há delas que vão trotando, ou até correndo. Gente de várias idades. Mais tarde, depois de dar uma passada pelo computador e tomar o café, volto à janela. As funcionárias de um escritório de advocacia vão chegando, uma a uma,  para o trabalho. Usam o mesmo tipo de vestuário, como se fosse um uniforme. Se chego um pouco antes, ainda consigo ver adolescentes dos dois sexos indo para a escola. A rua já se faz barulhenta, com o trafegar de ônibus, carros, motos e suas buzinas. E gente passando apressada para enfrentar a luta cotidiana.
No inverno, em dia que chove forte, o trecho da rua se transforma em um pequeno rio. Os veículos trafegam com cuidado, mas já vi um ou outro que não conseguiu atravessar o aguaceiro e ficou ali parado. Mas se a chuva não é prolongada, pouco tempo depois a água é escoada, restando apenas a lama.

Veem-se coisas curiosas, bizarras. Uma vez apareceu uma mulher, já bem entrada em anos, fazendo a sua caminhada vestindo um... maiô! Tibes! Outra vez, era feriado, um cavalo permaneceu um bom tempo "pastando"
                                                                                                                      
em um canteiro, indiferente à passagem de veículos, Fiquei observando aquele animal, que devia estar se sentindo em um local tão diferente daquele a que está acostumado. Tive que atender um telefonema e, ao volta, o cavalo tinha ido embora. Talvez estivesse em outra rua, atrapalhando o curso dos veicúlos, disputando lugar com aquelas coisas estranhas e barulhentas.
Ainda estamos na época das chuvas, embora elas já não apareçam com muita frequência. E que prazer sinto quando, noite avançada, estou a ler um livro na minha cadeira de balanço, escutando o som da chuva! Em certo momento suspendo a leitura, me levanto e vou para a janela. A água caindo por sob a luz dos postes proporciona uma visão de pura beleza. Olho para os dois edifícios vizinhos, à minha frente. Estão quase às escuras, só em três, quatro janelas vê-se a claridade de um aparelho de televisão. E prazer maior sinto quando vou me deitar e a chuva continua, mantendo o friozinho gostoso, convidando- me ao sono.

domingo, agosto 08, 2010

AS IRMÃS SOBRAL


Eram sete irmãs: Filó, Joaninha, Naninha, Francisquinha, Mercês, Maria e Belinha, as duas últimas não alcancei. E dois irmãos, Manoelzinho, que também não conheci, e João. Ou mestre João Sobral, como alguns o chamavam, por fazer parte da banda de música da cidade, aliás, o líder, o chefe. Todas morreram solteiras, como também o Manoelzinho. João parecia fadado a ter o mesmo destino das irmãs e do irmão, mantendo um namoro que se arrastava por anos sem conta, até que um dia decidiu casar. Já passara dos cinquenta, mas, graças a ele, a família Sobral não morreu sem deixar herdeiros.
A minha família e as Sobrais estabeleceram um vínculo duradouro, iniciado pelo fato de serem vizinhas durante muitos anos. As duas casas ficavam na rua do Fogo (assim chamada, ao invés do nome oficial, que nem lembro qual era) e lá aquelas solteironas moraram a vida inteira. Dentre elas, no entanto, foi a Filó quem teve uma relação mais forte com a minha família, baseada na afeição que teve com a Sônia, a mais nova das minhas três irmãs, desde que esta nasceu. Contou-me um irmão, bem mais velho do que eu .que, até aí pelos sete anos da Sônia, era a Filó que a colocava para dormir, balançando a rede e cantando até fazê-la cair no sono.
Filó era, delas todas, a que mais dava motivos para o divertimento das pessoas. O principal desses motivos era o seu desejo de casar, que, parece, não era compartilhado pelas irmãs, pelo menos de forma manifesta. Houve dois casos que mais atiçaram os brincalhãos: o assédio por ela feito a dois rapazes que vieram morar em Canindé, com uma diferença de alguns anos. Os dois acabaram se casando com outra. E no caso do segundo, a frustração da Filó deve ter sido pior, pois a escolhida foi uma moça já trintona, que talvez já tivesse perdido a esperança de não sair do caritó. Pobre Filó, que queria tanto bem à minha irmã, como a uma filha! Além da idade avançada, faltavam-lhe atributos de beleza e, para piorar, entremeava as conversas com um desagradável fungado.
Por ser muito criança, não me lembro da fase em que as irmãs Sobral se viciaram no jogo do bicho, soube disso por esse mesmo irmão, que recheou o fato com detalhes, como o da circulação de uma quadrinha anônima, que dizia assim: "As Sobrais não rezam mais/Não se lembram mais de Deus/De manhã, 'que bicho dá'?/De tarde, 'que bicho deu' "? E ele, se aproveitando da minha pouca idade, me instruiu a responder à Naninha, quando ela me pediu certa manhã um palpite sobre qual o bicho que ia dar naquele dia, que seria o rato, um animal que não existia no jogo do bicho. Naninha parece que, delas, era a mais vulnerável ao vício. Era meio antipática, algo irritadiça e tinha no rosto um sinal preto e um tanto volumoso.
A minha Sobral preferida era a Joaninha, que era a mais bonita delas. Quero crer que gostava dela porque ela se afeiçoou a mim, desde que nasci, tal como aconteceu com a Filó em relação à minha irmã. Já mais crescido, aparecia no seu local de trabalho e ela sempre tinha algum mimo pra me dar, às vezes, até um dinheirinho. Quando rapaz, já trabalhando, quando ia a Canindé nunca deixava de visitá-la. Calma, falava baixo e pausado, tão diferente da Filó.
As irmãs Sobral se destacaram na paisagem humana da minha cidade, como tantas e tantas outras, das quais a gente se lembra com saudade.

domingo, agosto 01, 2010

FILHOS DO PARAÍSO (Bacheha-Ye aseman/1997)




Já em suas imagens iniciais, "Filhos do Paraíso" anuncia o móvel que norteará a sua história: um sapateiro consertando o par de um sapato feminino, a ele levado pelo garoto Ali (Amir Farrokh Ashemiar), pertencente à sua irmã Zahra (Bahare Saddigi). O extravio do sapato, que é recolhido pelo lixeiro na loja em que Ali está para comprar batatas, irá acarretar um grande problema para as duas crianças. Para Zahra, porque, sem o sapato, não poderá frequentar a escola, e , para Ali, responsável involuntário pela perda do objeto, porque teme que a irmã cumpra a ameaça de contar ao pai o sucedido. E a partir daí, os dois irão passar por situações impróprias para a sua idade, vivenciando-as como se já fossem adultos.
Esse precoce rito de passagem da infância para a idade adulta é a principal qualidade desse filme iraniano dirigido e escrito por Majid Majidi. Há o constrangimento inicial de Zahra de usar o tênis do irmão entre suas colegas que usam sapatos próprios do seu sexo, até ela ver que umas poucas também calçam o mesmo sapato e ainda receber o elogio da professora. O problema maior é para Ali, que tem que esperar a volta da irmã da escola, para com ele ir para a escola. Quando Zahra demora, ele chega atrasado para as aulas e é admoestado pelo diretor. Na terceira vez, o diretor não o deixa entrar e é preciso a intervenção de um professor para que ele não volte para casa.
Esse "amadurecimento" dessas duas crianças as torna pessoas tristes, que não brincam, principalmente o garoto. Há uma brincadeira entre elas quando lavam o tênis, divertindo-se com a formação de bolas de água, que, sopradas, se espalham no ar, proporcionando um momento bonito até mesmo plasticamente.
A água, aliás, tem uma presença destacada no filme, exercendo provavelmente uma função simbólica. Ela está no final - um final bem elaborado, com os pés feridos de Ali pela corrida organizada pela escola, da qual ele sai vencedor (um vencedor, paradoxalmente, frustrado porque ele almejava o terceiro lugar, cujo prêmio era um tênis, que iria presentear a irmã) mergulhados na água e tocados pelos peixinhos.
A correria de Ali (sobretudo) e de Zahra, para que o primeiro possa chegar a tempo à escola, é também um elemento simbólico, culminado pela apresentação da corrida. É o esforço físico despendido para superar as suas condições de vida, tanto mais difíceis em países, como o Irã, onde os ricos são mais ricos e os pobres ainda mais pobres (o pai deles sobrevivendo de eventuais serviços, devendo à mercearia e ao proprietário da modestíssima casa). Por sinal, há uma sequencia em que é mostrada essa desigualdade social e econômica, quando Ali e o pai vão de bicicleta à parte de Teerã onde vivem os muito bem sucedidos na vida, à cata de um serviço de jardinagem.
"Filhos do Paraíso" é um filme que emociona, comove, mas que consegue muito bem driblar o sentimentalismo e a pieguice. Afirma a posição do cinema iraniano entre os melhores cinemas do mundo atual, apesar das dificuldades por que passam os seus cineastas para levar adiante os seus projetos. Dificuldades não apenas financeiras, mas também (e certamente a mais grave) motivadas por uma censura vigilante e forte. Mas eles (os diretores) vão em frente, como esse Majid Majidi, que fez um belíssimo filme, com qualidades que incluem a de extrair um grande desempenho do casal infantil. E como se sabe, não é tarefa fácil dirigir criança.