sexta-feira, agosto 31, 2007

TRIO


1) Foi no lançamento do livro de um contista cearense, radicado em Mossoró, no interior do Estado. Depois de obter o autógrafo do autor, fui me reunir com Bené Chaves, Bartolomeu Correia de Melo e esposa. Conversa puxando conversa, em dado momento entrei no assunto desse chamado politicamente correto. Essa invenção de substituir o uso de certas palavras por outras, com a intenção de não ferir ou melindrar pessoas, ou até de eliminar, se é que isso é possível, preconceitos. Como no caso de chamar de negro alguém de cor. Sei que existe preconceito de cor (ou racial) neste país cada vez mais cheio de bandalheiras, mas muitas vezes se diz "nego", ou "neguinho", ou "nega", ou "neguinha" sem que haja o intuito de ofender. Bom. O certo é que cego passou a ser "deficiente visual", surdo, "deficiente auditivo" e por aí vai. Que me perdoem os que não pensam como eu, mas acho isso , além de bobo, pedante. E foi então que Bartolomeu, que além de excelente contista, (os amigos/amigas visitantes deste blogue já tiveram a chance de apreciar a sua prosa) , a maior revelação de ficcionista no RN nestes últimos anos, é muito brincalhão, divertido, uma pessoa com quem vale a pena conversar, saiu-se com esta: "E corno agora não é mais corno. É chamado de terceirizador de serviços conjugais". "Como é, Bartola", perguntei. Ele repetiu: "Terceirizador de serviços conjugais". Não pude controlar a risada.
2) Ao sairmos de casa, nos deparamos com coisas das mais variadas espécies. E não raro com a má educação daqueles que se sentem donos do mundo quando estão dirigindo. Esta semana presenciei uma cena curiosa. Próximo do final da tarde me dirigia para o centro da cidade, através da rua Trairi, quando fui obrigado a parar o carro em frente a uma escola. Um carro já estava parado à frente do meu. Um grupo de criancinhas, de 3 pra 4 anos, no máximo, iam saindo da escola para atravessarem a rua. Deviam ser umas quinze, dos dois sexos, por aí. Elas caminhavam em fila indiana, cercadas por uma corda, que era puxada por uma professora. De tão curioso vendo aquelas coisinhas (perdoem o "politicamente incorreto") caladas, levadas pela mulher, tive vontade de saltar do carro pra satisfazer a minha curiosidade. Mas era impossível, a rua é movimentada e já havia outros carros atrás. Mas até agora fiquei com aquela cena na cabeça e me perguntando o que ela significava.
3) Passam semanas, passam meses, e a programação dos cinemas dos shoppings Midway e Praia Shopping continua ruim. Já nem me lembro qual foi o último filme que vi na telona. E 99,99% constituída de filmes americanos. Só um ou outro filme brasileiro, quase sempre de uma qualidade que não nos anima a sair de casa. Filme europeu, ou asiático, nem pensar. Só se for um de Almodóvar. Até uns 3, 4 anos atrás, um dos 2 cinemas do Natal Shopping apresentava uma chamada sessão de arte, às terças, 21 horas. Nem sempre eram filmes "de arte", mas, de todo modo o filme ali exibido era uma opção para pessoas que não apreciam baboseiras. Mas resolveram fechar os dois cinemas. E, então, ficamos órfãos de filmes de qualidade. Como não há solução à vista, o jeito é recorrermos às vídeolocadoras ou adquirir DVDs. É uma lástima, como gostava de dizer o meu pai.

sábado, agosto 25, 2007

O ALUCINADO (El/1953)


É junto com "If"... (1968), de Lindsay Anderson, o título de filme mais diminuto da história do cinema, o mesmo, aliás, do livro da escritora espanhola Mercedes Pinto, do qual o filme é adaptado. E o mais bizarro. Como se sabe, "El" corresponde ao nosso "O". "O" o quê? No caso, refere-se ao personagem Francisco Galvan (Arturo de Córdova), e o fato de não haver nenhuma palavra que complete o artigo, como no título em português, oferece ao espectador a oportunidade de situar Francisco em algumas características próprias de um homem mental e psiquicamente enfermo. Não é apenas a questão do ciúme doentio. Na verdade, à medida em que a história se desenvolve, ele vai se desvendando ao espectador como um paranóico, um fetichista, e com uma frequente oscilação de humor no relacionamento com a esposa Gloria (a bonita e fina Delia Garcés), que num piscar de olho pode passar do afeto para a agressividade até física. Além disso, Francisco é vítima de uma idéia fixa, a de recuperar antigos terrenos da família desapropriados.
"O Alucinado" começa numa igreja. É a época da Semana Santa e está sendo realizada a cerimônia de lava-pés. Francisco está entre os homens que auxiliam o padre, colocando a água na bacia. A câmera flagra o olhar atento de Francisco para os pés que são lavados e, em seguida, desloca o seu olhar para os sapatos de Gloria, primeiramente juntos com os de outras mulheres e depois se detendo nos dela.
É bem de Buñuel que a paixão de Francisco por Gloria se inicie numa igreja e que ele seja um homem religioso. O seu anticlericalismo leva-o a criticar a outra face daqueles homens que têm a religião como uma fachada para merecerem o respeito e a admiração das pessoas, sobretudo as do clero. O padre jamais irá acreditar em Gloria quando ela vai lhe relatar a conduta cruel, perversa e violenta do marido. Nem a própria mãe dá credito às suas queixas. Somente Raul (Luís Beristáin), o ex-noivo, acredita nela. Aliás, o reencontro dos dois, a partir do qual, por meio de um flashback, Gloria conta o seu relacionameno com Francisco, me parece algo artificial, inclusive com um toque de melodrama (ela é quase atropelada pelo carro que ele dirige), um escorrego do roteiro escrito por Buñuel, em parceria com Luís Alcoriza.
É na mesma igreja que o estado psíquico e mental do personagem atinge o grau máximo. Em um casal que avista entrando na igreja ele acredita que são Gloria e Raul e vai atrás deles. Vendo que se enganara, deixa-se ficar num banco e, a partir de um dado momento, começar a "ouvir" e a "ver" dos fiéis risadas e gestos zombeteiros. Quando "percebe" que o velho padre, tão seu amigo, participa também da assuada, não se contém e parte para agredir o sacerdote. É quando este conclui que o seu amigo está muito enfermo.
"O Alucinado" é um filme na medida para os que se dedicam à psiquiatria e à psicanálise. Jacques Lacan, por exemplo, tinha um grande apreço por ele, conforme o demonstrou numa longa conversa com Buñuel. Lacan, inclusive, participou de uma sessão do filme, cujos espectadores eram todos seus colegas. É o que o diretor revela no seu livro "O Meu Último Suspiro".
Não podemos saber até que ponto a construção do personagem pertence à autora do romance e a parte que cabe a Buñuel, já que não conhecemos o livro. Mas pelo que conhecemos da filmografia do espanhol, que passou grande parte da sua vida no México e lá faleceu, ele certamente acrescentou ingredientes à composição desse doente Francisco Galvan. E a sua marca autoral é percebível, sobretudo, no propósito de, através do personagem, incomodar, perturbar, causar impacto no espectador, o que ele fez desde o seu primeiro filme, "Um Cão Andaluz", em 1928. Se isso é uma das funções da arte, Buñuel é um dos seus mais expoentes arautos.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que a presença forte da religião no filme, que começa e termina num local religioso (no caso do final, num mosteiro, onde Francisco foi parar, depois de se tratar numa clínica), é da responsabilidade dele. E a cena que encerra "O Alucinado", com Francisco vestido de monge, com o capuz cobrindo a cabeça, caminhando em ziguezague, é buñueliana por excelência.

sábado, agosto 18, 2007

20 ANOS SEM CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Completaram-se, ontem, 20 anos da morte de Drummond. Não vou falar do poeta, que grande parte da crítica considera o maior da literatura brasileira; não só porque tudo já foi dito sobre a sua poesia, mas também por me faltar a autoridade de inúmeros exegetas que sobre ela se debruçaram. Acho necessário falar alguma coisa do homem, que foi também extraordinário, do pouco que sei dele.
Há poucos dias li no saite do Estadão uma matéria que tratava da amizade de Drummond com o marido da sua filha Julieta, uma amizade que continuou mesmo depois da separação do casal. E que teve início quando o argentino Manuel Graña Etcheverry escreveu a Drummond comunicando a decisão de se casar com a filha dele. É uma carta em que o insólito, o inusitado, o imprevisível dão o tom. É que ao se dirigir ao já consagrado poeta, ao invés de assinalar as suas qualidades, Etcheverry optou por revelar ao futuro sogro todos os seus defeitos. Uma só das suas qualidades, que tivesse, foi omitida. Pois bem. A atitude daquele homem retratando apenas o seu lado negativo conquistou o coração do poeta e este o demonstrou na resposta imediata à carta. Ainda vivo, com 91 anos, Etcheverry fala comovido do amigo. Do respeito deste pela vida até de um inseto ("quando aparecia uma barata, ele a empurrava suavemente com um jornal, até que ela saísse para a rua") e do gesto com que Drummond o distringuiu, escolhendo-o para tradutor da sua poesia para o espanhol.
Drummond, o simples. Uma vez um colega, também mineiro, que viera transferido para Natal, me disse que quando trabalhava no Rio, viu muitas vezes o Poeta esperando pacientemente numa fila enorme para ser entendido. Aqui nesta cidade do Natal existe poeta que não tem condição de amarrar os cordões dos sapatos de Drummond que jamais passaria pelo desconforto de passar muito tempo numa fila. E ele há muito um nome consagrado, reverenciado até pela crítica estrangeira. Quando quiseram colocar uma placa com o seu nome na rua onde morava em Copacabana, não houve quem o fizesse aceitar essa pequena, mas justa, homenagem. Também recusou o prêmio de Intelectual do Ano que lhe outorgaram em certa ocasião. E convidado dezenas de vezes para ingressar na Academia Brasileira de Letras, manteve-se firme na sua decisão de não se tornar um "imortal".
Drummond, o corajoso. Em 1965, ou 66, Nara Leão, outra corajosa, criticou a ditadura militar e correu o risco de ser enquadrada na chamada Lei de Segurança Nacional. Ele, nas páginas do Jornal do Brasil, em que escrevia a sua crônica semanal, fez um longo poema defendendo Nara e prestando-lhe a sua valiosa solidariedade. Quando completou oitenta anos, recebeu um balaio de cartas parabenizando-o pela data e respondeu a todas. Um pouco antes este beradeiro de Canindé lhe enviou um livro e dele recebeu uma cartinha, pouco mais de um bilhete, agradecendo a remessa do livro e me estimulando com um generoso elogio.
Em meio a várias comemorações pelos vinte anos da morte de Drummond, será lançado, no próximo ano, um documentário sobre ele, concebido e realizado pelo neto Pedro e Maria de Andrade, filha do cineasta Joaquim Pedro de Andrade, o mesmo que, inspirado num poema de Drummond, realizou o seu melhor filme, "O Padre e a Moça".
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Drummond e "A Aventura", de Antonioni.
O Poeta era um grande cinéfilo. Greta Garbo era o seu xodó entre as atrizes. Adorava Chaplin, sobre quem escreveu o belíssimo "Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin". A título de curiosidade, veja-se abaixo o que ele escreveu sobre o filme do cineasta recentemente falecido. O comentário faz parte do livro "O Observador no Escritório" (Editora Record/2006), uma publicação de um diário que ele manteve entre os anos de 1943 a 1977.
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"Outubro, 29 [1961] - L' Avventura, de Antonioni, no Art-Palácio. Sem dúvida um filme excepcional, mas que nos deixa insatisfeitos. A mestria técnica e a beleza das imagens servem a uma história que não chega a impressionar, como se faltasse um elemento de vida autêntica às personagens ou ao diretor que as movimenta. A busca de Ana, na ilha, não é uma busca, mas um e vir inconvincente. De resto, em nenhum momento do filme tive a sensação de busca. Antonioni descreve os movimentos do amor sem participar deles nem pretender, aparentemente, que os espectadores participem. Não obstante a extensão do filme e a monotonia de algumas cenas, mantive-me interessado - não sei como consegui. Talvez nos sintamos obrigados a admirar um criador de arte, mesmo quando ele não nos satisfaz plenamente".

sábado, agosto 11, 2007

A POESIA DE LI PO


O amigo Horácio Paiva, poeta, de quem já publiquei aqui diversos poemas, me enviou 4 poemas do poeta chines LI PO (701-762), com tradução de José Jorge de Carvalho. Ei-los.
O TEMPLO DO CUME
Passo esta noite no Templo do Cume.
Aqui eu poderia apanhar as estrelas com a minha mão.
Não ouso alçar a voz em meio ao silêncio,
com medo de perturbar os habitantes do céu.
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A MONTANHA CHING-TING
Bando de pássaros revoaram alto e distante;
um floco solitário de nuvens cruzou o azul.
Eu me sento sozinho com o Pico Ching-Ting,
imponente em seu cume.
Jamais nos cansamos um do outro,
a montanha e eu.
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OLHANDO AS CATARATAS NO MONTE LU
A luz do sol queima o Pico do Incenso
e faz surgir uma fumaça violeta.
De um ponto distante observo a catarata
mergulhar no rio imenso.
Vejo as águas em vôo descendo mil metros em linha reta
e me pergunto se não é a Via Láctea que se precipita
da nona esfera do céu.
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BEBENDO À LUZ DA LUA
Um jarro de vinho entre as flores,
bebo sozinho - nenhum amigo me acompanha.
Alço minha taça, convido a lua
e minha sombra - agora somos três.
A lua não bebe
e minha sombra apenas imita meus gestos.
Mesmo assim, são elas as minhas companhias.
É primavera, tempo de festa -
canto, a lua escuta e cintila;
danço, minha sombra se agita, animada.
Enquanto estou sóbrio, juntos estamos os três;
quando me embriago, cada um segue seu rumo.
Selamos uma amizade que nenhum mortal conhece.
E juramos nos encontrar no mundo além das nuvens.

sábado, agosto 04, 2007

BERGMAN E ANTONIONI


Conheci primeiro o cinema de Antonioni, com aquele que é considerado por muita gente o seu maior filme: "A Aventura". E não gostei. Por certo porque carecia do conhecimento estético e da visão crítica daquele tipo de filme, embora já tivesse o interesse voltado para filmes que não visassem apenas ao sucesso comercial. Isso ocorreu quando ainda morava no Ceará e só uns 40 anos depois fui revê-lo em DVD, e aí pude perceber a sua grandiosidade. A única restrição que faço a ele, nas duas vezes em que o revi, é quanto à extensão da sequência na ilha, que me parece um tanto longa. Com poucos dias da minha chegada a Natal, vi "A Noite", que foi debatido numa reunião dos sócios do Cineclube Tirol. Não fiquei tão entusiasmado quanto os meus colegas pelo filme, mas a impressão foi infinitamente mais favorável do que sobre "A Aventura", visto 2 ou 3 anos antes. E vieram "O Eclipse", "O Grito" (que coloco logo depois de "A Aventura"), "Blow-Up" (exibido na sessão do Cinema de Arte promovido pelo Cineclube Tirol, antes de ser lançado no circuito comercial), "O Dilema de Uma Vida" e outros.
Deve ter sido em 1966 que fui apresentado a Bergman. Era "A Fonte da Donzela", que, se não me decepcionou, não me entusiasmou. Esperava muito mais de um cineasta de quem ouvia as melhores referências. E quando o revi em vídeo, a impressão foi quase a mesma. Tenho a convicção, e acho que não é só minha, que é um dos filmes menores dele.
Bergman e Antonioni. Qual foi o maior? Difícil dizer. Aí é uma questão subjetiva, pessoal. A mim, por exemplo, agrada bem mais o cinema do sueco, mas gosto de alguns filmes do italiano, inclusive de sua estréia no longa, "Crimes d'Alma", que vi em vídeo. O que é inquestionável é que ambos fazem parte do Olimpo cinematográfico. Sem eles, o cinema-arte teria sido menos rico. Quais outros dos seus pares seriam capazes de criar obras como as já citadas de Antonioni, e, de Bergman, "Morangos Silvestres", "O Silêncio", "O Sétimo Selo", "Persona", "Gritos e Sussurros", "Noites de Circo", "Fanny e Alexandre", além de outras inferiores a estas, mas, ainda assim, de qualidade?
Um fato que chama a atenção em Bergman é que sendo também um artista de teatro, tendo dirigido, segundo consta, 125 peças, os seus filmes não tenham a influência da linguagem teatral, como acontecia com alguns filmes de Visconti, também ligado ao teatro, inclusive o operístico. E curioso: o Bergman de filmes que abordavam temas como a morte, a velhice, os conflitos familiares e amorosos, os sentimentos, foi capaz também de fazer rir quando tentou a comédia. Só conheço uma delas, mas é um belo exemplo daquele tipo de humor fino, inteligente. Estou me referindo a "Sorrisos de Uma Noite de Amor". Já Antonioni me parece improvável que se saísse bem numa obra de humor e acredito que essa experiência jamais lhe passou pela cabeça.
Por outro lado, uma certa parte da filmografia de Antonioni, a começar pelos curtas, revela uma preocupação social (em "O Grito", p ex, já perto do fim, há um movimento dos habitantes da cidadezinha contra a construção de uma pista para aviões, infiltrando-se no drama existencial do personagem principal), e até política, a qual não interessava a Bergman. (Só em "O Ovo da Serpente", rodado na Alemanha, ele se engajou num projeto político, ao mostrar o embrião da barbárie nazista. E se em "Vergonha" existe um posicionamento anti-belicista, este é assumido pelo efeito moral que uma guerra, nunca mostrada e sem local nem época identificados, causa a um casal de artistas, que é progressivamente envolvido pelo conflito.)
Qual o maior Bergman? Aí de novo a questão subjetiva. Pode ser "Persona", um exemplar confronto entre uma enfermeira que assiste uma atriz-paciente que abdica do uso da voz e do contato com o mundo, com interpretações das maiores já vistas no cinema de Bibi Andersson e Liv Ulmann, feito com um rigor formal e estilístico - um filme em que, inclusive, é exposto o processo da criação artística. Pode ser "Gritos e Sussurros", uma obra perturbadora que, em alguns momentos, chega a causar mal-estar, com um maravilhoso emprego da cor vermelha. Esta, como muito bem observou Moacy Cirne em seu livro "Luzes, Sombras e Magias - Os filmes que fazem a história do cinema" (Sebo Vermelho/2005), se converte em um personagem, revestido de uma "significação emblemática". Personagem, sim, por envolver a vida daquelas três irmãs, uma já condenada à morte. Uma cena de maior impacto da presença do vermelho é aquela em que Ingrid Thulin, na cama e fitando provocadoramente o marido à sua frente, lambuza o rosto com o sangue retirado da vagina que ela ferira com um pedaço de vidro. Uma cena que comporta mais de um tipo de interpretação.Pode ser "Morangos Silvestres", uma análise da velhice e da morte, concentradas na figura de um velho professor, talvez o seu filme mais lírico, e, certamente, o mais "popular". E podem ser outros. A cada um o seu. Para ele, segundo li num blogue, os seus preferidos eram "Persona" e "Gritos e Sussurros".
Esses dois grandes artistas, por um desses acasos da vida, faleceram no mesmo dia, na última segunda-feira; Bergman pela manhã, Antonioni à noite. Entrevistado por um jornal italiano, Woody Allen, tiete de Bergman, revelou que este não desejava morrer num dia ensolarado. Teria se realizado o seu desejo?