sexta-feira, junho 30, 2006

OS DEZ MELHORES FILMES DO SEMESTRE


Eis, na minha opinião, segundo o meu gosto , os dez melhores filmes deste semestre. Dois esclarecimentos. 1) A lista está em ordem alfabética. 2) Embora não fosse inédito para mim, incluí "Noites de Circo", porque não me lembrava nada dele, de quando o vi, no cinema, nos anos 1960.
- Almas Perversas (Fritz Lang/1945)
- Boa Noite e Boa Sorte (George Clooney/2005)
- Cinzas e Diamantes (Andrzej Wajda/1959)
- Flores Partidas (Jim Jarmush/2005)
- Marcas da Violência (David Cronenberg/2005)
- Noites de Circo (Ingmar Bergman/1953)
- Quem Sabe? (Jacques Rivette/2001)
- O Processo de Joana D' Arc (Robert Bresson/1962)
- O Segredo de Brakeback Mountain (Ang Lee/2005)
- A Vida no Paraíso (Kay Pollac/2005)

terça-feira, junho 27, 2006

ALMAS PERVERSAS (Scarlett Street/1945)

Inspirado, o que muitas vezes não ocorre, o título em português desse filme de Fritz Lang ("M, o Vampiro de Dusseldorf") , agora lançado em DVD. A perversidade, a maldade, até mesmo a crueldade, estão entranhadas nos personagens, e não apenas nos principais. Se o casal Katherine "Kitty" March (Joan Bennett) e Johnny Prince (Dan Duryea) explora, como pode, Chris Cross (Edward G. Robinson), que, como iisso não bastasse, é casado com uma megera, que o humilha e hostiliza a toda hora, este também não é nenhum mártir. Chris esconde de Kitty a sua profissão (caixa de um estabelecimento comercial), se fazendo passar por pintor, quando, na verdade, só exercita a pintura como um lazer na folga dos domingos. E acaba sendo levado a assassinar Kitty, depois de ser cruelmente humilhado e insultado por ela, ao descobrir sua forte ligação com Johnny.

"Almas Perversas" é uma grata surpresa para quem não o conhece. Subestimado na época do lançamento, revela-se, hoje, como um dos grandes filmes de Lang da sua fase americana. É um filme noir, aderindo às principais características do gênero, entre as quais a presença da femme fatale, à qual Joan Bennett se entrega com uma força e uma determinação admiráveis. O seu momente mais marcante é quando ela tem Chris aos seus pés, curvado (denotando o amor, que atinge o servilismo, por aquela mulher) , pintando-lhe as unhas. A expressão do rosto é a própria imagem da vamp, coroada por uma frase ambígua que diz naquele momento: "Isso vai ser uma obra-prima". Ela pode tanto estar se referindo ao fato de ter as unhas pintadas por um artista, como ao golpe que aplicou, instigada pelo amante/gigolô, assinando os quadros de Chris e, com isso, ganhando dinheiro, além de obter o reconhecimento da crítica.

Mas se Lang se apossa, com o brilh9 quase sempre presente na sua obra, das diretrizes do gênero noir, não deixa de retornar às suas raízes expressionistas, contando, para isso, com a estimável colaboração da fotografia de Milton Krasner. Isso ocorre perto do final, quando Chris, no quarto de um hotel barato, começa a ter alucinações, "ouvindo" frases do casal que o explorara. Como observou A.C. Gomes de Matos, no livro "O Outro Lado da Noite - O Filme Noir" (Editora Rocco/2001) , aí "Lang usa a técnica expressionista com toda a força, para mostrar o delírio do protagonista, dando a idéia de como soube combinar a imagem e o som". É o grande diretor fazendo lembrar alguns momentos de "M", sua obra máxima.

####################################

Aproveitando a oportunidade, convido os visitantes deste blogue, residentes em Natal, para o sarau sobre minha obra literária, a ser realiizado amanhã (dia 28), na livraria Siciliano, do Shopping Midway, a partir das 19 horas. Ficarei honrado com a presença dos que comparecerem.

domingo, junho 25, 2006

TERESA, TERESA


Cigarro na boca, tiquetique do despertador martelando o ouvido, o lençol jogado nas pernas e remexido pelo sopro do ventilador - João já perdeu a esperança de dormir. Fora deitar muito tarde, passando da televisão para a radiola, e , por fim, para as páginas de uma revista Bocejando, os olhos ardendo, largou a revista e pulou na cama, como se tivesse medo do sono fugir. Foi só deitar para o pensamento retornar. Ainda lutou, ajudado por outros pensamentos, mas o maldito era mais forte. Virou para o lado da mulher, depois ficou de bruços, voltou à posição inicial. Não demorou a se levantar, em busca de cigarro. E estirado, um cigarro atrás do outro, capitulou.
Curioso como uma pergunta de uma criança pode mudar a vida de um homem, torná-lo desconfiado e vigilante para com a companheira de tantos anos - a procura intensa e dolorosa da verdade, um detalhe mínimo assumindo um grau de muita importância. Até o momento em que o garoto fez a pergunta à mãe - ela, vexada, transferiu a resposta para ele - nunca duvidara da fidelidade de Teresa. Viviam juntos todos esses anos e não se lembrava de um só momento em que tivesse pensado no caso, o comportamento de Teresa fechava todas as saídas por onde pudesse escapar uma idéia de suspeita. Tinham lá as suas rusgas - eram como todos os casais. Mas até quando defendiam pontos de vista conflitantes, pareciam mais dois amigos conscientes do valor de sua amizade e que ela deveria ser colocada num nível acima do assunto em discussão. Na cama se entendiam bem, desde a primeira vez. Tinha-se na conta de bom marido, cumpria os deveres conjugais, vestia Teresa na última moda, frequentava os melhores clubes e uma vez por ano iam conhecer uma grande cidade do Brasil. Às vezes variava de cama, mas não sentia remorso, todos fazem isso. Apareça um marido perfeito!
O milésimo cigarro esmagado no cinzeiro. O tiquetiquear do relógio, o zunido da hélice do ventilador - o som de um se distinguindo do outro. Sempre tão submissos, os dois naquela noite se insurgiam contra o patrão. Vira o rosto para o lado de Teresa. Dormindo como só os inocentes e os puros. Quem dorme assim, não pode carregar uma culpa. Tudo obra de línguas maldosas. Amanhã ia ter uma conversa franca com Teresa. Só para desabafar, tinha confiança nela. Devia ter. Ela nada havia feito de ruim pra sua honestidade ser posta em questão de uma hora pra outra. Por que ligar pruma insinuação de gente maldosa? De novo se deita de bruços, na esperança de atrair o sono definitivamente. A cama estala, num instante lembra da noite em que sua cama de solteiro arriou com ele e uma mulher. O espanto dele e dela, depois a risadaria inevitável. Nunca mais a dona quis trepar na mesma cama. Já casado, contou pra Teresa. "Danadinho", Teresa o mimoseara.
Teresa. Teresa É pensar nela e a terrível idéia retornar. Impossível resistir a inimigo tão poderoso. Com um resmungão salta da cama, vai para o quarto de leitura, buscando o refúgio de uma revista. Teresa acomodou o corpo, de modo a ocupar o espaço vazio da cama. Também não dormira um só instante, atingida pelo efeito da pergunta. João começara a desconfiar - a insônia era uma prova. Dali em diante seria vigiada como um ladrão. Adeus tranquilidade. Nesses anos todos interpretara convincentemente o papel de esposa-amante. Alegre quando tinha de ser alegre, carinhosa se João necessitava de seus afagos e carícias, excelente amante quando era procurada. Tão a sério se entregava ao papel que vez por outra alimentava uma briguinha com o marido, porque os casais felizes não podem dispensar as rusgas - são o condimento do amor deles. E adorava fazer esse papel - João adivinhava-lhe os desejos, e, muito mais, passara-lhe um atestado de confiança. Em todo o tempo de casada, pôde levar pra cama os mais diferentes homens. Alguns eram amigos de João. Por eles, ficava sabendo que o marido pegava mulher. Era quando criava uma cena de ciúmes, puxando uma briguinha com ele (precisava extrair todas as possibilidades do papel). Corneou tanto o desgraçado e nunca imaginou ser desmascarada.Agora, por causa de uma frase que o filho ouve e repete pra eles, querendo conhecer o significado, a sua vida ia virar um inferno. Sofria muito mais com a certeza de que a culpa seria declarada. Odiava todo mundo naquela noite: o menino, os homens que falaram dela, aquele despertador de zoadinha enervante. A vida inteira detestara o despertador. (Talvez por ser presente de uma ex-rival. Lhe parecia que a presença dele, no quarto, tinha a função de espioná-la.) Cada noite era posto pra trabalhar, mas o tiquetique monocórdio nunca lhe atrapalhava o sono. Naquela noite, no entanto, parecia querer puni-la, ajudado pelo ventilador.
Não achava lugar na cama. Deitava de lado, deitava de bruços - nada do sono chegar. Pensou em João. O que estaria fazendo? E se estivesse morto no banheiro? O pensamento não era tão absurdo: estivera a refletir e concluíra que ela era culpada. O choque, de tão violento, deoxara-o sem forças para uma reação. Em tais circunstâncias, o suicídio não assumia a forma de uma covardia - ao contrário, transfigurava-se em um ato revestido de sublime significado. Por um instante chegou a torcer pra que isso acontecesse, seria a única saída para ela. Logo depois, movida por um último resquício de dignidade - ou, inconscientemente, não continuava a viver o papel? - levantou-se para procurar o marido. Atravessava o corredor, onde ficava o banheiro, quando notou quando notou luz no gabinete de João. Desviou o caminho, rumou pra lá, surpreendendo-o debruçado sobre a revista. Passou um tempão a observá-lo, sem ousar interrompê-lo. Até ele dar com sua presença. A leitura abandonada, fitou Teresa, e por um rápido instante os seus olhos se encontraram e flertaram como há muito não faziam. Foi ela quem primeiro baixou os olhos, virando-se para sair.Ele a chamou: decidiu que deviam ter ali a conversa franca planejada para o dia seguinte. "O quê"? Teresa se voltou, De novo os olhos penetrando nos outros olhos. E segundos de mudez em João. "Minha filha, me arranje um comprimido pra dor-de cabeça". Voando ela foi e voando voltou, analgésico e copo dágua na mão.
#################################
Conto extraído do meu livro A Morte Trágica de Alain Delon (1972)

terça-feira, junho 20, 2006

MEUS MELHORES FILMES BRASILEIROS


Como está fazendo hoje em seu blogue, em 1999 Moacy Cirne promoveu uma enquete no seu Balaio Porreta (então impresso) sobre os 12 melhores filmes brasileiros. Sendo um dos convidados, enviei a ele a minha lista. Republico-a aqui, com apenas duas alterações em relação à daquele ano. Vamos lá.
- Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha)
- Vidas secas (Nelson Pereira dos Santos)
- Limite (Mário Peixoto)
- Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho)
- Eles não usam black-tie (Leon Hirzsman)
- Chuvas de verão (Cacá Diegues)
- O padre e a moça (Joaquim Pedro de Andrade)
- Inocência (Walter Lima Junior)
- O Grande momento (Roberto Santos)
- Ganga bruta (Humberto Mauro)
- Anahy das missões (Sérgio Silva)
- Aleluia, Gretchen (Sílvio Back)
#######################################
DUAS NOTAS DE CINEMA
- Há poucos dias o ator e diretor Jerry Lewis sofreu um enfarte, durante um vôo, parece que para Nova York. Aos 80 anos , completados em março, Lewis está afastado há algum tempo do cinema, ao qual deu uma valiosa contribuição, seja como ator, seja como diretor. Como diretor, ele revitalizou a comédia americana que, nos anos 60, tinha perdido muito da força e importância que teve nas décadas de 30 e 40. O melhor filme que dirigiu continua sendo O Professor Aloprado, de 1963. Nessa versão humorística do tema que aborda a fronteira, ou a convivência entre o Bem e o Mal na pessoa, brilhantemente exposto por Robert Louis Stevenson em O Médico e o Monstro. Lewis criou uma sucessão de gags geniais. Aliás, depois de se recuperar do enfarte, ele irá dirigir , na Broadway, uma versão musical do filme. Uma curiosidade sobre Lewis. Quando Stan Laurel, o fabuloso Magro, vivia recluso e esquecido, preso a uma cadeira de rodas, Lewis era , talvez, o único membro da comunidade cinematográfica a visitá-lo, com uma certa frequência.
- A Bela da Tarde (Buñuel/1967), vai ter uma continuação. E adivinhem quem será o diretor? Não, não será nenhum diretor do combalido cinema americano. Sabem quem? O português Manoel de Oliveira, que, se avizinhando dos 100 anos, segue filmando. Soube dessa notícia através de uma entrevista do ator brasileiro Lima Duarte, que fará parte do elenco. (Lima, grande ator, já trabalhou com o bom velhinho.) Sei não. Apesar do talento de Manoel de Oliveira, não acho que seja uma boa essa continuação do grande filme de Buñuel. Parece, não tenho certeza, Catherine Deneuve, que continua linda na casa dos 60, também participará do filme. Vamos ver em que vai dar o filme.

sábado, junho 17, 2006

A POESIA DE BARTOLOMEU CORREIA DE MELO (1)

Já mostramos, aqui, o contista potiguar Bartolomeu Correia de Melo. Hoje é a vez do poeta, com a publicação de 4 dos 7 poemas que ele me enviou. Os 3 restantes ficarão para outra oportunidade. Manda ver, Bartola!
ALINHAVO
Ah, as mulheres...
Como não vê-las
como novelos
de trana atriz?
indecifráveis
mas adoráveis;
enrosco terno
dentro de nós.
Tecer eterno
de amarradios,
viscosos fios,
doce retrós.
Cerzido inferno
de teias fêmeas,
e queixas gêmeas,
de antes e após.
Ah, linha tênue,
nó de amargura
que nos costura
juntos, mas sós...
TEOREMA
Passa da conta. A nossa tabuada
resulta um teorema esquisito:
"Eu mais você somados somos um,
pois, eu menos você, não resta nada,
num vazio de adeus quase irrestrito."
Nós anulados, sem fator comum,
somos inequação desesperada,
binômio sem afago nem afeto.
Pelo " princípio do pudor nenhum",
gemendo imprecisões, recalculamos
a tangente raiz do nosso grito;
teimando soluções, multiplicamos
razões pra dividir nosso infinito...
E assim, a divergir, nos igualamos,
nesse amor inexato, mas bonito.
INTENÇÃO
Ai de mim, que rebusco cada rima
e malcontente escrevo e apago versos,
sem achar expressão que enfim redima
anseios tão intensos, tão dispersos...
Escrever tais sentires fica acima
dos meus pobres dons, quase adversos,
de poeta que nem diz nem desanima.
Perdão, se alheio o coração da mente
que nunca atinge o belo que persegue.
Ninguém canta a poesia que pressente,
mas o poema que chorar contemple.
Por isso, lhe suplico, não renegue:
aceite meus carinhos, tão somente,
como ternas palavras que lhe entregue.
POEMETO EM BRANCO E PRETO
Negrume nas asas,
voar veludoso
e olhar que me unge
de antigas ternuras
a imaginação:
um meigo anjo grunge,
sorrindo amarguras,
pousou descuidoso
no meu coração.

terça-feira, junho 13, 2006

UM EPISÓDIO NA DITADURA MILITAR


Há poucos dias Moacy Cirne comentou, no seu Balaio Vermelho, que chegou a ser caçado pelas forças de repressão da ditadura militar, um dos períodos que mais mancharam a história do Brasil no decurso de mais de vinte anos. Felizmente, o nosso amigo não chegou a ser preso e torturado, pelo menos não tenho informação disso. Já amigos e conhecidos meus não tiveram a mesma sorte, e um ou outro pagou com o sacrifício da própria vida o fato de contestar a implantação do regime militar. Eu não tive problemas, até porque não dei motivos para isso. Isso não quer dizer que fosse favorável à presença daqueles milicos no poder. Evidente que não concordava com toda aquela situação pela qual o país estava passando, discutia-a com os amigos, mas mantive o cuidado de nunca me expor demais, principalmente quando escrevia nos jornais. Sobre cinema. Apesar dos meus cuidados, houve uma vez que, por um triz, não fui preso. É um episódio que nunca me saiu da cabeça.
Foi assim. Num certo dia, em 1972 (no governo de Médici, o mais sanguinário de todos), precisei ir a Fortaleza, para tratar de um negócio. O ônibus saía à meia-noite. A viagem seguia tranquila, mas aí pela metade do percurso, de repente o ônibus parou. Era no meio da estrada escura, o que já causou estranheza aos passageiros. O ônibus, pois, pára. as luzes se acendem e, então, suugem dois homens, com toda a pinta de agentes policiais. Ficam por alguns segundos em pé, à frente da porta que dá acesso ao posto do motorista, e , com os olhos, examinam os viajantes. Logo depois um deles se afasta e vem diretamente para o lugar onde eu estava. Devia ser na terceira ou quarta fileira. Me pede a carteira de identidade e examinha-a atentamente. Ao ver a fotografia, certamente, olha meu rosto também com atenção. Em seguida me devolve o documento, com um obrigado. Sem um pedido de desculpa. A mim e aos demais viajantes. Quando o ônibus se pôs de novo em movimento, as pessoas não tiravam os olhos de mim. Se não me falha a memória, alguém chegou a me perguntar o que eu fizera para ser submetido àquele incômodo exame. Mas se eu próprio não saberia dizer o motivo! Sem nenhuma dúvida, aqueles homens estavam à caça de alguém e me acharam parecido com ele.
No início eu disse que , por um triz, escapei de ser preso. O caso é que eu quase que viajava sem a minha carteira de identidade. Durante o dia, no meu trabalho, tive que entregá-la à Seção de Pessoal, para uma atualização de dados na minha ficha funcional. Cheguei a alertar o colega que ia precisar do documento, pois iria viajar naquele mesmo dia. Ele prometeu devolvê-lo dentro de pouco tempo, mas o certo é que o expediente se encerrou e eu não recebi de volta a carteira. Como a minha viagem era inadiável, mesmo preocupado, tinha que ir a Fortaleza. Mas aí por volta de umas oito horas da noite, eis que chega o colega à minha residência com a carteira de identidade. Pelo que relatei, se estivesse sem ela, teria sido arrastado do ônibus , talvez tivesse ficado preso e até torturado. Talvez nem estivesse contando aqui esse episódio de uma época que, só os que a viveram, sabem dos seus inúmeros malefícios.

sábado, junho 03, 2006

NOMES DE MULHER



Um dos nomes de mulher mais bonitos, para mim, é Beatriz. Na minha cidade havia uma Beatriz, uma mulher bonita, casada com um dentista. Os maledicentes diziam que traía o marido. Não sei, nunca soube, se os boates tivessem um cunho de verdade. Mas deixemos isso de lado. Outos nomes que acho bonitos: Teresa, Letícia, Cecília, Isabel, Lídia e, entre outros, aqueles tomados de empréstimo a alguns nomes de flor. São nomes que não se usam mais. Um pai de hoje, dificilmente, colocaria qualquer um desses nomes citados em uma filha, ou outros, muito usados em épocas passadas. É uma questão de época? Pra mim, não. Mas eles desapareceram, para darem lugar a outros, de preferência de origem americana. O nome Jessica, para citar um, está entre os preferidos. A mulher que trabalha em minha casa tem uma filha Jessica. Antes dela, outra tinha uma filha também assim chamada. A filha de uma amiga das minhas filhas também é Jessica. E conheço várias moças engrossando a lista.
Nomes de mulher. Uma das minhas curiosidades, ao me deparrr com um nome desconhecido, é perguntar à dona se ele é fruto da combinação dos nomes do pai e da mãe. Às vezes, é, outras, não. Aliás, esse artifício, na maioria dos casos, produz nomes de um mau gosto de dar pena da mulher. (E no caso de nome masculino, também.) Sem querer puxar brasa para a sardinha do meu falecido pai, acho que ele foi feliz quando quis adotar esse procedimento, pondo numa das filhas o nome de Zênia. O "Zê" foi tirado do nome, abreviado e com som fechado, de José, o nome dele. José Geraldo, para ser preciso. Enquanto o "nia" migrou de Antônia - o nome da minha mãe, igualmente já falecida. Além de bonito, um nome raríssimo. Só vi até hoje outra pessoa assim chamada: a filha adotiva de um casal amigo aqui de Natal. (Na década de 1950, havia uma candidata a Miss Brasil com um nome quase semelhante ao da minha irmã: Zeina.)
Ah, como certos pais escolhem mal os nomes dos seus filhos! Nunca me esqueci de um nome feminino, que, se tivesse conhecido o pai da moça, não deixaria de perguntar onde diabo ele fora desencavar aquele nomezinho. Eu trabalhava em banco na seção de ordens de pagamento. Essas ordens eram transmitidas, muitas vezes, por telefone. Um cia atendi um telefonema de um colega de Fortaleza. O nome da beneficiária era... MEDDA. O colega, brincando, me advertiu: "cuidado, Sobreira, para não trocar o primeiro D por um R" . E sempre que me lembro desse nome, fico imaginando se a coitada daquela moça nã o terá mudado. Motivos não lhe faltavam.
Quando trabalhei no interior do Ceará, a minha primeira namorada era uma excelente pessoa. Tanto que, terminado o namoro, por iniciativa minha, ela não só não ficou de mal comigo, como se tornou uma boa amiga. Mas, pobrezinha, o nome não a ajudava. Se chamava Primitiva. Mas, garamto, não foi por isso que a deixei.
NOTA - Por motivo de viagem do editor, este blogue só voltará a ser atualizado daqui a dez ou quinze dias. "E aquele abraço pra quem fica".