sábado, junho 17, 2006

A POESIA DE BARTOLOMEU CORREIA DE MELO (1)

Já mostramos, aqui, o contista potiguar Bartolomeu Correia de Melo. Hoje é a vez do poeta, com a publicação de 4 dos 7 poemas que ele me enviou. Os 3 restantes ficarão para outra oportunidade. Manda ver, Bartola!
ALINHAVO
Ah, as mulheres...
Como não vê-las
como novelos
de trana atriz?
indecifráveis
mas adoráveis;
enrosco terno
dentro de nós.
Tecer eterno
de amarradios,
viscosos fios,
doce retrós.
Cerzido inferno
de teias fêmeas,
e queixas gêmeas,
de antes e após.
Ah, linha tênue,
nó de amargura
que nos costura
juntos, mas sós...
TEOREMA
Passa da conta. A nossa tabuada
resulta um teorema esquisito:
"Eu mais você somados somos um,
pois, eu menos você, não resta nada,
num vazio de adeus quase irrestrito."
Nós anulados, sem fator comum,
somos inequação desesperada,
binômio sem afago nem afeto.
Pelo " princípio do pudor nenhum",
gemendo imprecisões, recalculamos
a tangente raiz do nosso grito;
teimando soluções, multiplicamos
razões pra dividir nosso infinito...
E assim, a divergir, nos igualamos,
nesse amor inexato, mas bonito.
INTENÇÃO
Ai de mim, que rebusco cada rima
e malcontente escrevo e apago versos,
sem achar expressão que enfim redima
anseios tão intensos, tão dispersos...
Escrever tais sentires fica acima
dos meus pobres dons, quase adversos,
de poeta que nem diz nem desanima.
Perdão, se alheio o coração da mente
que nunca atinge o belo que persegue.
Ninguém canta a poesia que pressente,
mas o poema que chorar contemple.
Por isso, lhe suplico, não renegue:
aceite meus carinhos, tão somente,
como ternas palavras que lhe entregue.
POEMETO EM BRANCO E PRETO
Negrume nas asas,
voar veludoso
e olhar que me unge
de antigas ternuras
a imaginação:
um meigo anjo grunge,
sorrindo amarguras,
pousou descuidoso
no meu coração.

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