terça-feira, outubro 25, 2005

REVISTA INGLESA ELEGE O MAIOR FILME DE TODOS OS TEMPOS

Quase caí das nuvens. O que, para Machado, é melhor do que cair de um determinado andar ( não me lembro de qual seja). Foi uma matéria que vi hoje no site do Estadão, falando de uma votação realizada por críticos da revista inglesa "Total Film", para escolher os maiores filmes da história do cinema. A notícia não informa o número de filmes, mas suponho que seja de cem, já que Casablanca ficou em 98.o lugar. E se vocês imaginam que o vencedor foi um desses monumentos cinematográficos, estão muito enganados. O primeiro lugar coube a Os Bons Companheiros (Scorcese, 1990). O segundo colocado, Vertigo/Um Corpo que Cai (Hitchcock). E o terceiro e o quarto? Nada mais, nada menos do que Tubarão (Spielberg) e Clube da Luta, que, confesso, não sei de quem é. Do quinto ao décimo, entre "preciosidades" do tipo de O Império Contra Atraca e a trilogia O Senhor dos Anéis (oitavo e nono, respectivamente), há, para salvar a honra dos grandes autores, Cidadão Kane (sexto) e Era Uma Vez em Tóquio (Ozu, sétimo). Há, ainda, O Poderoso Chefão II em quinto e Jejum de Amor (Hawks) em décimo. Quer dizer, o filme de Welles, que, em 1941, revolucionou a técnica, a narrativa, a linguagem cinematográficas, perdeu para um Tubarão e um Clube da Luta.E Vertigo, se é um das 2 ou 3 obras-primas de Hitchcock, ainda assim não merece figurar nem entre os vinte melhores. E Jejum de Amor, uma boa comédia de Hawks, perde feio para, pelo menos Onde Começa o Inferno e Rio Vermelho, dois dos melhores westerns já realizados. E até para Scarface. os 3 do mesmo diretor. E quanto ao filme vencedor, não é, a meu juízo, o melhor de Scorcese. Embor goste dele, prefiro Taxi Driver( que, aliás, figurou em 14.o) e até o kafkiano Depois de Horas.
Seria bom que tivessem sido informados todos os filmes, para se saber se outras barbaridades foram cometidas nessa discutível(para dizer o mínimo) votação, seja na inclusão de filmes de qualidade duvidosa, seja na omissão de obras-primas que vêm se mantendo íntegras ao longo de décadas. Alguns outros filmes : Chinatown (Polanski, 12.o), Manhattan (Woody Allen, 14.o), A Felicidade Não se Compra (Capra, 15.o), Janela Indiscreta (Hitchcock, 24.o) e Crepúsculo dos Deuses (Wilder, 25.o). Todos esses cinco são filmes importantes; para mim, sobretudo, o de Hitchcock (que prefiro ao Vertigo) e o de Wilder, mas numa votação feita por pessoas com uma maior vivência de cinema e uma indispensável visão crítica, o que não parece ser o caso de, pelo menos, uma parte dos críticos dessa revista, ficariam numa posição bem abaixo
Não sei se foi essa mesma revista que há poucos meses elegeu Spielberg o maior diretor de cinema de todos os tempos, em mais uma votação entre "especialistas" em cinema. São barbaridades desse tipo, e ocorridas num país de grande tradição cinematográfica, que deixam revoltadas pessoas que, mesmo cometendo erros de avaliação crítica, encaram o cinema com a seriedade que grandes artistas o tornaram merecedor. Escolhas, selecções, listas dessa espécie nos levam a uma destas duas reações. Ou arrancar, de indignação , os cabelos (e eu que já os tenho tão escassos, para assim proceder), ou dar aquela sonora e longa gargalhada do personagem de Walter Huston, no final de O Tesouro de Sierra Madre. Que, talvez, tenha ficado fora da lista.

sábado, outubro 22, 2005

UM DIA... OS MESMOS DIAS

Assim que acordou, olhou o relógio. Gesto mecânico, que o faria sorrir, se pudesse sorrir. Tinha tomado a decisão, noite passada. Não.Foi quando chegou ao trabalho, no turno da tarde. O encarregado lhe cobrou explicação por ter faltado pela manhã, ele disse que estivera adoentado. O caso teria morrido aí, o superior alertando-o, cordato, para avisá-lo quando não pudesse comparecer ao expediente matutino. Mas o homem tinha de representar o tiranete para uma platéia o seu tanto numerosa: esbravejou, espezinhou, ameaçou. Ele sem força para revidar. Aniquilado, arrastou-se para a mesa de trabalho. Tarde péssima. A mais comprida de toda a sua vida, os ponteiros do relógio tartarugando pelos números.
O que houve à noite, em casa, foi um restinho de dúvida alfinetando-o. Mas quando ouviu a opinião da mulher, concluiu que não mais devia hesitar. E tu vai viver de vento, Eduardo? Largar um emprego tão bom por uma besteira dessa. Será que tu esquece que tem filhos e mulher pra sustentar? Homem, aprenda a viver.
Aquele incidente fora o impulso que lhe faltava para despencar na fossa. O serviço há muito o deixara de interessar. Embora trabalhasse com certa desenvoltura e uma correção que lhe valiam, vez por outra, um elogio, recebido com indiferença. Chocava-se, acima de tudo, com a disciplina, a submissão ao relógio, controlando a hora de chegar, a hora de sair, a hora de descansar. Quando se atrasava no intervalo entre o fim do primeiro turno e o início do segundo, era o banho só pra molhar o corpo, o almoço engolido, o carinho sonegado aos filhos. Impossível também aceitar os métodos utilizados para se fazer carreira. Para se galgar o menor d menor dos cargos, o que menos contava era a eficiência no serviço: o sujeito tinha de beijar os pés do superiores e até, sendo necessário, apontar algum companheiro em falta. E ele obrigado a conviver com esse tipo de gente, dar bom dia a esses abanadores, receber ordens deles.
E agpra aqiela implicância do encarregado. Um baba-ovo querendo bancar autoridade. Lutava pra não pensar na figurinha, mas os olhos só viam o rosto balofo do homem, e nos ouvidos zuniam as palavras que o encarregado aprendera nos cursos da Fábrica. Tenaz perseguição, de que não podia escapar. Ainda vendando os olhos e arrolhando os ouvidos.
Eduardo, não tã na hora de se levantar, não? Não respondeu. Será que a mulher pensava que recuara da decisão^Que se dobrara à maneira vulgar dela de protestar? De uma vez por todas: a mulher não o comprendia. As vezes que lhe explicou por que não adaptava ao trabalho! Perda de tempo. Ela via a Fábrica como um deus generoso que havia dado tudo ao marido: a casa, o carro, a mesa farta, os filhos calçados e vestidos. Nem por um instante parou para pensar que ele havia dado muito mais do que recebera.
Outra vez o relógio. Mas que mania essa de olhar o relógio, não precisando mais dele! Sete e quinze. Todo dia a essa hora estava saindo do banho. Se penteava, se vestia, comia, corria para o emprego. Trabalhava até às dez, voltava, brincava um pouco com as crianças, se banhava, se vestia, almoçava, fumava, corria para a Fábroca. E a tarde tão comprida Mais de dez anos nisso. E a mulher ainda vinha achar que devia continuar nessa vida. Ela não tinha nada que botar os filhos na história. Tinha sido grossura demais falar aquilo. Precisava ser um desnaturado para deixar os filhos passarem fome. Arranjaria outro emprego, ganhando menos, mas onde não houvesse tanta sujidade. Podia arranjar qualquer coisa. Tivesse que viver mais simples do que vivia, venderia o carro, tomaria o ônibus.
Sete e meia (terceira vez que olhava o relógio). Já devia estar no banho. Depois do café , ia conversar com a mulher. (O trivial.) A cara do encarregado reapareceu, a bocona - atirando ameaça. Da próxima vez que você faltar pela manhã, sem me comunicar, não precisa vir de tarde. Terá falta pelo dia todo. Isso aqui não é cu-de-mãe joana pra todo mundo fazer o que bem entende. Tá com alguma coisa, Eduardo? Silêncio. A mulher se afastou. Os filhos se achegaram, pularam sobre ele, fazendo-lhe brincadeiras. Ele chegou a rir. Então, num repente, saltou da cama, correu para o banheiro. Ela: eu posso mandar passar o café? Ele: mudo,só lhe adiantando gritar. Um grito de mil decibéis. Asseou-se e vestiu-se acelerado. Entrou no carro, faltando dez minutos para começar o expediente. Iria voando, para não chegar atrasado.
Este conto faz parte do meu livro de título homônimo, de 1983. É aqui republicado em forma integral, apenas com mínimas alterações na linguagem.

quarta-feira, outubro 19, 2005

OS MAIORES FILMES DE ANTONIONI E DE LANG



Michelangelo Antonioni

1. A Aventura (1959)
2. Blow-Up/Depois Daquele Beijo (1967)
3, O Grito (1957)
4. O Eclipse (1961)
5. O Passageiro: Profissão Repórter (1975)
6. Il Deserto Rosso/O Dilema de uma Vida (1963)
7, A Noite (1960)


Fritz Lang

1. M, o Vampiro de Dusseldorf (1931)
2. Metropolis (1926)
3. Fúria (1936)
4. O Diabo Feito Mulher (1951)
5. Os Corruptos (1953)
6. Vive-se Só Uma Vez (1937)

sábado, outubro 15, 2005

FEDERICO FELLINI

Este texto foi por mim publicado no blog O Apanhador de Sonhos, de Bené Chaves, no ínicio deste ano. É republicado aqui, não só por não dispor de um assunto novo, mas, principalmente, pelo ensejo de mais um aniversário da morte de Fellini no próximo dia 31.
Em meu primeiro contato com o cinema de Fellini, eu não tinha a menor idéia de quem ele era. Aliás, na época eu ignorava o nome de qualquer diretor. Adolescente, com quatorze para quinze anos, entrava num cinema atraído pelo nome dos atores e das atrizes, pelo título do filme, ou, ainda, pelo gênero (sendo faroeste, então, pouco me importava quem fosse o ator). O que me atraiu em Na Estrada da Vida foi a presença de Anthony Quinn no elenco, ainda que esse ator não fosse um dos meus preferidos; pelo contrário, antipatizava-o por sempre fazer o vilão. Dos outros atores do filme, eu jamais ouvira falar. E, então, caí na estrada... O filme não me agradou, nem desagradou. A impressão que tive dele foi de algo diferente de tudo quanto visto de cinema até aquela data. É muito provável que a uma certa altura tenho querido abandonar a sala, tão acostumado estava aos filmes que via na época, alem de ser privado de um mínimo de visão crítica de cinema. Houve, no entanto, uma cena que me chamou a atenção. Na verdade, foi uma frase dita pelo personagem conhecido por O Louco, numa conversa com Gelsomina. Ao tentar convencer aquela coitada (um dos maiores personagens criados pelo cinema) de que ela não é uma ínutil (e, portanto, o bruto Zampanó precisa dela), ele apanha do chão uma pedrinha e diz que até uma coisinha daquelas tem uma utilidade na vida, só que ele não sabe qual é.
Muitos anos se passaram até que eu voltasse a ter contato com o cinema de Fellini. Já estava morando em Natal, a minha visão de cinema já evoluíra, sobretudo por integrar o Cineclube Tirol. Este exibia uma sessão de arte uma vez por semana, num dos cinemas da cidade, e foi nessas sessões que assisti Oito & Meio, Os Boas Vidas, Noites de Cabíria e Abismo de um Sonho. O último não consegui ir além da metade, mais ou menos. Não, o filme não é ruim, o caso é que a energia pifou durante a projeção e não foi restabelecida pelo resto da manhã. E, assim, passei quase quatro décadas sem conhecer integralmente o primeiro filme solo de Fellini, o que só ocorreu no ano passado. via DVD. E passei a acompanhar, pelo circuito comercial, os filmes que esse grande artista realizou depois de 1965.
Ah, Fellini. Em seu recém-lançado Um Filme por Dia, o crítico Moniz Vianna diz de Buñuel que este não terá seguidores. Digo o mesmo de Fellini. Seu universo temático, com suas fantasias (não raro, delirantes), suas reminiscências infantis, suas confissões, seus tipos bizarros, seu humor que, às vezes, beira o vulgar, o mau gosto, e aquele ritmo peculiar (no que é muito ajudado pela música de Nino Rota), faz dele um cineasta singular. E talvez o seja, sobretudo, por ser o mais autobiográfico dos diretores. Ele próprio reconhece isso, ao declarar numa entrevista: "se um dia fizer um filme sobre um peixe, acabarei falando de mim mesmo".
Qual o seu maior filme? Acho que tem alguns. Oito & Meio, A Doce Vida (embora deste ache que umas duas ou três sequências poderiam ser menos longas), Na Estrada da Vida, E la Nave Va, Amarcord, o último, seguramente, o seu filme mais "delicioso", que, nesse aspecto, está para a sua obra, como Depois do Vendaval está para a de Ford. Dele só não gosto de Casanova, Cidade das Mulheres e A Voz da Lua. Os dois primeiros ainda têm alguns bons momentos, como o ritmo bastante acelerado nos minutos iniciais do segundo e, no primeiro, sobretudo, o final. (Falando em final, Fellini tem alguns antológicos. Há na preferência dos cinéfilos quase um consenso sobre o de A Doce Vida. É de fato notável a imagem da garota de rosto angelical chamando por um nauseado e fatigado Marcello Mastroianni, em que o diretor nos acena com um pouco de esperança, mas ainda prefeiro o final de Oito & Meio: a imaginação de Guido, o diretor, promove a reunião de todos os personagens, de mãos dadas, sobre uma plataforma, enquanto lá embaixo o garoto (Guido-Fellini) forma com três palhaços um lírico e nostálgico quarteto musical. Devem ser também lembrados os de Noites de Cabíria e de Na Estada da Vida.) Mas A Voz da Lua , seu último filme, é sem-graça, sem inspiração, e com momentos de humor em que 0 limite do vulgar é ultrapassado. Ele não merecia encerrar uma bela carreira num nível de qualidade tão iinferior aos seus maiores momentos.

terça-feira, outubro 11, 2005

FILMES DUBLADOS



Quem gosta de cinema, mesmo não tendo interesse pela sua estética, há de concordar comigo que não existe nada mais irritante e aborrecido do que a dublagem de um filme. E a isso vem juntar-se, para os que assistem a um filme como um elemento de realização artística, a indignação pelo dano que a dublagem causa. Porque a voz do ator (principalmente se for um grande ator), com a inflexão, a dicção, o tom para exprimir os mais diversos estados da alma, etc., é parte indissociável do contexto de um filme e, por isso, não pode ser substituída pela voz de um dublador. Mas vamos admitir que um dublador tenha a capacidade, ou o talento, de imitar a voz do ator, dela absorvendo todas as nuanças; pois bem, ainda que ele atinja esse grau de perfeição, lhe faltará o mais importante: a sua participação na criação do filme, a sua interação com o diretor e com os demais intérpretes. Ele não passará da função de um "medium", incorporando apenas a voz do ator.
Não sei se ainda está vigorando uma lei que obriga as emissoras de televisão a exibirem, pelo menos, um filme legendado por dia. A lei visa a proteger os deficientes auditivos. Mas se ela ainda existe, não é respeitada, como, aliás, ocorre neste país, onde as leis, de um modo geral, existem para não ser cumpridas, a não ser quando o interessado é o governo. Tenho quase certeza que só a TV Bandeirantes cumpre essa lei, mas não o faz como ela é determinada, pois exibe um filme legendado em toda a semana , o que ocorre na madrugada de domingo para segunda. A Globo, com a soberba de quem está acima de tudo e de todos, até há poucos anos fazia o mesmo que a Bandeirantes, mas hoje, como as demais, não tem a mínima consideração pelos que não ouvem.
E a coisa poderia está pior. Nos anos 70 do século passado. um desses parlamentares que vão para Brasília só com o intento de causar malefícios à população, para cuidar dos seus interesses e do seu grupinho (e eles, infelizmente, formam a maioria) apresentou um projeto que implantava a dublagem dos filmes exibidos nos cinemas. Houve uma grita na imprensa (me lembro de uma reportagem na Veja insugindo-se contra a pretensão desse político) e no próprio Congresso deve ter havido vozes contrárias, e, para nossa sorte, o projeto foi arquivado. Ainda bem.

sábado, outubro 08, 2005

MARQUES REBELO


Marques Rebelo (1907-1973) escreveu romances, contos, novelas ,crônicas, literatura infantil, um
estudo sobre Manuel Antônio de Almeida, o autor de Mémorias de um Sargento de Milícias, e para o teatro. Foi ainda tradutor (entre outras obras, de A Metamorfose , Kafka). Seu romance A Estrela Sobe foi adaptado para o cinema (Bruno Barreto) e a novela Vejo a Lua no Céu para a televisão. Tinha uma língua tão grande quanto o seu talento, destilando veneno contra muitos de seus pares. Por causa dela criou inúmeras inimizades. Ele mesmo chegou a declarar-se "um colecionador de desafetos". Quando ele morreu, Carlos Drummond de Andrade escreveu uma bela crônica que começava assim: "Era um diabo miudinho, de língua solta e coração escondido". E mais adiante: "Arrasava um livro, um poema, um quadro, um disco, um atleta com uma frase. Matava um escritor - matou quantos - com uma epígrafe. Depois ressuscitava o morto". Talvez esse lado iconoclasta tenha lançado uma sombra sobre o seu talento literário, concorrendo para torná-lo pouco lembrado nos dias de hoje. Embora ele tenha merecido figurar naquela coleção "Perfis do Rio", levada a cabo pela Editora Relume Dumará. O livro sobre ele foi escrito pelo jornalista e escritor Luciano Trigo e lançado em 1994.
Marques Rebelo projetara escrever uma grande obra intitulada O Espelho Partido, dividida em 7 volumes. Concebida para homenagear o seu Rio de Janeiro, que seria o personagem principal, a obra, no entanto, como assinalou Edilberto Coutinho, foi também evoluindo para "a autobiografia, a memória, o cronograma histórico, o cine-jornal e o documentário, e ganhou a forma de um diário". Mas o escritor só conseguir escrever os 3 primeiros volumes, intitulados O Trapicheiro (1959), A Mudança (1963) e A Guerra Está em Nós (1968). Os três cobrem o período de 1936 a 1944.
Muitos dos personagens são inspirados em escritores, críticos literários, pintores e até jornalistas. Quase todos podem ser identificados por quem leu o citado livro de Luciano Trigo. Este afirma que o próprio Marques Rebelo, em carta ao Sr. Paulo Mendes de Almeida (que Trigo não informa de quem se trata), confirmou o fato e deu nome aos bois. Como curiosidade, eis alguns dos retratados, com o nome do personagem em parêntese. Jorge Amado (Antenor Palmeiro), Tristão de Athayde (Martins Procópio), Augusto Frederico Schmidt (Altamirano Azevedo), José Lins do Rego (Júlio Melo), Álvaro Lins (Lucas Barros), Rachel de Queiroz (Débora Feijó), Carlos Lacerda (Julião Tavares) e o editor José Olympio (Vasco Araújo). Manuel Bandeira e Gilberto Freyre não foram nominados, sendo apresentados, respectivamente, por "o poeta" e "o famoso sociólogo", este sempre dizendo coisas óbvias. Já Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade aparecem com seus próprios nomes e sempre elogiados por um ou outro personagem, como Joaquim Borba (o escritor Cyro dos Anjos). Trigo acrescenta que, embora na carta Marques Rebelo tenha se escusado de informar a fonte de outros personagens, pessoas que viveram na época em que transcorre a ação dos 3 romances conseguiram identicar Guimarães Rosa no "afetado escritor-diplomata Magalhães Braga" e o pintor e capista Santa Rosa no "mulatófilo Mário Mora".
Marques Rebelo era torcedor ardoroso do América. Certa vez declarou que o dia mais feliz de sua vida foi o de 13 de dezembro de 1960. Justamente o dia em que o América conquistou o título de campeão carioca (em cima do Fluminense), depois de um jejum de 25 anos. Marques Rebelo era um pseudônimo. Seu nome de batismo era Edy Dias da Cruz. Nada eufônico para um escritor, conforme disse numa entrevista dada a Clarice Lispector.

quarta-feira, outubro 05, 2005

AS MANGAS



Este pequeno ccnto foi publicado num jornal de um amigo aqui de Natal, há cerca de 15 anos. Depois resolvi inseri-lo num conto longo que fez parte do meu livro Grandes Amizades, de 1995. Sai aqui com mínimas alterações na linguagem.
Sábado, fim de tarde, ele bebia em um bar que descobrira da primeira vez que estivera naquela cidade. Encantara-se com o ambiente , ao ar livre, duas frondosas mangueiras na entrada, a área suficientemente espaçosa para quem (era o seu caso) desejasse isolar-se dos outros clientes. Não frequentara outro bar, durante a sua permanência na cidade, e, ao voltar, após muito tempo, procurou-o e ficou feliz por vê-lo ainda funcionando.
O ambiente (mas sobretudo a hora, quando diminuía bastante o número de frequentadores) estimulava nos solitários a meditação. e ele estava absorvido por pensamentos que se sucediam em uma grande celeridade, como se o próprio cérebro se recusasse a reter cada um deles por mais de uns dois minutos. De repente, foi arrancado de seus pensamentos por um barulho de vozes. E o que lhe despertou a atenção é que o barulho não era igual ao de pessoas envolvidas em uma altercação, tão comum em mesa de bar. O tom das vozes era alegre, de animação, mais identificado com a bulha de crianças quando estão brincando. Percebeu que as vozes procediam do lugar onde se erguiam as mangueiras, e, impressionado, deixou a mesa e caminhou para lá. Ao se aproximar, teve uma enorme surpresa: três marmanjos atiravam pedras nos frutos pendentes de uma das mangueiras, tentando derrubá-los. Três homens de meia-idade brincando feito crianças em um lugar para adultos. Imaginou que eles, talvez, ainda há pouco estivessem a ponto de se digladiar em uma estéril e desgastante discussão sobre os políticos e, de repente, tinham-na abandonado, ao descobrirem aquelas mangas maduras oferecendo-se para serem colhidas.
A cena, insólita, era capaz de atiçar a zombaria, mas, ao mesmo tempo, havia nela um componente de nostalgia da infância que lhe calou fundo. Observando aqueles homens de idades batendo mais ou menos com a sua, que tentavam, talvez inconscientemente, recuperar uma pequena parte do tempo de meninos, ele se viu também menino, galgando muros proibidos para roubar mangas, subindo em árvores, atirando pedras nos frutos. E, então, veio-lhe intensa a vontade de reunir-se aos coroas, pegar uma pedra para acertar as mangas. Depois de derrubá-las, as juntaria em um saco plástico e as levaria para o quarto do hotel. Mas o receio de uma aproximação com os estranhos prevaleceu sobre a vontade e ele, resignado, voltou para a mesa e os pensamentos.

sábado, outubro 01, 2005

OS MAIORES FILMES DE CHAPLIN E DE RENOIR



CHARLES CHAPLIN (apenas os longas)

1. Luzes da Cidade (1931)
2. Em Busca do Ouro (1925)
3. Tempos Modernos (1936)
4. O Grande Ditador (1940)
5. O Circo (1928)
6. O Garoto (1921)
7. Monsieur Verdoux (1947)


JEAN RENOIR

1. A Grande Ilusão (1937)
2. A Regra do Jogo (1939)
3. A Besta Humana (1938)
4. Toni (1934)
5. As Estranhas Coisas de Paris (1956)
6. Boudu Salvo das Águas (1932)

OBSERVAÇÃO - Não conheço Le Carrosse d' Or (1952), que, muito provavelmente, faria parte dessa relação. E também O Rio Sagrado (1950), feito na Índia, que, talvez, fosse incluído.

NOTA - Ontem, 30 de setembro, completaram-se 30 anos da morte de James Dean. A quem interessar, há, no site No Mínimo, um artigo do jornalista e crítico de cinema Sérgio Augusto sobre o assunto.