terça-feira, junho 30, 2009

A V I S O


O editor vai passar uns dias ausente de Natal. Assim, este blogue só será atualizado no próximo dia 7 de julho. Se Deus não mandar o contrário, como dizia um colega de profissão. Até lá. Uma excelente semana para todos que por aqui passam.

domingo, junho 21, 2009

RAPIDINHAS (EPA!)


A atriz Jane Duprez no papel da Princesa no
filme "O Ladrão de Bagdá" (1940), dirigido
por Michael Powell e outros.
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- Das 3 chamadas virtudes teologais, a Fé eu já perdi, a Esperança há tempos morreu, restou a Caridade: uma cidade vizinha à minha Canindé.
- É prudente não acreditar muito nos ditos populares. Um conhecido meu enviuvou com poucos anos de casado. E a esposa se chamava Esperança.
- "Amo as mulheres, mas não as admiro", diz o personagem-título de "Monsieur Verdoux" (Chaplin/1947). Seria a opinião do genial criador de Carlitos?
- Sujeito educado estava ali. Toda vez que se deitava com um parceiro, desculpava-se por ter que lhe virar as costas.
- Tivesse eu o talento de Manoel Bandeira, dançava um tango argentino com a Penélope Cruz; como não tenho o talento de Manoel Bandeira, o jeito é dançar "Pisa na Fulô" com a Ideli Salvati.
- Resposta de Bob Hope a um jornalista que lhe perguntou a idade: "Estou numa idade em que as velas custam bem mais caro do que o bolo".
- Se a ameaça de Sarney de largar a política for de vera, não é bom soltar tanto foguete. Aí ele vai ter tempo de sobra para se dedicar à literatura.
- Sinto saudade daquele tempo em que Bagdá era apenas uma cidade que atraía pelo exotismo do nome e onde vivia uma linda princesa morena que roubara o olhar de Nelson Gonçalves. (*)
- No último dia 12 foi feito um serviço de dedetização e de desratização na biblioteca do Senado. Mas por que só na biblioteca?
- De Joel Silveira, no livro "A Camisa do Senador" (Mauad/2000): "Me dizia o velho sertanejo da margem do São Francisco, já chegando aos noventa anos: - A gente sente que está envelhecendo quando começa a gostar mais de carne-de-sol do que de mulher".
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(*) No carnaval de 1948 (perem aí, eu tinha somente 5 anos) foi lançada a marcha "Princesa de Bagdá", de Haroldo Lobo e David Nasser, na voz de Nelson Gonçalves. A primeira parte da letra diz:
"Ô Alá, ô Alá,
Eu quero, quero, quero encontrar
Aquela que roubou o meu olhar,
Pois ela é a Princesa morena mais linda de Bagdá".

terça-feira, junho 16, 2009

LOA PARA UMA DAMA HONORÁRIA

Este espaço é hoje ocupado pelo potiguar João Charlier Fernandes. Poeta sem livro publicado, participou, no entanto, de algumas antologias de poesia no RN., a primeira delas na década de 1960, quando ainda era adolescente. Cinéfilo sensível, participou do livro "Clarões da Tela - O cinema dentro de nós" (EDUFRN/2006) , uma coletânea de críticas sobre filmes, sob a organização de Bené Chaves e Marcos Silva. O artigo acima intitulado foi publicado em março/2004, em homenagem à sua mãe, que estava completando 90 anos. Saiu no "Diário de Natal", onde Charlier escrevia com certa frequência. Ei-lo.
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Alguém já observou - e observou bem - que, quando me meto a escrever, constantemente chamo em meu auxílio a primeira pessoa do plural. É verdade. Trata-se de uma escolha que me agrada, até porque acabo evitando aquele tom individualista que se apossa do texto quando ele é regido pela primeira pessoa do singular. Mas neste instante especial, em que pretendo homenagear uma pessoa a quem devo tudo, e que tem sido a principal razão das poucas alegrias que ainda é possível experimentar nesta etapa do meu caminhoexistencial carregado de escolhos, neste momento especial, repito, invoco a minha individualidade mais intransferível e secreta para celebrar a excelsitude de uma mulher que me ensinou a receber a vida como uma dádiva de Deus. Que me educou no princípio de que o coração humano, maltratado por tantas desilusões, só pode encontrar alento e sossego quando, liberto das amarras da ufania, começa a navegar nas águas tranquilas que conduzem ao porto seguro da fé. E que sempre estava presente no quarto de dormir da minha infância, quando pequenas dores do corpo - as da alma viriam depois - começavam a plantar no meu ser as primeiras sementes do sofrimento.
Na ação confortadora, no apego à família, na força do exemplo, no recato de tantas vigílias, na consciência de que nascemos para morrer, mas, enquanto não morremos vivemos para renascer, na intuição de que o "estar-no-mundo" pressupõe o "estar-no-mundo-para servir", na afabilidade, na alegria e na tristeza, na lágrima e no sorriso, em tudo e por tudo essa senhora amorosa transformou a sua existência numa cotidiana prática de desvelo, beneficiando primeiramente o meu pai Reinaldo Fernandes Pimenta, com quem, durante mais de sessenta anos, conviveu na dimensão material, finita e tangível, até o advento daquela dolorosa madrugada do dia 12 de outubro de 1995, quando, pela suprema vontade do Criador, esse trato diário transfigurou-se para a dimensão espiritual, infinita e teocêntrica. Os beneficiários seguintes foram os filhos - Kerginaldo, Salete, Anchieta, Mirian, Iaponira (a doce Iaponira, que partiu tão cedo desta vida descontente), eu, Fernando, Irene e Celis - , amados e criados sob uma aura de abnegação, bondade, sabedoria e ternura, valores que continuam delineando o perfil moral dessa mestra que tem derramado sobre mim, desde os meus verdes anos (e, naturalmente, tem derramado sobre meus irmãos e sobre todos que dela se aproximam), os raios de sua luminosidade interior, e esse fulgor me aquieta e inspira, tal como a chama do amor absoluto iluminou para sempre o coração de Dante, desde que ele avistou Beatriz pela primeira vez, aos nove anos de idade, conforme revela o poeta em Vita nuova.
Poderia, neste instante, dizer muito mais. Mas a palavra, seja a mais forte e mais pura, apenas dá conta de sua transitoriedade, enquanto o silêncio, tirando de sua própria grandeza o que há de eterno no indizível, tem o poder de confortar a criatura humana - na prece, na reflexão, no exercício do amor. Assim sendo só me resta encerrar esse breve louvor, cantiga de bendizer, fio do meu tear de afeto, fruto que procurei cultivar na sementeira da gratidão. Oferenda que dedico à minha mãe Giselia Gurgel Fernandes, que neste dia 05 de março de 2004, com a graça de Deus estará chegando aos noventa anos de idade.

terça-feira, junho 09, 2009

DECAMERON (Il Decamerone/1972)


"Decameron" é o primeiro filme da denominada "Trilogia da Vida" feita por Pier Paolo Pasolini, complementada por "Contos de Canterbury" (1973) e "As 1001 Noites de Pasolini" (1974). Das cem histórias do clássico de Giovanni Boccaccio, Pasolini aproveitou nove. Na maior parte destas ele privilegiou o erotismo em forte dosagem, com cenas de sexo explícito, onde é exposta a nudez, mas permeadas de um humor irreverente, atingindo até o escrachado. Humor em que é percebível a crítica ao clero (em dois episódios: o das freiras que seduzem um jovem humilde que vai trabalhar como jardineiro no convento e que se finge de surdo-mudo, e o do matreiro padre, que se vale da credulidade do casal, fazendo os dois crerem que ele transformaria a esposa em uma égua, para vê-la nua e se aproveitar dela, na presença do marido), à burguesia nascente, enfatizando a ganância material.
Mesmo nas histórias a que faltam o erotismo e a prática sexual, o humor comparece em meio à malícia dos personagens, à esperteza (confrontando-a com uma ingenuidade quase infantil), à cobiça e até ao escatológico, como na primeira história. Vemos aqui um Pasolini debochado, impiedoso na crítica às pessoas (de algumas destas destacando defeitos físicos) e aos costumes, mostrando-se ainda mais irreverente do que em certos filmes anteriores. Era uma nova fase de sua carreira, e, para inaugurá-la, não poderia escolher ninguém melhor do que um autor da linhagem de Boccaccio.
Entre os personagens fictícios infiltra-se um personagem real: o pintor Giotto di Bondone, interpretado pelo diretor. Contratado para pintar o interior de uma igreja, a sua presença, talvez, sirva como uma espécie de contraponto às nove histórias que compõem o filme. E é possível que ela represente uma homenagem de Pasolini a Giotto, amigo de Boccaccio, e, segundo se diz, citado por este no seu livro. Durante o processo de criação da pintura, Giotto tem sonhos com santos e até com Maria, personificada por Silvana Mangano, ainda esbanjando beleza do alto dos seus 42 anos, os quais irão lhe irão servir de inspiração.
Seja por qual motivo for, essa presença do pintor, no entanto, passa a impressão de ser um elemento estranho em um filme cuja pontaria mira nos alvos já mencionados. Ainda mais porque faz também parecer que, através dela, Pasolini pretendeu fazer uma (leve) análise do processo da criação artística (observe-se que "Decameron" se encerra com esta indagação de Giotto, depois de concluído o trabalho: "Por que criar uma obra de arte, se sonhar com ela é tão mais doce"?), análise, a meu ver, inapropriada à proposta e ao espírito do filme, que, apesar disso, não chega a ser prejudicado e constitui-se em um dos melhores do cineasta.

terça-feira, junho 02, 2009

O ESPECTADOR E A ATRIZ

Quando a atriz está sozinha em cena
me lembro daquele filme de Buster Keaton
e sinto desejo de penetrar na tela.


COMO SE FAZ UM POEMA?
Um poema se faz como o minucioso processo de produção
da rapadura?
Um poema se faz com a paciência do relojoeiro
ao consertar um relógio?
Um poema se faz com o desvelo de uma mãe
pelo filho enfermo?
Um poema deve-se deixá-lo livre como uma criança
que está descobrindo o mundo?
Um poema se faz com "sangue suor e lágrimas"?
Ou se faz com o mesmo deleite
de quando se come um prato saboroso?

E eu sei?
Pergunte a um poeta.