quarta-feira, fevereiro 08, 2006

CINEMA: Por que gosto tanto dele?


Muitas pessoas já me perguntaram a origem e a causa do meu amor pelo cinema e nunca pude satisfazer-lhes a curiosidade. Porque, simplesmente, não sei explicar. Sou filho de um homem que detestava cinema, que, tenho quase certeza, nunca viu um filme em seus quase oitenta anos de vida. Minha mãe, a mesma coisa. Sim, alguns irmãos mais velhos gostavam, mas não me lembro de ter sido incentivado por nenhum deles a amar o cinema. E a este iam por diversão, como ocorreu comigo até aí pelos vinte anos. E se meus pais não tinham o mínimo interesse por cinema, é natural que proibissem os filhos menores de o frequentarem. Por isso não frequentei, com a assiduidade de meus amigos de infância, o Cine Canindé, da minha cidade, que funcionava três vezes por semana: às quintas, sábados e domingos. Mas, apesar da proibição, eu ia ao cinema na minha infância. Escondido dos meus pais, como se estivesse cometendo um grave pecado. Mas ia. Me lembro dos seriados, dos westerns de Durango Kid e companhia e até de um gênero de filme (geralmente exibido aos domingos) que os meninos chamávamos de "filme de amor".
A memória não me deixa lembrar como conseguia dinheiro para ver os filmes. Pode ser que algumas vezes tenha me socorrido de uma das minhas irmãs, já moça-feita. Ou por um outro meio. Um dos meus amigos era filho do proprietário do cinema, talvez o homem mais rico da cidade. Mas aí a memória é generosa comigo, nunca me atrevi a lhe pedir pra me botar pra dentro do cinema do pai.
Agora, com um riso retrospectivo, menciono um expediente nada honesto para entrar no cinema. Mas isso ocorreu umas cinco, seis vezes, no máximo. Sem um tostão no bolso, sem querer perder o seriado, ou o filme de caubói, olha o que eu fazia. Me postava perto dos degraus que levavam ao porteiro e esperava, entre ansioso e amedrontado, a entrada de um grupo de pessoas. Quando isso ocorria, eu, depressa, me misturava entre elas e, sempre ligeirinho, ia procurar uma cadeira bem longe do porteiro. Uma noite ocorreu um fato engraçado. No momento em que ia entrando, talvez pela pressa, escorreguei e me esborrachei no chão, às vistas do porteiro. Este (Deus o tenha), não fez nada, até riu comedidamente e não impediu que, ao me levantar, eu fosse em frente. Foi a última vez em que entrei "de graça". Na vez seguinte (como me lembro!), apareci, altivo, de ingresso na mão. O pobre porteiro deu um risinho irônico, como quem diz hoje você vai entrar como todos os outros o fazem.
Ao encerrar este texto, em que mais uma vez não consegui explicar como fui acometido pela "doença do cinema" (como diz um personagem de Cinema Paradiso) não posso omitir o incentivo que recebi de alguns companheiros do Cineclube Tirol, . Ao ingressar nele, em 1965, quando cheguei a Natal, fui aprimorando a visão crítica do cinema, graças ao convívio com companheiros, como Gilberto Stabile, Franklin Capistrano, Bené Chaves e, claro, Moacy Cirne.

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