sábado, março 18, 2006

30 ANOS SEM VISCONTI

Ontem, 17 de março, fez 30 anos que Luchino Visconti morreu. Esse milanês, nascido em 2 de novembro de 1906 (neste ano, portanto, se dará o seu centenário de nascimento), foi um dos gigantes da arte cinematográfica. Assistente de direção de Jean Renoir no inacabado "Une Partie de Campagne", estreou na direção em 1942, com Ossessione, uma adaptação do livro "O Destino Bate à Porta", de James Cain. Esse filme é considerado o inaugurador do Neo-Realismo. Seis anos depois, ele realizaria aquele que é o seu maior filme, La Terra Trema, Um semi-documentário, já que se, por um lado caminha a exposição veraz das condições de vida dos pescadores de uma comunidade, explorados pelos que verdadeiramente lucram com o seu duro e arriscado trabalho, por outro cria uma história centrada numa família, cujo filho mais velho se rebela contra a situação, consegue que saiam dela por algum tempo, mas o implacável destino os faz retornar à "vidinha" de sempre. Daí para frente, Visconti construiria uma admirável carreira no cinema (apesar de um ou outro fracasso), alternando-a com a atividade teatral, chegando , inclusive, a dirigir óperas, tendo a cantora Maria Callas como estrela principal. Aliás, essa sua participação no palco o tornou alvo de ataques de alguns críticos, que enxergavam em sua produção cinematográfica a forte influência da linguagem teatral. O escritor Alberto Moravia, que foi também crítico de cinema, declarou certa vez que Visconti não era um diretor de cinema e sim um diretor de teatro. Uma infeliz opinião do grande escritor, para dizer o mínimo. Mas Visconti nem estava aí para esse tipo de crítica. Achava natural que o cinema poderia acolher elementos teatrais, da mesma forma que o teatro poderia receber influência do cinema. Esse intercâmbio só faria promover o enriquecimentos das duas formas de arte.
Um grande apaixonado também pela literatura, não foi por acaso que Visconti tenha se valido de obras literárias para fazar vários de seus filmes, Além do americano James Cain (cujo livro "O Destino Bate à Porta", dizem, fora lhe recomendado por Renoir), ele adaptou Dostoiewski ("Um Rosto na Noite"), Camus ("O Estrangeiro"), Camilo Boito ("Sedução da Carne")Thomas Mann ("Morte em Veneza"), D' Annunzio ("O Inocente", seu último filme), Giuseppe Tomasi Di Lampedusa ("O Leopardo"). Talvez mais um ou outro.
A sua biografia registra uma curiosidade (talvez se pudesse dizer melhor um paradoxo): pertencente à classe aristocrática (era conde), bandeou-se para o Partido Comunista. E na Segunda Guerra, juntou-se às forças de resistência ao nazi-fascismo, chegando a ser preso e a sofrer torturas. Além disso, uma das características do seu cinema é a preocupação social. Mas a linhagem aristocrática, pela vivência e pela compreensão da classe foi benéfica a Visconti na adaptação do livro "O Leopardo" (cujo autor era também um nobre), possibilitando-lhe realizar o seu segundo maior filme. Pois se como afirma Moacy Cirne, ele não era o diretor mais capacitado para transpor para o cinema o universo camusiano, não creio que nenhum de seus pares pudesse captar com perfeição a mensagem do livro de Lampedusa, que mostra a chegada da burguesia para substituir a aristocracia. A proximidade da morte do Príncipe de Salinas simbolizando a morte daquela classe. E isso feito com o apuro plástico e o requinte visual, tão presentes no cinema de Visconti.
E por falar em morte, ela foi muito cruel com o cinema italiano na década de 1970. Além de Visconti, "a indesejada das gentes" levou De Sica, Rosselini, Pasolini e Germi, este um diretor do segundo time, que, contudo, deu uma elogiável contribuição ao cinema, seja na comédia (sobretudo), seja em outros gêneros.

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