terça-feira, março 03, 2009

O NONSENSE NUM SAMBA DE ASSIS VALENTE


Na foto, Assis Valente à esquerda de Carmen Mi-
randa e Dorival Caymmi à direita.
In Google.
O baiano José Assis Valente (1911-1958) foi um dos grandes compositores da nossa música popular. É o autor do clássico "Boas Festas", que se tornou uma espécie de hino do Natal brasileiro; contudo, é uma música triste, que não celebra o Natal, contendo uma crítica ao mito do Papai Noel, com versos inspirados, como "eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel", "felicidade eu pensei que fosse uma brincadeira de papel", entre outros. Mas fez músicas alegres, a que não faltava a crítica de costumes, como "Good bye, boy", em que ele investe contra o começo da influência do inglês no Brasil, como consequência do cinema americano. Outra composição sua, ..."E o Mundo Não se Acabou", satiriza o pavor que tomou conta de parte da população provocado por boatos sobre o iminente fim do mundo ("falava-se num misterioso eclipse, colisão de cometas com a Terra, tudo isso reforçado pelo medo de uma segunda guerra mundial, prestes a explodir na Europa", conforme se lê no fascículo dedicado a Assis Valente sobre a História da Música Popular Brasileira, Abril S/A Cultural e Industrial/1970). Composta em 1937 e gravada por Carmen Miranda em 9.3.38, transformou-se num dos grandes sucessos da cantora. Carmen, aliás, deve a Assis Valente muitos dos seus sucessos, antes de ir para os States; entre outros não se pode esquecer de "Camisa Listada", que se tornou também um clássico da MPB.
Em 2 de abril de 1939, ela gravou "Uva de Caminhão", que Assis compusera no ano anterior. É uma música que se não se diferencia das outras do compositor pela verve, a ironia, possui um componente inédito: a letra coloca num balaio só palavras e expressões da época, Branca de Neve e Os Sete Anões, Caramuru, a pensão de uma Dona Estela, uma Florisbela e "as cadeiras dela", dois locais do Rio, resultando numa salada em que pontifica o "nonsense". O ponto inicial de tudo isso recorria a um costume no Rio, naqueles tempos, de se vender uva em caminhão, segundo informa o mencionado fascículo. Curiosamente, Assis classificava a música de samba-revista.
Eis a letra.
* * * * * * * * * * * * * * *
Já me disseram que você andou pintando o sete
andou chupando muita uva
e até de caminhão.
Agora anda dizendo que está de apendicite
vai entrar no canivete, vai fazer operação.
Oi que tem a Florisbela nas cadeiras dela
andou dizendo que ganhou a flauta de bambu
abandonou a batucada lá da Praça Onze
e foi dançar o pirolito lá no Grajaú.
Caiu o pano da cuíca em boas condições
apareceu Branca de Neve com os sete anões
e na pensão da dona Estela foram farrear.
Quebra, quebra gabiroba
quero ver quebrar.
Você no baile dos quarenta
deu o que falar cantando o seu Caramuru.
Bota o pajé pra brincar
tira, não tira o pajé
deixa o pajé farrear.
Eu não te dou a chupeta
não adianta chorar.

4 comentários:

Mariazita disse...

Querido Francisco
É, de facto, um "nonsense" completo. Teve a sua época.
Hoje em dia também se faz poesia desse género...que eu, maldosamente, classifico de "pseudo poesia de vanguarda".
Penso que isso acontece porque algumas pessoas viraram poetas/poetisas sem terem as qualidades necessárias: saber escrever e veia poética.
E chega de "dizer mal"...

Muito obrigada pela visita e comentário na minha "Casa".
Fiquei feliz com as suas palavras de apreço.

Beijinho carinhoso
Mariazita

BOTINHAS disse...

Podes ir buscar o teu prémio quando quiseres.
Ele aguarda-te a partir deste momento.

Abraço fraterno
Botinhas

Mariazita disse...

Querido Francisco
Ainda chegou a tempo, sim senhor!
Faltavam 10 minutos para a meia noite...portanto ainda era o MEU dia.
Mas...deixe-me dizer-lhe que, tarde ou cedo, o meu amigo chega sempre a horas. Importa é que chegue! :)))

E, se me permite (eu sei que sim), aproveito para agradecer o seu comentário a Anita, e, a esse respeito, eu direi:

À Renata eu respondi :
"Você quer me matar? E promete ir no meu enterro?"
Falando sério: penso que lhe disse – se não disse faço-o agora – que a Anita já está escrita, num “rascunho” de cerca de 500 páginas do Word.

Até sempre, querido amigo.

Beijinhos
Mariazita

Mariazita disse...

PS - Peço desculpa, mas cliquei em Publicar antes de tempo...
Queria ainda acrescentar:

Publicá-la na íntegra, num blog, seria um absurdo. Estou, por isso, a fazer um resumo. Mas como sou absolutamente inapta para sintetizar…quase valia mais escrever de novo :)))
Há “famílias paralelas” que tive que “matar”, e outras coisas no género. Enfim, vai indo, aos poucos, conforme o tempo disponível.
Obrigada pela visita e comentário.
Beijinho carinhoso
Mariazita