sábado, outubro 14, 2006

DOIS POEMAS DE HORÁCIO PAIVA

CAFÉ DA MANHÃ
"De toda a memória somente vale
o dom esclarecido de evocar os sonhos" (Antonio Machado)

Muito havia a conquistar -
e quase tudo fora conquistado


No meio do caminho, afinal, indago:

O que, ao tumulto, sobreviveu?

O que esperar dos despojos
dos dias infinitos?


- Nada.


Mas, enfim, posso pisar na serpente,
agora morta,
e tomar o meu café da manhã
serenamente.

- Do livro Navio entre Espadas (2002)


LÁZARO
Herdara a sombra da figueira
as ráízes a doce
umidade da terra

Herdara o paraíso
escuro da noite
a paz e o acalanto das águas

Mas a tua voz chamava-me
ordenando-me a volta à ilusão
das viagens à luz
ofuscante do meio-dia
à poeira das estradas

E eu que julgara haver
cumprido o meu dever
a missão que o senhor me confiara
e isento já da faina diária
dos renascimentos

Retorno ao calor
à peleja com estranhos
à repetição dos dias iguais
ao suor do meu rosto

E como Jacó a servir mais tempo
para merecer Raquel
servo fiel retorno
e já diviso à distância
o tumulto
o choro das irmãs
a casa
repleta de olhares curiosos

Do livro inédito O Som Imóvel.

MORRE GILLO PONTECORVO

Nesta última quinta-feira, perto de completar 87 anos, faleceu Gillo Pontecorvo, diretor de, entre outros filmes, "A Batalha de Argel" (1965) e "Queimada" (1969) , com Marlon Brando. O primeiro, que mostra a verdadeira batalha dos militantes da Frente de Libertação Nacional, da Argélia, contra os colonizadores franceses, é considerado o seu melhor filme, tendo ganho o Leão de Ouro do Festival de Veneza. Estreou no cinema com o episódio " Giovanna" do filme "Die Wind Rose" (1956) , realizado por vários diretores, entre os quais o brasileiro Alex Viany. Seu primeiro longa é "A Grande Estrada Azul, de 1958, estrelado por Yves Montand e Alida Valli. Pontecorvo dirigiu o Festival de Veneza de 1992 a 1996. Nascido em Pisa (Itália), Pontecorvo estudou Química, antes de dedicar-se ao jornalismo. Filiou-se ao Partido Comunista no início dos anos 1940 e participaou da resistência ao nazi-fascismo. Uma curiosidade: segundo consta, "A Batalha de Argel" chegou a ser utilizado pelo Pentágono como "um manual contra o terrorismo". Amarga ironia!










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