sábado, setembro 09, 2006

UM CASO REAL E UM FILME

Há poucos dias a mídia noticiou a fuga de uma jovem austríaca da casa onde fora mantida prisioneira, pelo seu sequestrador, durante um longo período. Uns sete, oito anos, por aí. Ainda não atingira a adolescência quando o sequestro ocorreu. Ao retomar a liberdade já era uma moça-feita, conforme vimos pela televisão. Ao ser entrevistada, entre outras revelações, uma chamou mais a atenção: durante o tempo em que esteve nas mãos do sequestrador, os dois costumavam sair de casa para uns passeios e que ela aproveitava o contato com as pessoas para fazê-las entender que ali estava na companhia do sequestrador. Fazia para alguém um movimento com os olhos, que, no entanto, nunca foi percebido. Até que um dia ela conseguiu escapar (não me lembro de que maneira) e agora estava sã e salva.
O insólito nesse sequestro é que o rapaz nunca pediu dinheiro à familia da moça para libertá-la. E, pelo aspecto da jovem, ela não sofreu maus-tratos e, parece, que não foi obrigada a manter relações com o sequestrador. Tudo indica que o rapaz tinha um amor platônico por ela e que devia sofrer de algum distúrbio mental ou psíquico. Tanto que se matou, quando se viu privado da convivência com ela.
Esse caso me fez lembrar de O Colecionador, um filme de William Wyler, 1965, e um dos pontos mais altos da carreira do cineasta. É a história de um rapaz solitário, que colecionava borboletas, e que se apaixona por uma moça. Impedido pela timidez de tentar um relacionamento saudável com a moça, ele a sequestra e a mantém presa em sua casa por algum tempo. O móvel do sequestro é o de ter aquela jovem em sua companhia para sempre e, pela demonstração do seu amor, aliada à convivência, conquistar um dia o coração dela. Em vão. O final do filme difere do final do caso real. Confesso que não me lembro bem, decorridos quase quarenta anos que o vi. Sei que a moça morre, parece que de morte natural. Tampouco me lembro do que aconteceu ao sequestrador (Bené e Moacy talvez possam me esclarecer) ; se ele, a exemplo do sequestrador da jovem austríca, se suicidou, ou se foi apanhado pela polícia. Esse belo filme bem que poderia ser lançado em DVD. O sequestrador é interpretado por Terence Stamp, naquela época gozando de um grande prestígio, que o levou a trabalhar com Pasolini (Teorema), Fellini (Toby Dammitt, um média-metragem) e Losey (Modesty Blaise). A jovem era vivida por Samantha Eggar, que esteve longe de ter o mesmo sucesso de Stamp e que desapareceu sem deixar rastros. Nem sei se ainda está entre nós.

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