sábado, setembro 30, 2006

CAPOTE (2005)

Da biografia do escritor Truman Capote (1924-1984) escrita por Gerard Clarke, o filme do quase estreante Bennett Miller ocupa-se apenas dos 5 ou 6 anos que Capote levou para escrever o livro "A Sangue Frio" ("In Cool Blood") , que trata do assassinato de uma família de uma cidadezinha do estado de Kansas, em novembro de 1959. Todo esse tempo foi consumido pelo escritor para. antes de escrever o livro, realizar pesquisas sobre a comunidade local e sobre a personalidade e a vida dos dois assassinos. Na verdade, de um dos assassinos, Percy Smith (Clifton Collins Jr.) . O filme não procura esclarecer o interesse do escritor em Percy, mostrado logo quando, no meio da pequena multidão postada à frente da delegacia de polícia para ver a chegada dos dois criminosos capturados, ele o observa atentamente na sua caminhada para a delegacia. Há a atração física por Percy (como se sabe, Capote era homossexual)? Ou porque, nas conversas que tem com ele, Capote descobre uma certa identidade entre a vida dos dois? Ou as duas coisas? O roteiro opta pela ambiguidade e esta se torna um dos pontos altos de "!Capote".
Mas se não é exatamente uma biografia do escritor, o filme fornece alguns dados sobre a personalidade do escritor: o humor ferino, a vaidade, o vedetismo e mais uma ou outra faceta de um homem de natureza polêmica. Outro ponto alto de "Capote" ´trata do seu abatimento depois que os assassinos são executados, fato que lhe dá, enfim, condições de concluir o livro. A sua expressão no avião que o leva de volta a Nova York não deixa dúvidas sobre o seu estado. Terá valido a pena todo o trabalho consumido para escrever um livro que ele sente ser importante? Do ponto de vista literário, sim. "A Sangue Frio", definido como um romance-reportagem para
os outros( Capote o chamava de um "romance de não-ficção) , é uma obra marcante, seminal. Mas do ponto de vista humano? Ético? Moral? A verdade é a seguinte: se "A Sangue Frio" rendeu ricos dividendos literários e também financeiros (foi, inclusive, transposto para o cinema por Richard Brooks em 1967) , também marcou, negativamente, a vida de Capote. Segundo informam os créditos finais, ele não conseguiu mais concluir nenhuma obra. Além disso, o gosto pela bebida foi se intensificando e as complicações dela resultantes levaram-no à morte aos 60 anos. E veja-se esta epígrafe escrita por ele no seu último livro (inacabado) , exibida também nos créditos finais: "Mais lágrimas são derramadas por orações atendidas que as não".
Mas não se pode falar em "Capote" sem falar na interpretação de Philip Seymour Hoffman. Na imitação da voz do escritor, na sua extravagância no vestir, nos trejeitos efeminados (mas evitando o mínimo de exagero) , o ator nos faz lembrar de outra grande atuação: a de Bruno Ganz em "A Queda - As Últimas Horas de Hitler". Se não tivesse outras qualidades, o notável desempenho do ator (que lhe rendeu o "Oscar" e o "Globo de Ouro") já faria de "Capote" um filme merecedor de ser visto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo espaço.
Beijo e boa semana,
Alice

www.asmaravilhasdopaisdealice.blogger.com.br