domingo, abril 23, 2006

UM POUCO DA POESIA DE MOACY CIRNE



Em Caicó,
mel e rapadura,
apaixonei-me por Ava Gardner,
por Brigitte Bardot,
por Gilda, a que nunca houve.
Em Caicó,
mel e puxa-puxa,
o mundo e o Fluminense nasceram
para mim.
E eu ainda não conhecia Nevers.



O Cineclube Tirol,
aos sábados,
sabia
dos nossos sonhos solitários.
O Rio Grande,
aos domingos,
era mais do que um cinema.
Depois,
nos outros dias,
havia tempo para tudo:
para Sartre Camus ou Pessoa na Ponta do
Morcego,
jazz ou samba na casa dos amigos.
Havia tempo
para às 5 da tarde
passar na Universitária
beber um conhaque na Palhoça
ou em Nemésio
jogar conversa fora no Grande Ponto.
Havia tempo para ler
Zila, ouvir Tita vibrar com o ABC.
Havia tempo.


Do Iara Bar,
em Areia Preta,
sedentários
embalávamos o nascer do sol.
Os pescadores,
pastores do imprevisível,
conversavam com os peixes
azuis
da manhã.


Os poemas, sem título, como os demais, foram extraídos do livro Rio Vermelho, edição Fundação José Augusto/Departamento Estadual de Imprensa, 1998.

Nenhum comentário: