quarta-feira, abril 19, 2006

MARCAS DA VIOLÊNCIA (A History of Violence/2005)


Há neste filme de David Cronenberg (A Mosca, Gêmeos - Mórbida Semelhança) uma imagem que assinala o aprisionamento do personagem Tom Stall (Viggo Mortensen), em um passado, do qual não consegue escapar. É a cena em que Edie (a bela Maria Bello) observa da janela da sua casa o marido lutar contra os 3 homens que o vêm perseguindo. O enquadramento da cena faz uma parte da janela se assemelhar à forma de uma cruz - uma cruz que Tom terá de carregar talvez pelo resto da vida. Bem que ele tentou construir uma vida nova ao lado da mulher e do casal de filhos. Uma vida tranquila, relativamente feliz, gozando de uma boa situação financeira, até que uma tentativa de assalto em seu restaurante desperta os fantasmas do passado. Ao matar os dois assaltantes, Tom converte-se em um herói, cuja fama ultrapassa as fronteiras da pequena cidade. A sua exposição na mídia (uma crítica que o filme não perde a oportunidade de fazer), no entanto, irá abalar o relacionamento com a mulher e o filho adolescente, quando chega à cidade Carl Fogarty (Ed Harris, ótimo, como sempre), que tem contas a ajustar com Tom. (De um grande impacto o momento em que Carl tira os óculos escuros, pondo à mostra a horrenda cicatriz, causada por ferimentos que Tom lhe infligiu.) Há, pois, uma drástica mudança na relação do casal, depois da luta, quando, instado pela mulher, Tom revela , sucinto, o seu passado, inclusive o verdadeiro nome, Joey Cusack; e essa mudança fica bem evidenciada no ato sexual que eles praticam na escada da casa, em que o prazer é substituído pela violência, em oposição ao praticado no motel, antes de tudo aquilo acontecer.
Um filme excelente, repleto de grandes momentos, teria que terminar com um final de antologia. São três minutos sem uma única palavra, quando Tom/Joey volta para casa e dá com a família reunida à mesa de refeições. Ele tinha saído para reencontrar o irmão Richie (William Hurt),. Mais do que um reencontro, um ajuste de contas entre os dois, marcado pela violência e morte. Em vez de palavras, o silêncio, os rostos contraídos da esposa (vestida de preto, como se já se considerasse uma víuva) do filho, o gesto da garotinha, meio sorrindo para o pai e indo buscar um prato para ele. Há uma troca de olhares entre o casal, e a expressão ambígua da mulher, confrontando-se com a de um homem abatido pela vergonha e o sofrimento, transfere para o espectador a decisão do futuro daquela família.

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