Quem gosta de cinema, mesmo não tendo interesse pela sua estética, há de concordar comigo que não existe nada mais irritante e aborrecido do que a dublagem de um filme. E a isso vem juntar-se, para os que assistem a um filme como um elemento de realização artística, a indignação pelo dano que a dublagem causa. Porque a voz do ator (principalmente se for um grande ator), com a inflexão, a dicção, o tom para exprimir os mais diversos estados da alma, etc., é parte indissociável do contexto de um filme e, por isso, não pode ser substituída pela voz de um dublador. Mas vamos admitir que um dublador tenha a capacidade, ou o talento, de imitar a voz do ator, dela absorvendo todas as nuanças; pois bem, ainda que ele atinja esse grau de perfeição, lhe faltará o mais importante: a sua participação na criação do filme, a sua interação com o diretor e com os demais intérpretes. Ele não passará da função de um "medium", incorporando apenas a voz do ator.
Não sei se ainda está vigorando uma lei que obriga as emissoras de televisão a exibirem, pelo menos, um filme legendado por dia. A lei visa a proteger os deficientes auditivos. Mas se ela ainda existe, não é respeitada, como, aliás, ocorre neste país, onde as leis, de um modo geral, existem para não ser cumpridas, a não ser quando o interessado é o governo. Tenho quase certeza que só a TV Bandeirantes cumpre essa lei, mas não o faz como ela é determinada, pois exibe um filme legendado em toda a semana , o que ocorre na madrugada de domingo para segunda. A Globo, com a soberba de quem está acima de tudo e de todos, até há poucos anos fazia o mesmo que a Bandeirantes, mas hoje, como as demais, não tem a mínima consideração pelos que não ouvem.
E a coisa poderia está pior. Nos anos 70 do século passado. um desses parlamentares que vão para Brasília só com o intento de causar malefícios à população, para cuidar dos seus interesses e do seu grupinho (e eles, infelizmente, formam a maioria) apresentou um projeto que implantava a dublagem dos filmes exibidos nos cinemas. Houve uma grita na imprensa (me lembro de uma reportagem na Veja insugindo-se contra a pretensão desse político) e no próprio Congresso deve ter havido vozes contrárias, e, para nossa sorte, o projeto foi arquivado. Ainda bem.
Um comentário:
O certo é haver sempre as duas opções. Uma só, qualquer que seja, é tolhimento do diretio de escolha. No cinema e na TV a cabo 97% das obras são legendadas. Na TV aberta tudo é somente dublado. As coisas estão erradas. Apesar de odiar filmes legendados e de admirar o trabalho de nossos ATORES EM DUBLAGEM, acho errado que em qualquer lugar só haja uma das opções.
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