terça-feira, setembro 13, 2005

CURIOSIDADES CINEMATOGRÁFICAS

1) Por duas vezes John Ford começou um filme e não o terminou. Os filmes foram Mister Roberts (Idem, 1955) e O Rebelde Sonhador (Young Cassidy, 1964), nos quais ele foi substituído, respectivamente, por Mervin Leroy e Jack Cardiff. Os motivos? Bem, no caso de Mister Roberts, foi uma questão de divergência com Henry Fonda, a respeito da concepção do filme. Fonda, que atuara na peça encenada na Broadway, e que fora escalado para trabalhar na adaptação dela para o cinema, tinha uma visão diferente da de Ford. Conforme relata João Lepiane numa matéria sobre o ator na revista Cinemin número 92, de abril/1992, os dois travaram acaloradas discussões durante as filmagens, ao ponto de Ford se aborrecer, pegar o boné e ir embora. E não foi só isso. O desentendimento entre Ford e Fonda resultou no rompimento de uma longa amizade entre eles. Eles jamais se reconciliaram e, evidentemente, nunca mais trabalharam juntos, desfazendo uma parceria formada em 6 filmes, entre os quais o clássico Paixão dos Fortes, de 1946.
Já em O Rebelde Sonhador o afastamento de Ford foi por motivo de doença. Ele trabalhou apenas duas semanas. Me lembro que algum depois do término das filmagens li um depoimento da atriz Julie Christie sobre o filme, em que ela se lamentava pela saída de Ford. E não apenas pelo que este representava na história do cinema, mas porque, segundo ela, o filme foi muito prejudicado pela conduta do seu parceiro Rod Taylor durante as filmagens. Julgando-se uma estrela, Taylor passou o tempo todo dando pitaco na direção de Jack Cardiff, que, passivamente, aceitava a interferência do ator. A bela Julie Christie (na época, muito solicitada pelos produtores) afirmava que isso não teria ocorrido, se Ford tivesse continuado na direção. E ela tem razão. Com o grande Ford, esse Rod Taylor não tirava a conta certa. É bom lembrar que, em ambos os filmes, Ford foi creditado como co-diretor.
2) Em Rashomon, a obra-prima de Akira Kurosawa, entre tantas imagens belas, há aquela do sol aparecendo por entre as árvores. Pois bem. Há uns 4/5 anos li uma matéria no Estadão, escrita pelo crítico e jornalista Sérgio Augusto, na qual este sustenta que essa mesma imagem aparecia no filme O Espadachim, de 1947; portanto, 3 anos antes de ela aparecer no filme do mestre japonês. O filme é dirigido por Joseph H. Lewis, sobre o qual um cinéfilo da nova geração, que me estiver lendo, poderá perguntar quem é esse cara? Pois saiba que esse Joseph H. Lewis foi um diretor de talento, a julgar pelo que dele dizem o próprio Sérgio Augusto (aliás, a citada matéria é sobre ele), Antônio Moniz Vianna (em seu livro Um Filme Por Dia, ele faz uma crítica elogiosa do filme do diretor, Reinado do Terror, 1958 ) e Francisco Luiz de Almeida Salles. Este último, na crítica ao filme A Mulher sem Nome, de 1950, no seu livro Cinema e Verdade, chega a fazer, entre outros elogios ao diretor o seguinte: "Pode-se afirmar, sem nenhuma dúvida, que Joseph Lewis já é agora um dos valores mais indiscutíveis do moderno cinema norte-americano". Dele só conheço Mortalmente Perigosa, (1949), que vi não tem muito tempo na televisão, e pude comprovar que o homem realmente tinha valor.
3) Em entrevista ao crítico francês Michel Ciment, o cineasta Joseph L. Mankiewick se gaba de ter sido pioneiro no uso da imagem congelada. Isso em A Malvada, 1950. Menas a verdade. Quatro anos antes o recurso já fora utilizado em A Felicidade não se Compra. Das duas uaa. Ou Mankiewicz não conhecia o filme de Frank Capra (o que acho pouco provável; muito provável é Kurosawa não conhecer o filme de Lewis), ou mentiu descaradamente.

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