sábado, janeiro 29, 2005

DOIS POETAS DO NORDESTE

LÁZARO

Horácio Paiva - Norte-rio-grandense

Herdara a sombra da figueira
as raízes a doce
umidade da terra

Herdara o paraíso
escuro da noite
a paz e o acalanto das águas

Mas a tua voz chamava-me
ordenando-me a volta à ilusão
das viagens à luz
ofuscante do meio-dia
à poeira das estradas

E eu que julgara haver
cumprido o meu dever
a missão que o Senhor me confiara
e isento já da faina diária
dos renascimentos.

Retorno ao calor
à peleja com estranhos
à repetição dos dias iguais
ao suor de meu rosto

E como Jacó a servir mais tempo
para merecer Raquel
servo fiel retorno
e já diviso à distância
o tumulto
o choro das irmãs
a casa
repleta de olhares curiosos.


SONETO PRINCIPALMENTE DO CARNAVAL

Carlos Pena Filho - Pernambucano (1929-1960)

Do fogo à cinza fui por três escadas
e chegando aos limites dos desertos,
entre furnas e leões marquei incertos
encontros com mulheres mascaradas

De pirata da Espanha disfarçado
adormeci panteras e medusas.
Mas, quando me lembrei das andaluzas,
pulei do azul, sentei-me no encarnado.

Respirei as ciganas inconstantes
e as profundas ausências do passado,
porém, retido fui pelos infantes

que me trouxeram vidros do estrangeiro
e me deixaram só, dependurado
nos cabelos azuis de fevereiro.
(Do livro "Os Melhores Poemas - Carlos Pena Filho - Global Editora, 1983)



OBITUÁRIO - VIRGINIA MAYO
No dia 17 deste mês faleceu a atriz Virginia Mayo. O nome só é familiar para os espectadores da minha geração e anteriores. Em fins da década de 1940 e por quase toda a década da de 50, ela foi uma das atrizes mais populares do cinema americano, embora nunca tenha conquistado o status de grande estrela. Loura, magra, sofria de um pequeno estrabismo, que, no entanto, parecia torná-la mais bonita e sensual. Quando, adolescente, comecei a descobrir as atrizes, Virginia logo se tornou uma das minhas preferidas. A perda da popularidade começou na década de 60 e se acentuou na década seguinte. Fez poucos filmes, a partir dos anos 70, até encerrar a carreira, já velha, em 1997.
Fez muitos filmes, mas só uns quatro ou cinco merecem ser lembrados. Os Melhores Anos das Nossas Vidas, (William Wyler/1946), ainda como coadjuvante; Fúria Sanguinária (1949), contracenando com um furioso e enlouquecido James Cagney; Embrutecidos pela Violência (1951), ambos de Raoul Walsh; O Gavião e a Flecha (Jacques Tourneur/1950), um atraente e divertido capa-e-espada. E ainda, talvez, o western Pelo Sangue dos Nossos Irmãos, também de Torneur. Seu nome verdadeiro era Virginia Clara Jones e estava com 84 anos. Que a terra lhe seja leve, Virginia.

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