domingo, maio 16, 2010

PRESENÇA DE ESPÍRITO


Um irmão meu e o papai conversavam na antessala da nossa casa, quando surgiu na calçada uma amiga do meu irmão, Eliete, que vinha de uma visita a alguém que morava na nossa rua. Parou, falou alegremente com os dois, que se levantaram e foram ao encontro dela. Conversaram rapidamente, a moça estava com pressa, nem pôde atender ao convite para sentar um pouco. Quando ela já se despedia, o meu irmão se lembrou de um compromisso que assumira de comparecer a um evento, da qual a amiga participara, e disse, como se desculpando: "era para eu estar lá". Ao que ela disse, em cima da bucha, " mas não estalou". O papai soltou uma risada. E pelos anos a fora repetiu o fato, sempre revelando admiração pela presença de espírito de Eliete.
Há pessoas agraciadas com esse dom, que não tenho. Só muito raramente me acontece replicar algo que um amigo, ou um conhecido, diz de mim na presença de outras pessoas. Muito tempo depois é que me ocorre ter dado a resposta, mas aí Inês já está enterrada. A cantora Aracy de Almeida pertencia a essa categoria. Contam-se algumas histórias a respeito dessa sua presença de espírito, exposta, muitas vezes, de forma mal humorada. Gosto muito de uma dessas histórias. Aracy ia viajar para um compromisso profissional, se não me engano, para São Paulo. No aeroporto, de repente, desistiu da viagem e disse ao amigo, que a acompanharia, que estava com o pressentimento de que o avião iria cair. O amigo procurou dissuadi-la de que não ia acontecer nada de mau no voo, não havia razão pra ela se preoucupar. Aracy se manteve firme na decisão, até que o acompanhante, como último argumento, soltou esta: "Ora, Aracy, pode não ser hoje o dia de você morrer". E Aracy: "É, mas pode ser o dia do piloto".
Há uma de um humorista americano famoso. Não me lembro do nome dele. Estava jantando num restaurante em Nova York. Terminada e paga a refeição, ele se levanta e caminha para a saída. Estava um tanto triscado, pois apreciava um mé. Ao chegar à porta, com a vista prejudicada pela bebida, confundiu o traje de um cliente, que entrava, com o do porteiro. "Me arranje um táxi", ordenou ao homem. Este parou, olhou para o humorista com um ar superior e disse: "Senhor, eu sou um almirante". Resposta do humorista: "Então, me arranje um navio". Pano extremamete rápido, como dizia Millor "Vão Gogo" Fernandes" nos tempos da revista O Cruzeiro.

13 comentários:

Jota Effe Esse disse...

Essas tiradas são muito interessantes, mas eu, também, raramente consigo produzir uma. só depois é que me vem a frase certa. E você falou da revista O Cruzeiro, da qual tenho muita saudade. Meu abraço.

Sergio Andrade disse...

É, eu também não tenho essa rapidez de raciocínio, meu caro Sobreira. Paciência!

A Cruzeiro era ótima mesmo.

Um abraço.

Claudinha ੴ disse...

Olá Sobreira!
Ah,estou acostumada com estas presenças de espírito. meus filhos são assim. Especialmente o meu rapaz (faz 19anos na quarta)que tem o dom de reunir as pessoas por onde vai. Se pega o violão logo sai de improviso uma paródia para fulano de tal, ou mesmo em sala de aula ele era meu calvário porque sempre saía com gracinhas e todos adoravam. Ele deveria trabalhar com isso.
Eu tenho um pouco, mas prefiro só pensar. Meus filhos já falam na lata!
Lembro de algumas coisas da Aracy de Almeida na TV, principalmente de fazer questão do mau humor e de seus óculos no melhor estilo anos 70.
Um beijo procê, ótima semana.

* O post é sobre minha mudança que está demorando a acontecer...
* A música do post é ouvida ao clicar no play da caixa da barra lateral. Às vezes demora um pouquinho se a conexão está lenta.
Um beijo e obrigada pela atenção.

Mariazita disse...

Querido Francisco
De facto há pessoas que têm a resposta na ponta da língua, como por cá se diz.
Também a mim me acontece algumas vezes dizer: eu devia era ter dito...mas é quando a cena já passou; na altura a pessoa parece que fica com o cérebro paralizado, e não sai nada!
Essa do porteiro e do almirante é conhecida, sim, e tem imensa graça.

Uma noite feliz. Beijinhos

. fina flor . disse...

gosto muito de gente rápida, inteligente, bem humrada e até sarcástica, rs*.... adorei as respostas dadas [no seu texto] rs*

beijos e boa semana, querido

MM.

Ilaine disse...

Amigo Francisco!

Suas crônicas são saborosas.

Presença de espírito - eu sou uma verdadeira faísca atrasada. Acho esplêndido como algumas pessoas conseguem fazer uso desse dom, como você falou. Esta do almirante e do navio é demais. Eu estou me divertindo aqui com a resposta do cliente.

Abraço

Priscila Lopes disse...

Adoro crônicas verdadeiramente espirituosas!

Jacinta Dantas disse...

Pois é Francisco, quando alguém fala algo de mim, minha presença...

também eu sou da turma que, na hora, travo a língua e nada sai. Aí, depois, refletindo sobre, analisando o tom da fala, a expressão, o conteúdo...
Ai Meu Deus!
como diria meu pai, "aí a vaca já foi pro brejo".

Um abraço

PS: estou na semana dos tais exames para checar o coração. Cruz credo! São tantos.

Vanuza Pantaleão disse...

Olá, Sobreira! Minha mãe foi para sampa com o maridão e me recomendou, me intimou a visitar seus amigos, mas até que estou gostando. Ela tem um disco do Juca Chaves que conta as peripécias da Aracy e eu rio muito com isso. Ela chamava as batatinhas fritas de putinhas e o Juca dizia que nem as batatinhas escapavam dela. Também não sei responder na bucha. Minha mãe sabe e diz que isso se aprende. Gostei muito de vir aqui. Um abraço do Guilherme!

DILERMArtins disse...

Mas bah, Sobreira.
Na ora eu fico no "a, é..."
Depois, quando vem a respota, me dá uma raiva! Uma frustração!
Mas tudo bem, volta e meia consigo chutar uma na bucha, fico faceiro! rsrs
Abração.

Marco disse...

Ré, ré, ré...
Pois é, amigo Sobreira. Admito que também tenho minhas tiradas de vez em quando. Já soltei alguns gracejos desses de fazer a moçada gargalhar.
Mas admiro sempre os grandes frasistas, aqueles que estão sempre prontos a entrar cortando a bola na rede tão logo alguém a levante.
Boa postagem.
Carpe Diem.

tb disse...

:) gosto imenso desse dom. às vezes tenho-o.:)
Sempre bem escrito!
beijinho

Lédy Picinini disse...

menino Francisco,

ontem estava na aula de rádio. Meu professor Francisco "Quico" de oliveira ao entrar percebi que estava com um camisa idêntica à minha. Não aguentei e soltei: - 'Bonita camisa, professor" Ele deu em cima: - " É em homenagem à você, que hoje veio, depois de sumir duas aulas." Abração