domingo, janeiro 17, 2010

DUAS OU TRÊS COISAS QUE SEI DE SHIRLEY TEMPLE




Comecei o ano ganhando um presente do amigo Anchieta Fernandes, um dos mais destacados intelectuais do Rio Grande do Norte. Um calendário, que ele mandou fazer, para comemorar os 70 anos do filme "O Pássaro Azul" (The Blue Bird/1940), de Walter Lang e estrelado por Shirley Temple. O calendário traz uma foto da atriz, também com um pássaro pousado na mão, quase a mesma que está nesta postagem. Não conheço "O Pássaro Azul", que é uma adaptação de uma peça homônima do dramaturgo belga Maurice Maeterlinck; aliás, só conheço de Shirley Temple "Sangue de Heróis" (Fort Apache) , de John Ford, em que ela era filha de Henry Fonda e namorava John Agar, então seu marido na vida real. Foi seu segundo filme com Ford, pois já trabalhara com ele em "A Queridinha do Vovô" (1937), contracenando com Victor McLaglen, um dos vários integrantes da "troupe" do diretor.
Shirley foi um desses fenômenos produzidos por Hollywood nos seus anos dourados. Foi, de longe, o maiorl de todos os atores mirins. Estreou no cinema aos 3 anos de idade e, aos 5, já cantava e dançava. Graças a ela, a Fox se livrou da falência, naquele período econômico e social vivido pelos Estados Unidos chamado de Depressão. Dizem que chegava a receber cerca de duas mil cartas por semana. Era a escolhida para interpretar a garota de "O Mágico de Oz", mas a Fox recusou-se à emprestá-la à Metro e o papel ficou com Judy Garland.
Um fenômeno que durou até Shirley atingir a idade adulta. Moça feita, o prestígio e a popularidade despencaram. Fez poucos filmes, dos quais, talvez, o único memorável seja o de Ford, em que tinha um papel pequeno. Depois de fazer seu último filme em 1949("A Kiss for Carliss), tentou a televisão, onde demorou pouco tempo. E aí decidiu abandonar a carreira de atriz.
Nos anos 1970 foi embaixadora dos Estados Unidos em Gana e na extinta Tchecolosváquia, tendo, anteriormente, assumido o cargo de delegado da ONU. Hoje é uma esquecida velha senhora, perto de completar 82 anos (nasceu em 23 de abril de 1928).

A seguir, transcrevo um pequeno trecho do conto de Autran Dourado, "Queridinha da Família", que faz parte do seu livro "Imaginações Pecaminosas" (Editora Record/1981).

"Ah, Shirley Temple das nossas aflições, das nossas alegrias, dos nossos pecados! Quem nunca assistiu, no devido tempo, Olhos Encantadores, Queridinha da Familia, A Nossa Garota, Mascote do Regimento, A Pequena Órfã e A Pequena Rebelde; quem não viu O Anjo do Farol e Pobre Menina Rica, Queridinha do Vovô, Heidy e A Princesinha, não sabe de nada. As fitas esfuziantes da garota mais prodígio (e com o perdão da má palavra, a mais chata, dizia o dr. Viriato para quebrar o encantamento e destruir o mito) que já houve, e que os adultos, a meninada menos (no princípio mais por causa dos pais que os levavam, depois eles, e principalmente elas, colecionariam recortes de jornais e revistas, os fabulosos álbuns; eles usavam os retratos para se inspirarem na sublime arte de Onã), se babavam de ver várias vezes, as lágrimas nos olhos, o riso no coração. Ah, o brilho e a maravilha das músicas e dos incríveis, imponderáveis passos! Ela contracenando (dançando, meu Deus, com Fred Astaire!) com Adolfo Menjou e Dorothy Dell, Leonel Barrymore e Evelyn Venable, Gary Cooper e Carole Lombard.! Ah, quem vive hoje não pode saber o que era a emoção que Shirley Temple provocava na tela e na platéia
como mascote querida do regimento colonial! Quem não apreciou ela cantar On the Good Ship Lollipot; quem não chorou as mais mais sentidas lágrimas e não vibrou com aquelas músicas todas, com todas aquelas histórias, não sabe de nada. Os vestidinhos curtos, pregueados ou plissados, feitos especialmente para facilitar a dança e mostrar as coxinhas, os passos corridos e aéreos. Ah, as pernas e as coxas! diziam os mais taladinhos e safados, já no vício da masturbação".

4 comentários:

Mariazita disse...

Querido Francisco
Tenho uma vaga ideia de ter visto um (???) filme com a Shirley, mas não me lembro, de todo, do título.
Recordo-me bem de ver fotos suas em revistas que minha Mãe comprava, e de achar que era uma menina muito bonita. Mas não mais do que isso.
Sei, sim, que teve muito êxito em criança, mas depois de adulta perdeu todo o encanto. Acontece mais vezes do que se supõe. Estou a lembrar-me dum Joselito, duma Marisol, por exemplo, também crianças prodígios que, depois de adultos, nunca mais se ouviu falar deles.
Sabe o que lhe digo? Tudo o que é pequenino tem graça...
Gostei muto do seu post. Deu para efectuar o meu aprendizado de hoje... (todos os dias há um...)

Beijinhos
Mariazita

Claudinha ੴ disse...

Olá Sobreira!
Eu me lembro bem deste filme e da Shirley. não é só meu pai não. Vi muitos (na tv, como sabe). Uma menininha de cachinhos dourados que sapateava como ninguém. Mas eu não era muito fã dela não, preferia os atores mais velhos e musculosos (rsrsrs). Porém, sem dúvida, um talento nato! Um beijo!

Lédy Picinini disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lédy Picinini disse...

menino Francisco,

enquanto lia, inevitavelmente uma música me ocupou o cérebro: "Hush, Hush Sweet Charlotte". me lembrou a personagem mirim de Bette Davis no filme "O que terá acontecido à Baby Jane". Espero, honestamente, que a velha senhora Shriley não tenha servido qualquer pássaro de estimação no jantar. Realmente uma triste história. Abraço.