terça-feira, dezembro 08, 2009

MÚSICAS E LEMBRANÇAS



Já contei aqui o fato. No lançamento do livro de um autor local havia a presença de um violonista. Na fila de autógrafos uma senhora acompanhada do marido, ambos nos seus presumíveis sessenta e poucos anos. Quando o músico começou a tocar "Velho Realejo", valsa de Custódio Mesquita e Sady Cabral, gravada por Sílvio Caldas, ela, incontinenti, deixou a fila, foi até ele e lhe pediu que não tocasse a música. O homem a atendeu e ela voltou para o seu lugar. É evidente que aquela música não lhe trazia uma boa recordação. Qualquer que fosse a recordação, só o marido deve saber.
Acontece com todos nós lembranças relacionadas com algumas músicas. Na maioria dos casos, trata-se de boas lembranças, mas há as dolorosas, como se dá com aquela senhora. Inúmeras delas que compõem os meus CDs me trazem lembranças, sempre que as ouço, da minha infância, as quais pertenciam ao acervo do serviço de alto-falante da minha cidade e do Cine Canindé. A discoteca do cinema era pequena e não se renovava, assim as mesmas músicas eram tocadas todas as noites em que havia sessão.
Mas se uma música pode proporcionar uma lembrança doce, ou amarga, pode também trazer à tona um momento engraçado, para quem a ouve. No meu caso, por exemplo, das músicas que fizeram parte da minha infância, duas me transportam a dois momentos divertidos, sempre que as ponho para tocar. Uma é "Respeita Januário", de Luiz Gonzaga. É impossível não deixar de sorrir no trecho da letra que diz "Luiz, respeita os oito baixos do teu pai", pois ele me faz lembrar da minha mãe (uma grande fã do cantor e compositor pernambucano), que, nas suas primeiras audições da música, em vez de "oito baixos", entendia "sovaco": "Luiz, respeita o sovaco do teu pai".
Já o bolero "Malagueña", faz-me ver, como se num filme, três de meus irmãos, já rapazes, cantando-o naquela língua que não conhecia, mas parecida com o português, como se formassem um trio - um trio, é bom dizer, sem o mínimo talento vocal para seguir a carreira artística. Estranhava especificamente a frase "que bonitos ojos tienes", por causa da palavra "ojos", que eu entendia como "ovos". Com meus oito, nove anos, já sabia que ela era usada como sinônimo de testículo. Então, eu ficava sem entender como podiam ser bonitos os testículos de alguém.

Um comentário:

Mariazita disse...

Qurido Francisco
Ah! ah! ah! - seu final é hilariante!
As recordações chegam-nos das mais diversas formas.
Os meus pais eram pessoas que cantavam muito (eu herdei-lhes a tara, pois ainda hoje canto muito...), e há imensas músicas que, quando as ouço, irremediavelmente eles me vêm à memória.
Recordar é (quase sempre) bom.

Beijinhos
Mariazita