terça-feira, agosto 25, 2009
A SAMARITANA
terça-feira, agosto 18, 2009
NOITES BRANCAS (Le Notti Bianche/1957)

"Noites Brancas", que foi exibido nos cinemas brasileiros com o título de "Um Rosto na Noite", marcou o rompimento em definitivo de Visconti com o neo-realismo. O filme foi rodado em um teatro localizado na Cinecittá, o que significava que o diretor infringia uma das normas do movimento, ou seja, a preferência pela filmagem externa. Em seguida, ele punha de lado os problemas sociais e políticos para, em lugar destes, enveredar pelo universo intimista de um homem e uma mulher. Visconti foi se inspirar em Dostoiewski, no seu conto "Noites Brancas", para narrar uma história de um triângulo amorososo entre Natalia (Maria Schell), Mario (Marcello Mastroianni) e o anônimo forasteiro interpretado por Jean Marais. Como geralmente ocorre na adaptação para o cinema de obras literárias, o cineasta (autor do roteiro, em parceria com Suso Cecchio D'Amico) fez algumas modificações do original, entre elas a de espaço e tempo: a história é passada numa pequena cidade da Itália, na segunda metade dos anos 1950. Mas essas modificações e as liberdades tomadas por Visconti não traem o tema e o propósito do conto do escritor russo. Ao contrário, o diretor soube preservar a natureza humana e existencial de dois seres solitários, à procura do sonho, do ideal de um grande amor. Mario (no conto, o seu personagem, como o do forasteiro, não tem o nome revelado e é quem faz a narrativa) chega, perto do final, a se convencer de que conquistou, naqueles três ou quatro encontros noturnos que tiveram, o coração de Natalia, quando ela julga que foi enganada pelo homem que ama, que lhe prometera voltar à cidade no prazo de um ano; no local determinado, ao qual ela vai no dia em que se completa o prazo e ele não aparece.
Tal como no conto, o filme prioriza a relação entre Mario e Natalia. Com uma participação relativamente curta, o forasteiro aparece quando Natalia conta como o conheceu (na condição de inquilino da sua avó) e aflorou o amor entre os dois, e no final, quando, finalmente, ele retorna como lhe prometera. E aí fica a impressão de que, só por uma questão de despeito, ou de vingança, Natalia deixa Maria com a ilusão de que o ama, quando, na verdade, lhe oferece apenas a amizade.
Mostrando a diferença entre a literatura e o cinema, o final do filme é superior ao do conto, embora os elementos que o compõem sejam os mesmos. Há um grito de extravazamento da alegria de Natalia, que, de imediato, corre para os braços do amado que avista parado sobre a ponte; há o olhar desolado de Mario ao ver a cena e o sobretudo preto salpicado de flocos de neve que lhe emprestara ("o seu vestido de noiva", ele dissera momentos antes) atirado no chão; e até as palavras, com uma ou outra alteração, que um diz ao outro: Natalia volta e pede que a perdoe, mas que sempre amara o outro, e ele, mesmo arrasado, retruca que ela é abençoada pelo minuto de felicidade que proporcionara ao seu coração solitário e acrescenta "não é pouco para a vida inteira de um homem".
Na concepção e realização desse filme que pode ser considerado como um divisor de águas em sua obra, Visconti pôde cercar-se de colaboradores excepcionais, além da roteirista Suso Cechio D'Amico. O cenógrafo Mario Garbuglia que recriou parcialmente uma Livorno que desse a impressão de um certo irrealismo, próximo do sonho, que convinha ao perfil psicológico e existencial daquele casal solitário. O diretor de fotografia Giuseppe Rotunno, que complementa bem esse clima de irrealidade, o compositor Nino Rota, que, anos depois, se tornaria uma presença assídua nos filmes de Fellini. E há a atuação de Marcello Mastroianni e Maria Schell, principalmente esta, que, em alguns momentos, com o seu rosto alvo, a expressão suave e meiga, às vezes, soltando uma risada de adolescente, dá um toque angelical ao seu personagem, contrastando com a figura da prostituta - um personagem criado pelos roteiristas e vivido por Clara Calamai, protagonista do filme de estreia do diretor, "Ossessione" (1942), considerado o marco inicial do neo-realismo.
Enfim, "Noites Brancas" é um dos grandes filmes de Visconti, que, não sei por que, não é valorizado como deveria. Já o vi qualificado de apenas "interessante". E no "Dicionário de Cinema - Os Cineastas", de Jean Tulard, não há sequer uma linha sobre ele.
terça-feira, agosto 11, 2009
3 POEMAS DE NAPOLEÃO DE PAIVA SOUSA

BANANA
emerge da casca
em riste.
como coxa, ora falo, dá-se
acetinada
à língua
a lábios
a tudo
que como ela julgue
de cetim ou mucosa.
despreza antes
as vestes enxovalhadas
no canto da mesa
ou cama.
A PALAVRA
"As coisas são seu nome"
Octávio Paz
dor se se chamasse amor
objeto de desejo seria
e até nome de flor.
pedra se se quisesse nuvem
faria chuva, vento, tudo
que só a leveza flui.
a língua, a sílaba
a palavra, a letra
- se pura ficção -
muito bem usam
a cangalha da sujeição.
a submissão é quanta que
quando se diz tamarina
a boca se faz moringa
ou tanta,
ela se foi embora
a lágrima ligeiro aflora.
MEU PAI FRIO
não consegui contudo
passados quase seis anos
dessentir o frio
inominável
que a sua testa de morto
pregou
nos meus lábios.
- Napoleão de Paiva Sousa é norte-rio-grandense de Alexandria. É também compositor, e, de profissão, médico pediatra. Estes poemas fazem parte do seu primeiro livro "Apenas Chegaram", de 1999. Publicou um segundo livro de poesias, "Depois Comigo", escrito em um celular, do qual já publiquei 3 poemas neste espaço. Ambos os livros me foram gentilmente dados pelo autor.
terça-feira, agosto 04, 2009
ALGUNS PERSONAGENS INESQUECÍVEIS DO CINEMA
- Carlitos
- Hulot/Jacques Tati
- O casamenteiro/Barry Fitzgerald de "Depois do Vendaval" (John Ford)
- Gelsomina/Giulieta Masina de "A Estrada da Vida" (Federico Fellini)
- Norma Desmond/Gloria Swanson de "Crepúsculo dos Deuses" (Billy Wilder)
- O personagem-título/Maisim Munzuk de "Dersu Uzala" (Akira Kurosawa)
- O projecionista Alfredo/Philippe Noiret de "Cinema Paradiso" (Giuseppe Tornatore)
- O avô/Lionel Barrymore daquela família "louca" de "Do Mundo Nada Se Leva" (Frank Capra)
- O boxeador Stoker/Robert Ryan de "Punhos de Campeão" (Robert Wise)
- A velhinha/Katie Johnson de "Quinteto da Morte" (Alexander Mackendrick)
- O professor Sinigaglia/Marcello Mastroianni de "Os Companheiros" (Mario Monicelli)
- Alvin Straight/Richard Farnsworth de "História Real" (David Lynch)
- O viúvo e aposentado Afonso/Jofre Soares de "Chuvas de Verão" (Carlos "Cacá" Diegues)