terça-feira, maio 05, 2009

VICKY CRISTINA BARCELONA (2008)

Nesta cena, Penélope Cruz, Javier Bardem eScarlett Johansson.




Em "Match Point" (2005), Woody Allen deixava Nova York - onde eram ambientados quase todos os seus filmes anteriores - e se mudava para Londres. Embora tenha gostado moderadamente de "Match Point", não há dúvida de que ele representava um sopro de revitalização na carreira do diretor, seriamente abalada por filmes como "O Escorpião de Jade", "Dirigindo no Escuro", "Assaltantes", entre outros que vi. Como não conheço o outro filme que ele rodou em Londres, não sei se ele manteve, pelo menos, o mesmo nível de qualidade do anterior.

A experiência na Europa deve ter agradado a Allen, pois ele escolheu a Espanha para cenário de um novo filme. Mas se ele se dera relativamente bem em Londres, não se pode dizer o mesmo com relação a Barcelona. Esse "Vicky Cristina Barcelona" apresenta alguns graves defeitos no roteiro. A mudança de sentimentos da americana Vicky (Rebeca Hall) para com o pintor Juan Antonio (Javier Bardem) não é só previsível, mas ocorre com uma certa rapidez, principalmente se se levar em conta que ela está noiva. Enquanto a amiga Cristina (Scarlett Johansson) sente de imediato atração pelo espanhol e adere com entusiasmo à sua proposta de passarem uns dias em Oviedo, para, entre outras coisas, fazerem amor com ele, Rebeca rejeita com veemência o convita, mas, forçada por Cristina, acaba fazendo a viagem. Lá em Oviedo, por um desses acasos que ocorrem em roteiros convencionais, Cristina vai ao quarto de Juan Antonio, mas, de repente, antes de irem para a cama, é acometida de uma crise de úlcera, que a deixa sob cuidados médicos até sairem de Oviedo. O espectador, que nem precisa ser um estudioso de cinema, bastando-lhe ter uma razoável rodagem cinematográfica, não ficará surpreso quando Vicky e o espanhol fazem amor logo depois de sairem da apresentação de um guitarrista; nem que essa relação irá mexer com os sentimentos dela, mesmo depois de casar com Doug (Chris Messina), que vem de Nova York para essa finalidade.

Outro defeito do roteiro é a inserção de situações que em nada contribuem para a fluidez natural da história. Qual a necessidade do aparecimento daquele estudante americano que se sente atraído por Vicky? Eles vão ao cinema assistir a "Sombra de Uma Dúvida", de Hitchcock, e, depois, num supermercado, ele assedia Vicky, que o rejeita, e depois dessa cena, o rapaz some tão de repente como apareceu. Outro exempo, a cena em que Vicky flagra a amiga Judy (Patricia Clarkson), em cuja casa ela e Cristina se hospedam ao chegarem a Barcelona, beijando um desconhecido. O propósito da cena fica evidente na conversa que as duas mulheres têm pouco depois: Judy confessa que não sente mais atração pelo marido e incentiva Vicky a abandonar Doug e retomar a fugaz relação com Juan Antonio, para que, no futuro, não se veja na situação dela. Ora, sabendo Judy desse envolvimento da amiga, essa conversa poderia se dar normalmente, sem necessidade da cena anterior, que parece forçada, artificial.

Tal como relação sexual que têm uma vez Cristina e Maria Elena (Penélope Cruz), a desequilibrada ex-esposa de Juan Antonio, num intervalo do "ménage-à-trois" que se estabelece entre eles. (Aliás, o relacionamento entre Juan Antonio e Maria Elena, numa dualidade entre amor e ódio, atração e repulsão, mostrando dois seres que "foram feitos e não foram feitos um para o outro", como diz ele a Vicky, é, a meu ver, um dos únicos, se não o único, elementos positivos do roteiro.)

Para piorar, esses furos no roteiro não são compensados pela direção de Woody Allen - sem brilho, pouco inspirada, sem a "entrega" que vimos nos seus grandes filmes - que o tornaram durante alguns anos um dos diretores mais importantes do cinema contemporâneo. A impressão que passa é que ele não está muito à vontade em terras espanholas.

E, assim, "Vicky Cristina Barcelona" o faz retornar aos baixos de sua filmografia, forçando-nos à pergunta se já não estaria na hora de ele começar a pensar nos rumos que a sua carreira vem tomando de alguns anos para cá.








Um comentário:

Mariazita disse...

Querido Francisco
Uma descrição perfeita de um filme que não vi e que fiquei sem vontade de ver...
Também me parece que Woody Allen já deu o que tinha a dar.
Está na hora de arrumar as botas...

Beijinho carinhoso
Mariazita