- A FM Universitária é uma exceção entre as rádios de Natal. Tem uma programação musical de qualidade (embora a repetição das músicas), divulga a poesia, apresentando trechos de poemas de poetas do RN e de outros estados, dá dicas sobre o comportamento dos motoristas no trânsito, informa os eventos culturais na cidade, tem um noticiário curto de hora em hora, além de outros atrativos. Mas há uma coisa que me irrita sempre que o locutor fala de um compositor ou cantor da terra (em geral, os dois são o mesmo), ou é posta no ar a composição. É aquilo de dizer "música potiguar brasileira". Por que acrescentar "brasileira" a "potiguar"? Existirá uma música potiguar queniana? Finlandesa? Ou hondurenha? Gostaria de conversar um dia com alguém ligado à rádio, para que ele me explique a razão dessa redundância.
- Desde que me entendo por gente, conheço a expressão "correr risco de vida" em referência a alguém que sofreu algum tipo de acidente. De uns tempos para cá os telejornais estão substituindo-a por "correr risco de morte". É incorreto o novo uso? Acho que sim se atentarmos para o detalhe de que na expressão podem estar ocultas as palavras "perder" e "a". Fulano corre (ou não corre) risco de perder a vida. Assim, risco de morte não terá sentido, pois não é possível perder a morte. Se os telejornais não mais empregam a expressão, por a entenderem errada, ou caduca, nada mais simples que usarem o verbo "morrer". "Fulano corre (ou não corre) risco de morrer". É o que penso.
- Luís da Câmara Cascudo e Graciliano Ramos trocaram cartas e livros durante um certo tempo. Na primeira oportunidade em que foi ao Rio, Cascudo conheceu o escritor. Ficaram amigos. Em um dos encontros dos dois, com aquele azedume característico, Graciliano desceu a lenha na falta de hábito de leitura do brasileiro. "Ninguém lê nessa terra. Gente rica não compra livro. Você encontra numa casa de luxo vinte penicos de porcelana, mas nem um volume. Se os encontrar, estão encadernados e arrumados como enfeites de salão". (Mestre Graça, o panorama não mudou, ou mudou muito pouco, quase nada.) De outra feita, ao ouvir do potiguar o antigo desejo de escrever um romance, mas da "impossibilidade mental" de pôr mãos à obra, Graciliano disse com o mesmo mau humor e aquela franqueza desconcertante: "Pois não escreva! Fique no seu natural até o fim. Esse Rio de Janeiro está fervilhando de romancistas que nasceram para outra coisa". E disse "coisa" numa linguagem que Cascudo preferiu omitir no livro que relata esse contato entre o potiguar e o alagoano, dois dos maiores intelectuais que o Brasil produziu ("O Tempo e Eu", há pouco reeditado pela EDUFRN).
- Há uns três meses estava em uma clínica para marcar uns exames solicitados pelo meu cardiologista. Enquanto aguardava ser atendido, reparei em uma moça sentada a meu lado. Com uma pasta grande e demonstrando intimidade com as atendentes, deduzi que trabalhava em um laboratório. Tive a confirmação ao perguntar a ela e disse que já havia visto mulheres ocupando diversas funções, antes restritas aos homens, mas era a primeira vez que me deparava com uma representante de laboratório. Foi então que uma das atendentes, sorrindo, e puxando brasa para a sua sardinha (ou o seu sexo), afirmou: "As mulheres estão bombando". Já ouvira antes essa palavra, mas dita por um homem, e achei que o significado tinha uma conotação maliciosa. Dita, porém, pela mocinha, entendi que "bombar" é, como se dizia há muitas décadas, estar com tudo e não estar prosa. Não me agrada essa palavra. Acho-a vulgar, de mau gosto. Desconfio que foi veiculada por uma novela da Globo. Tomara que ela dure o tempo em que durar a novela.
5 comentários:
PRIMEIRONA!!
Meu querido Mr.Sobreira,
ainda estou em estado de letargia com sonho...
Foi um SUCESSO! Muita gente e saiu uma nota em todos os jornais daqui.
Qdo leio assim:
Resgate da Arte
A artista plástica Beti Timm faz sua amostra de suas obras em, et,
tenho a impressão que não sou eu...rs
vou lhe mandar os links, das notinhas nos jornais.
Estou feliz e divido isso com muito prazer, contigo!
Beijos ainda extasiados!
Senti sua falta lá! Seria muito bom!
Volto para ler o teu texto! Gosto de lê-lo com calma!
Beijos
Meu caro amigo Francisco
Estive a ler o post anterior mas, francamente, nada posso dizer: desconheço completamente o assunto.
Quanto ao post de hoje, bom...a coisa melhora um pouco, mas não muito :)))
Por exemplo - potiguar - Tive que ir à Diciopédia, para saber que é o nome que se dá a quem nasce no Estado do Rio Grande do Norte.
Eu conheço bastantes termos brasileiros que aprendi nas novelas (já há bastante tempo que não vejo nenhuma) e com amigas e amigos brasileiros com quem me correspondo por email.
Mas...chego à conclusão de que sei tão pouco!
Seja como for gosto muito de vir ao seu espaço. Sempre aprendo alguma coisa :)))
Até breve
Beijinhos
Mariazita
Francisco,
volto para agradecer o comentário que você deixou lá no florescer. Pois é, no meu Simbiose, falo sim da relação com minha mãe, que nos últimos dias, reclama das dores no corpo cansado.
Sempre muito bom ter você por lá.
Beijos
Caro Francisco, uma das grandes preocupações de professores e pensadores no Brasil é essa falta de interesse pela leitura - ou o interesse pelas leituras "erradas", como auto-ajuda, esoterismos de origem dúbia e afins. Há que ache que é melhor ler essas coisas do que não ler nada, mas essa opinião nunca me convenceu. O que mais agonia nessa história é que praticamente nada é feito para mudar isso.
Abraço pra você.
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