quarta-feira, maio 02, 2007

O SEGREDO DAS JÓIAS (The Asphalt Jungle/1950)


Em 1950 John Huston já adquirira um certo respeito da crítica, principalmente por ter realizado, dois anos antes, "O Tesouro de Sierra Madre", que lhe rendeu os Oscar de Melhor Diretor e Melhor Roteirista, Naquele mesmo ano era lançado "O Segredo das Jóias", que iria acrescentar mais um grau a esse respeito, a essa admiração.
O tema do filme é o planejamento e a realização de um assalto a uma joalheria, comandado por Doc Riedenschneider (Sam Jaffe), recém-saído da prisão, com o auxílio de três outros homens: Dix Handley (Sterling Hayden), Louis Clavelli (Anthony Caruso) e Gus Minissi (James Whitmore), este o motorista do carro. Mas o roteiro de Ben Maddow e do próprio Huston, com base num livro de W. R. Burnett, faz transcender a narrativa desse assalto, muito bem conduzida, com a abordagem humana e moral dos assaltantes e do receptador das jóias, Alonzo Emmerich, um advogado corrupto, interpretado por Louis Calhern.
E ao se debruçar sobre a personalidades desses homens, "O Segredo das Jóias", revela uma diferença de propósitos pessoais ao serem eles impelidos a praticar aquele assalto. Enquanto para Doc o produto do roubo lhe poderá oferecer uma vida confortável no México, na companhia de belas mulheres (ele se sente muito atraído por elas, principalmente as jovens, e por se demorar na visão de uma adolescente dançando em um bar, é que a polícia o captura), para Emmerich é uma forma de superar a ruína financeira causada pelos gastos excessivos com a jovem amante (Marilyn Monroe, a pouco tempo de se tornar a estrela que foi), os outros três desejam apenas uma vida simples. Como o arrombador de cofres Louis, sempre preocupado com a saúde do filho. Ou Dix, este o mais interessante personagem. Nascido e criado em uma fazenda de Kentucky, é um "estrangeiro" naquela selva de asfalto. Odeia a cidade grande e sobrevive ali movido pelo objetivo de ganhar dinheiro suficiente para adquirir um rancho e neste viver o restante de sua vida. Não por acaso, ele vive apostando em cavalos, que ele prefere à companhia dos homens. É um puro, por trás do jeito e aparência brutos, só conseguindo se relacionar com Gus, que trabalha num bar, e com Doll (Jean Hagen, que, dois anos depois, interpretaria a atriz de voz gasguita em "Cantando na Chuva"). Esse desejo, diria melhor, essa obsessão de voltar para o meio rural, é tão dominador em Dix que é para lá que vai, levado pela devotada namorada, fugindo da polícia e esvaindo-se em sangue. A sua morte representa o momento mais belo de "Segredo das Jóias" e um dos finais mais belos do cinema. Reunindo o pouco das forças que lhe restam, ele deixa o carro, transpõe o cercado e, na caminhada, desaba na relva. O dia está amanhecendo e Dix morre, como, certamente, sempre sonhou. Longe da cidade perversa e sombria (a história se desenvolve à noite), sentindo o odor do campo e cercado por três cavalos. A câmera fica afastada na cena, e esta, além da beleza plástica, insere um ingrediente poético.
"O Segredo das Jóias" é um filme seminal. Inspirou inúmeros filmes "de assalto", mas o único que, talvez, possa se ombrear com ele seja "Rififi", que Jules Dassin faria quatro anos depois. E desenvolve um elemento recorrente na filmografia de Huston, ou seja, o fracasso, a frustração dos sonhos pelos quais os seus personagens tanto lutam (vide "O Tesouro de Sierra Madre", para citar um exempo maior).

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