Violência, assassinatos, perversão sexual, lesbiasnismo, corrupção, triângulo amoroso e até a amizade entre dois policiais. Por trás desses ingredientes que formam a trama de "A Dália Negra", no entanto, é percebível a homenagem que o diretor Brian de Palma ("Vestida para Matar", "Dublê de Corpo") presta ao film noir. A mais óbvia dessa homenagem está no sobrenome do personagem de Scarlett Johannsson (Kay Lake) , uma referência à atriz Veronica Lake, que estrelou filmes do gênero nos anos 1940, entre os quais um tem o título de "A Dália Azul" (mencionado, de passagem, por um personagem). E foi naquela década que o noir foi criado e é nela também que se passa a história de "A Dália Negra". E, como não poderia deixar de ser, há a presença da mulher fatal, personificada em Madeleine (Hilary Swank). Um pouco atrás mencionei a existência de um triângulo amoroso. Este é formado por Kay, seu amante Lee (Aaron Eckhart) e o amigo deste Bucky (Josh Hartnett, cujo rosto tem uma leve semelhança com o de Marlon Brando)). Há uma cena reveladora da situação que vive Kay, dividida entre os dois amigos e companheiros de profissão: na sala de um cinema ela está sentada entre os dois, numa atitude que é reforçada pelo comentário (dispensável) de Bucki, que é quem narra a história .
O filme é inspirado num caso real: o assassinato da starlet Elizabeth (Betty) Short, mas, conforme a advertência nos créditos finais, as situações e os personagens são baseados no livro de James Ellroy, autor de romances policiais. O diretor De Palma conduz muito bem a narrativa, A sua direção consegue alternar, com a mesma eficiência e , às vezes, com brilho, o vigor nas cenas de violência e de impacto , com o olhar crítico (a destacar a visita de Bucki à casa de Madeleine, no início do envolvimento dos dois, quando, em poucos minutos, são revelados os perfis dos pais e da irmã dela) ; ou ainda com a situação vivida por Bucki em relação à atração mútua com Kay, quando ele resiste à tentação de se envolver de fato com ela, para não trair o amigo ( um canalha e um corrupto, como se revela depois) , que chega a lhe salvar a vida num confronto dos dois com um fora-da-lei.
Além disso, Di Palma oferece momentos de beleza plástico-visual, como na última relação sexual entre Bucki e Madeleine e, no final, quando ele vai ao encontro de Kay, ambos livres de Lee, assassinado. Quando ela lhe abre a porta do apartamento, há como que uma explosão de luminosidade, contrastando com a cena anterior. Luminosidade realçada pelo costumeiro vestido branco de Kay, em outro contraste com o inseparável vestido preto de Madeleine. Essa oposição entre o caráter e a conduta das duas mulheres, emblematizada pela cor dos seus vestuários, poderia ser um pecadilho de "A Dália Negra", tantas vezes esse recurso foi explorado pelo cinema. Mas também poderia ser uma forma do roteirista (Josh Friedman) e do diretor reforçarem a homenagem ao film noir . Álém de que Kay não ser exatamente uma santinha.
Um comentário:
Sobreira! Não assisti ao filme. Mas, fica aqui um apelo irresistível de assistir, quando você o desdobra, expõe as referências, enfim...prepara o espírito da gente...rs Vou conferir sua "aula", se tiver oportunidade, logo, logo...
Beijos.
Dora
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