sábado, fevereiro 10, 2007

TRIO


1) Era um programa sobre literatura na TV Futura, do qual participavam o poeta Afonso Romano de Santana e dois escritores da nova geração, não lhes guardei o nome. A apresentadora fazia a mesma pergunta aos três. Uma das últimas perguntas, se não a última, foi sobre a importância, o valor, a perenidade dos grandes mestres da literatura. Com quase a mesma opinião, os entrevistados reconheceram o legado que aqueles deixaram para os autores que lhe sucederam, que atravessou os séculos e chegou aos dias de hoje. Mas Afonso Romano de Santana acrescentou uma informação, para reforçar que a grande obra propicia a descoberta de elementos a cada releitura, entre eles o estilo do autor. Uma informação que contém um leve ingrediente humorístico. Ele falou que Jorge Luís Borges "lia" com muita frequência trechos de "Dom Quixote". E ao ser fechado o livro, exclamava para o outro leitor: "CERVANTES ESTÁ ESCREVENDO CADA VEZ MELHOR."
2) De novo Afonso Romano de Santana. Ele está naquele rol de escritores que são constantemente entrevistados. (Não é uma crítica. Afonso tem o que dizer e sabe dizê-lo.) Numa entevista a outro canal de televisão ele relatou um engraçado caso envolvendo a escritora Clarice Lispector. Era um debate sobre literatura numa instituição cultural do Rio de Janeiro. Afonso fazia parte da mesa, enquanto Clarice estava na platéia. O debate seguia um curso normal. A uma certa altura, Clarice se levanta e deixa o auditório. A começar por Afonso, todos os presentes estranharam a retirada de Clarice. Mas Afonso ficou preocupado. Será que Clarice saíra por não estar gostando do debate? Ficara aborrecida a um certo momento? O debate prosseguiu mas o poeta e cronista não conseguia afastar a pulga na orelha.
No dia seguinte ligou pra Clarice, pra saber o que tinha acontecido. E com grande surpresa ouviu dela porque deixara repentinamente o local. Não tinha nada a ver com o debate. Até estava gostando. O que houvera é que sentira uma vontade incontrolável de comer o frango que a esperava em casa.. Tão irresistível que a impeliu a sair, mesmo sabendo que estava cometendo um ato reprovável. Ah, Clarice...
3) Grande cineasta, Billy Wilder era também um grande gozador. São famosas as suas piadas no meio cinematográfico. Uma delas foi sobre o filme "Acorrentados", de Stanley Kramer, 1958. Vi há quase cinquenta anos esse filme que conta a história de dois presidiários que fogem da prisão, acorrentados um ao outro. Um personagem é branco (Tony Curtis) e o outro negro (Sidney Poitier). A piada que Wilder fez circular por Hollywood aludia à escolha do ator que ia interpretar o branco. Segundo Wilder, três atores foram convidados, antes de Curtis, sem sucesso, pelos seguintes motivos. Marlon Brando só admitiu fazer o filme se interpretasse o negro. Robert Mitchum nem quis conversa: "O quê? Eu trabalhar com um negro?" Mas complicado mesmo foi quando Kirk Douglas foi sondado. Ele topava, sim, fazer o papel, mas com uma condição: o de fazer também o do negro. Kirk queria interpretar ambos os personagens.
É claro que esse fato jamais aconteceu. Foi uma piada e uma piada inventada por aquele irreverente, anárquico, irônico e gozador Wilder.

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