quarta-feira, novembro 23, 2005

O DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO - Uma revisão


O lançamento em DVD , já há alguns meses, de O Declínio do Império Americano (1986), seguindo-se ao de As Invasões Bárbaras (2003), dá ao espectador a oportunidade de ver, ou rever, os principais personagens dos dois filmes, a uma distância de quase vinte anos. E, é claro, de estabelecer um paralelo entre as duas obras. É possível perceber uma diferença entre ambas, baseada no comportamento de Rémy, Alain, Claude, Dominique e Diane, que, em As Invasões Bárbaras, mais velhos e diante do estado terminal de Rémy, deixam aflorar um travo de amargor em suas vidas atuais, apesar de continuarem cultivando a irreverência, o deboche e o cinismo. É que a vida passou para quatro deles e está terminando para Rémy.
O Declínio do Império Americano se inicia com um pequeno trecho de uma aula dada por Alain (Daniel Briére) e depois corta para um longo traveling que atravessa o saguão de uma estação até alcançar, no fundo, as personagens Diane (Louise Portal) e Dominique (Dominique Michel), a primeira entrevistando a segunda. A sequência seguinte mostra o mesmo Alain e mais Rémy (Rémy Gerard), Claude (Yves Jacques) e um jovem amigo deles, reunidos em uma casa à beira de um lago. A partir daí há uma alternância de cenas das conversas entre os homens e as mulheres, com Louise (Dorothée Berryne), mulher de Rémy, e a jovem amante de Alain juntando-se a Diane e Dominique numa academia de ginástica. (E, talvez, o propósito do diretor Denys Arcand, em mostrar as mulheres em atividade física e os homens bebendo e conversando, tenha sido o de estabelecer uma diferença entre os cuidados delas com o corpo e o relaxamento deles com o corpo.) Os homens falando de mulheres, as mulheres falando de homens. As confissões de relacionamentos sexuais (ilustradas por flashbacks ), dão um toque humorístico à narrativa.
Há, pois, um clima de descontração na reunião dos dois grupos, que é alterado por duas ocorrências, quando as mulheres vão se juntar aos homens. A primeira é de pouca importância, apenas o mal-estar durante o jantar, causado pela chegada de Mário, o intratável e arrogante amante de Diane, que, felizmente, pouco se demora. Já a segunda é de suma gravidade. A confissão de Dominique, em meio a uma conversa normal, de que já dormira com Rémy (e também Alain), provoca um atrito na relação do primeiro com sua mulher, que, sem conseguir explicações do marido, quando vão se deitar, busca consolo no homossexual Claude.
Os derradeiros minutos do filme não têm diálogos. Os personagens dispersos pela casa, na mahã seguinte, com Louise e a amante de Alain tocando piano, observados por Rémy e Alain da sacada, enquanto Dominique e o jovem se acariciam na cozinha. As marcas do incidente da noite anterior ainda estão estampadas nos rostos de Louise (de óculos escuros) e de Rémy, mas não permanecerão por muito tempo. Será? Em As Invasões Bárbaras eles aparecem separados.
O Declínio do Império Americano e As Invasões Bárbaras são dois grandes filmes, sem que se possa dizer que um seja a continuação do outro, apesar de apresentarem os mesmos principais personagens, desse canadense Denys Arcand, um cineasta importante, entre os poucos que se destacam no cinema atual. Dele ainda conheço Jesus de Montreal, outro grande filme.

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