1) Em 1959 o diretor Howard Hawks realizou Onde Começa O Inferno (Rio Bravo), um dos maiores westerns já feitos, o mesmo Hawks que estreara no genero onze anos antes com Rio Vermelho (Red River), mais ou menos do mesmo nível daquele. Onde Começa O Inferno continha um atrativo no argumento, embora não fosse inédito (Ford já o explorara em No Tempo das Diligências, na figura do médico), que era o alcoolismo de um dos xerifes, interpretado por Dean Martin. O filme mostrava ainda a determinação do outro xerife (John Wayne) de livrar do vício o amigo e colega, sobretudo depois que este prende o irmão do poderoso proprietário de terras da região. É uma luta desigual que Wayne trava para manter o homem na cadeia, até que ele seja julgado pelo crime de homicídio, pois, além do xerife alcoólatra, conta só com a ajuda do velho e manco guarda da cadeia e de um jovem vaqueiro. Apesar de tudo, ele sai vencedor e também o outro xerife, que acaba superando o vício.
Pois bem. Em 1967, oito anos depois, Hawks lança outro western, El Dorado (Idem), que, de novo, mostra um xerife alcoólatra (Robert Mitchum). E a causa do vício é a mesma nos dois personagens: ambos são abandonados pela mulher por quem se apaixonaram. E de novo John Wayne procura ajudar o amigo, não só na superação do´alcoolismo, mas na situação que ele enfrenta ao levar para a prisão um poderoso proprietário de terras. (A diferença é que Wayne, agora, é um pistoleiro de aluguel, que passa boa parte do filme com uma bala encravada no corpo). Outro ponto de contato entre os dois filmes é o apelido dos dois jovens (sim, em El Dorado também existe outro jovem, só que não é vaqueiro, como o de Onde Começa o Inferno), que se unem ao xerife na luta desigual, originado de estados norte-americanos: em Onde Começa o Inferno ele é chamado de Colorado, em El Dorado, de Mississipi. Momentos engraçados unem os dois filmes, não fosse Hawks um especialista também em comédi a (Levada da Breca, Bola de Fogo, Os Homens Preferem as Louras). El Dorado não chega ao nível de Onde Começa O Inferno, e essa inferioridade independe da existência do segundo, mas é um filme a que se assiste com prazer e atenção, sendo o penúltimo filme de Hawks.
2) Quando Tempos Modernos (Modern Times, 1936) ganhou as telas do mundo inteiro, Chaplin foi acusado de ter plagiado, pelo menos em parte, o filme de René Clair, A Nós a Liberdade (A Nous la Liberté), feito cinco anos antes. Li isso há anos sem conta, não me lembro quem fez a acusação. Provavelmente algum crítico francês, ou mais de um. O certo é que Clair foi aconselhado a mover um processo contra Chaplin. A reação do cineasta francês foi não só digna, mas de uma reverência e de um respetio inigualavéis a Chaplin. Disse que não acreditava que o genial comediógrafo o tivesse plagiado,mas (atenção), se assim fosse, para ele, Clair, seria uma honra que o seu filme tivesse inspirado o de Chaplin. Tendo a acreditar que este nunca soube, seja da acusação de plágio, seja da atitude de Clair, pois na sua biografia, Minha Vida, não há referência a nenhum dos dois fatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário