Foi no site do cineasta Carlos Reichenbach (www.redutodocomodoro.zip.net/) que soube que o Cine São Luiz, de Fortaleza (CE), fechou as portas no último dia 19. Localizado de frente para a Praça do Ferreira, no centro,. o São Luiz era o último sobrevivente de uma cadeia de cinemas de Fortaleza, que marcaram época na cidade nos anos 1950 e 1960 . Quando foi inaugurado em 1958, com o filme Anastacia, (se posso confiar na memória), de Anatole Litvak, com Ingrid Bergman e Yul Brynner, o São Luiz veio se juntar ao Diogo, Moderno, Majestic, Rex, Samburá, Jangada, Araçanga e Tuaçu; os 4 últimos pertenciam à empresa Cinemar (concorrente da Luiz Severiano Ribeiro) , a qual continha uma particularidade curiosa: as denominações dos cinemas eram ligadas a coisas do mar. O novo cinema era o primeiro de Fortaleza (acredito que um dos raros do Nordeste) a possuir sistema de ar-condicionado, mas, em contrapartida, a sua direção impunha ao espectador o uso de paletó, uma prática que se manteve até a década de 70.
Um cinema que fecha é como uma punhalada no coração de um cinéfilo. E me fere mais fundo, no caso do São Luiz, pelo que este representou para a minha adolescência e juventude, como os outros já mencionados. Nele passei horas sem conta vendo filmes que não se fazem mais, me deliciando
com a visão de lindas atrizes que já se foram, ou já deixaram o cinema e, hoje, com o corpo arruinado pelo tempo implacável, vivem à espera da hora final. Foi naquela sala enorme que, numa noite de carnaval, iniciei o namoro com a moça que até hoje vive comigo.
Acho que o São Luiz ainda teve uma sobrevida por alguns anos, enfrentando a concorrência dos cinemas instalados nos shoppings, por servir de local para a mostra do Festival de Cinema de Fortaleza, ou Cine Ceará, como alguns chamam. Porque a sua decadência era flagrante e, segundo me falou um amigo, numa das últimas vezes que visitei Fortaleza, a direção do cinema estava sendo assediada por um dessas igrejas evangélicas que pululam por este país. Talvez seja esse o destino do São Luiz, como ocorre com tantos cinemas que fecharam. Em Natal, o Cine Nordeste hoje abriga uma dessas malfadadas instituições. Mas há a esperança de que o São Luiz se converta num espaço cultural. Na notícia que li no site do Carlão, a própria direção do cinema sugere essa alternativa. Vamos torcer para isso. E assim nas grandes cidades vão desaparecendo os chamados "cinemas de rua". Em Natal não existe mais, em Fortaleza, em João Pessoa existe um que exibe filmes pornô e em Recife ainda sobrevive o São Luiz. Até quando?
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