domingo, junho 26, 2005

RUBEM BRAGA

Em dezembro próximo se completam 15 anos da morte de Rubem Braga. Foi o maior dos nossos cronistas, e essa afirmativa, além de não constituir nenhuma novidade, não é deste escrevinhador. Creio que é uma opinião unânime. Há outros grandes cronistas (Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, para ficar só entre os que já morreram), mas o velho Braga está na frente daqueles e dos demais. Escrevia admiravelmente bem, senhor de um estilo elegante, enxuto, agradável, ao qual o leitor se prendia, mesmo quando o assunto não o interessasse. (No meu caso, entre outros, quando ele falava de pescaria, ou dea caçada.). E com uma correção gramatical, mas que jamais passou, nem de leve, pelo tom professoral. Algumas de suas crônicas ultrapassaram a fronteira do gênero para atingirem o conto. E não poucas vezes exercitou o humor, saindo-se muito bem.
Outra opinião sobre Rubem, se não unânime, pelo menos muito difundida, é que ele escrevia os melhores textos quando lhe faltava assunto. Nove fora o exagero dessa opinião, é verdade que isso ocorreu algumas vezes. E deve ter sido num dia em que não dispunha de um assunto mais atraente e interessante que ele escreveu uma crônica curtinha, em que falava de frases (era este o título, aliás) que fizeram a fama de pessoas, mas que não tinham o cunho da originalidade; ou seja, já haviam sido escritas, ou ditas, por outras. Rubem cita quatro exemplos, um dos quais é a célebre frase dita por um personagem de Guimarães Rosa em Grande Sertão : Veredasi: "Viver é muito perigoso". Segundo o cronista, um escritor mineiro (do qual omite o nome) encontrou a mesma frase num livro do escritor alemão Goethe. Rubem encerra a crônica dizendo que "era muito de Rosa essa mistura de Goethe com sertanejo". Uma maneira de livrar a cara de Guimarães Rosa da acusação de plágio. Por falar nisso, Dalton Trevisan, no texto "Ecos", do livro Dinorá, cita, no original, quatro frases de procedência estrangeira, pescadas por autores de língua portuguesa. Duas delas: Navegare necesse est vivere non necesse, ditas pelo general romano Pompeu; e Because it feels eternal while it lasts, de autoria de T. S. Eliot.
Mas voltando a Rubem Braga. Se o autor era digno da maior admiração, o homem não possuía o mesmo encanto. Era de trato difícil, sisudo (ele próprio chegou a se chamar de urso em algumas crônicas), que se portava de uma maneira que chegava a deixar as pessoas desconcertadas. Um poeta de Natal, já falecido, me contou que o também poeta Ney Leandro de Castro passou por uma experiência desagradável com Rubem, durante o lançamento de um livro em que foram vizinhos na fila para o autógrafo do autor. De um modo geral, os escritores, os cineastas, os atores, enfim, os artistas, não são pessoas de um convívio fácil. É por saber disso que nunca tive interesse em conhecê-los. E, na verdade, o que vale mesmo é o que eles produzem. E Rubem Braga nos deixou páginas antológicas da literatura brasileira.

Nenhum comentário: