1) Já falei aqui de escritores que experimentaram a direção de filmes. Hoje será a vez dos que atuaram à frente das câmeras. Eis aqueles que consegui localizar. Começo com Susan Sontag e Saul Bellow (falecidos, respectivamente, em janeiro e abril deste ano), que aparecem em Zelig (1983), de Woody Allen. Em seguida, Gore Vidal, em Roma (1972), de Fellini. O alemão Erich Maria Remarque, autor do famoso Sem Novidades no Front , adaptado para o cinema por Lewis Milestone, participou de Amar e Morrer, de Douglas Sirk, 1958. Já o mexicano Juan Rulfo (Pedro Páramo) apareceu em Nesta Cidade Não Há Ladrões, (baseado no conto homônimo de Garcia Marquez), do seu compatriota Alberto Isaac, em 1964. (Outra presença ilustre nesse filme é a de Buñuel.) O inglês Graham Greene, autor da história e do roteiro de O Terceiro Homem, o clássico de Carol Reed, fez uma ponta em A Noite Americana, de François Truffaut, E sobre a participação de Greene nesse filme há uma historinha também curiosa. Ele estava na França quando o filme era rodado e, sendo admirador de Truffaut, dirigiu-se ao local da filmagem para conhecer o diretor e lhe pedir para fazer uma ponta. Só que não pôde falar com Truffaut, mas, em todo caso, conseguiu aparecer no filme, através da assistente do diretor, se não estou enganado. E Truffaut só foi saber que o famoso escritor inglês tinha participado de uma cena, como representante de uma seguradora inglesa, quando da edição dela, informada pela sua colaboradora. Os dois estiveram bem próximos um do outro, mas Greene não falou com Truffaut, nem foi por este reconhecido.
E aqui no Brasil? Bem, há o caso do dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, que foi o protagonista (ótima interpretação, aliás) de Um Homem Sem Importânica, de Alberto Salvá, 1973. E Vinícius de Moraes e Fernando Sabino participaram de Garota de Ipanema, Leon Hirszman, 1967. Por sinal que Vinícius foi um dos 5 ou 6 roteiristas do filme, um deles Glauber Rocha. Acredito que deva haver muitos outros exemplos , no Brasil e lá fora, de escritores que atuaram em filmes, mas só consegui localizar os aqui mencionados. Ah, já ia me esquecendo. O poeta Jacques Prévert, roteirista de alguns filmes de Marcel Carné, aparece rapidamente numa rua em A Idade do Ouro, de Buñuel, segundo informação do próprio cineasta.
2) Quem conhece Cantando na Chuva jamais esquecerá a sequência em que Gene Kelly canta e dança sob um toró daqueles. Realmente, não dá para esquecê-la. A beleza dá música, a interpretação desta por Kelly (e ele não era um cantor) e a coreografia fazem daquela sequência um dos momentos mais deslumbrantes do cinema. Foram horas e horas de ensaio e de filmagem para se chegar ao resultado final. Ou, digamos, à perfeição total. Disso tudo, segundo contou o crítico Sérgio Augusto, resultou que o genial Kelly contraiu uma gripe que o deixou de cama. Mas ele mesmo deve ter dito, para si e para os outros, que valeu a pena ter adoecido.
3) Ha tantas lendas envolvendo Orson Welles, como , de resto, todos os monstros sagrados do cinema, que a historinha que vou contar talvez seja mais uma. Já faz algumas décadas que a ouvi. Contam que na rodagem de um filme com Rita Hayworth, Welles (então seu marido) estava presente quando ouviu alguém da equipe de filmagem gritar para o diretor: "Pare a cena, que Miss Hayworth está suando". Welles, incontinenti, se dirigiu à pessoa e lhe disse: "Nunca diga que Miss Hayworth está suando. Os cavalos suam, as pessoas transpiram, mas Miss Hayworth brilha".
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