sábado, março 12, 2005

O LIVRO DE MOACY




Na próxima segunda-feira, dia 14, pela manhã, o poeta e escritor Moacy Cirne estará lançando o livro LUZES, SOMBRAS E MAGIAS: OS FILMES QUE FAZEM A HISTÓRIA DO CINEMA, na Capitania das Artes. O evento fará parte das comemorações do Dia Nacional da Poesia, e alguém pode se perguntar por que lançar uma obra sobre o cinema em uma data dedicada à Poesia. Mas se o livro não é de poesia, é sobre poesia. Sim, sobre a poesia. A poesia em forma de imagens, feita por grandes artistas/poetas do cinema. Não há, pois, o que estranhar na decisão do autor quanto à data do lançamento do seu livro.
Já li o Luzes, Sombras e Magias. Aproveitando este espaço, vou tecer algumas considerações sobre ele, sem a pretensão de fazer uma crítica. De início, quero chamar a atenção para o estilo de Moacy, fluente, sem a aridez, nem a proliferação de termos técnicos (um defeito em que incorrem muitos professores universitários, e ele foi um) , e adotando, às vezes, o humor. Os não-iniciados em cinema não têm o que temer. Estes ficarão sabendo, depois de lerem o livro, e de maneira clara, mas sem ceder ao ordinário, como ver um grande filme. Como quando Moacy disserta sobre os elementos criativos de um filme (a narrativa, a história, a interpretação dos atores, a fotografia, a música, etc.) , citando exemplos de filmes, alertando, no entanto, que é preciso haver uma perfeita interação entre eles, uma harmonia, de maneira que um não sobrepuje os demais. Ou seja, um filme não deve ser destacado só pela fotografia, ou pelo roteiro, ou pela atuação dos intérpretes, etc.. Se assun for, será uma obra de pouco valor.
Na parte "Dez momentos que me marcaram" há um relato curto, mas que revela bem a personalidade do autor, já na adolescência. Ele foi ver Rashomon, no cinema da sua querida Caicó, acompanhado de um tio. Os dois saíram do cinema sem entender nada do que se passara na tela. Moacy, no entanto, não se conformou em não fruir um filme que, segundo lera, fora aclamado pelos críticos, recebendo prêmios, e passou a se dedicar à leitura de obras que lhe revelassem o processo artístico de um filme como aquele. E com a leitura, aliada à sensibilidade, foi adquirindo a visão crítica para avaliar os filmes que ele passaria a assistir.
Além de de filmes, Moacy fala de livros sobre cinema. Entre eles de Cine-Lembrança, uma seleção de críticas do potiguar Berilo Wanderley, organizada pela viúva. É uma merecida homenagem ao, talvez, maior crítico do Estado. Também os de José Lino Grunewald e de Antonio Moniz Vianna. No livro A Magia do Cinema, de Roger Ebert, Moacy analisa a lista dos maiores filmes que o autor cita, apontando várias omissões. Com toda a razão assinala as ausências de Janela Indiscreta, de A Regra do Jogo, de Desencanto (e eu acrescentaria ade Rashomon, que Moacy esqueceu) e, imaginem só, de qualquer um dos filmes de Visconti. Discordo, em parte, da preferência de Ebert por Nosferatu, em detrimento de Aurora. Embora goste mais do primeiro, acho que os dois filmes de Murnau poderiam ser relacionados.
Moacy também faz a sua lista; ou melhor, as suas listas, já que os seus filmes preferidos estão divididos em 4 categorias: l) obras-primas, em número de 102; 2) filmes excelentes; 3) filmes ótimos; 4) filmes especialmente bons. Na primeira, são feitos comentários sobre cada filme, dos quais o de Hiroshima, Meu Amor talvez seja o mais bem escrito. E ao falar de A General (Buster Keaton) , Moacy reconhece, hoje, que Chaplin lhe parece mais completo do que o outro. Não há dúvida, amigo. E é na relação das obras-primas que me permito divergir dele quanto aos seguintes filmes: O Anjo Azul (Sternberg) , ao qual prefiro O Expresso de Shangai, como já disse aqui neste espaço uma vez , mas que, talvez, não o incluísse numa lista de 100. Chego a pensar se a inclusão de O Anjo Azul não se deve à presença exuberante de Marlene Dietrich, por causa do entusiasmo com que Moacy fala dessa grande estrela do cinema. Os outros filmes são O Evangelho Segundo São Mateus, Terra Em Transe, O Império dos Sentidos, Um Dia Muito Especial (um belo filme, mas que, ao meu ver, não tem a estatura de uma obra-prima) e Dogville. (Mas lista é uma questão de gosto pessoal e de outros elementos que compóem o temperamento e a formação de quem a elabora.) Aliás, sobre Dogville, Arca Russa (Sokúrov) e Nossa Música (Godard) , dos quais só conheço o primeiro, tenho outra ressalva. Tratando-se de obras bem recentes, me parece arriscada a inclusão delas entre obras que, através de décadas e décadas, têm conservado a condição de monumentos cinematográficos. Quem, no entanto, conhece Moacy, sabe muito bem que isso é do temperamento dele. E o temperamento das pessoas é terra onde não se deve pisar. Será que alguém já disse isso? Enfim, um belo livro. Gosto mais dele do que do anterior, Cinema, Cinema, que já era bom. E agora, é quem gosta do cinema como arte, ir correndo para a Capitania na próxima segunda. E os que não gostam também devem ir, pelo que Moacy representa na paisagem cultural de Natal. E na paisagem humana.

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