Acessando o site da Folha de São Paulo um mês atrás, deparei-me com um texto informando sobre uma votação feita na Inglaterra, entre internautas, para escolher os maiores injustiçados pelo prêmio Oscar, incluindo diretores e atores. Hitchcock ficou no topo da lista dos diretores, enquanto Kubrick figurou em terceiro lugar. Hitchcock e Kubrick.Dois dos maiores expoentes da direção foram ignorados, desprezados, esnobados pela Academia de Hollywood. E no caso de Hitchcock o fato é mais surpreendente, porque os seus filmes, mesmo possuindo qualidade artística, atraíam a massa de espectadores que vão a cinema para se entreter, rendendo grandes bilheterias, que é o único foco de interesse dos produtores de Hollywood. Mas outros grandes cineastas jamais receberam aquela feia estatueta por um filme seu. Houve casos como os de Welles, Hawks e Chaplin, que receberam um Oscar honorário pela sua obra (esse troço de prêmio honorário é como menção honrosa em concurso literário) , numa atitude dos acadêmicos de repararem uma injustiça sem tamanho. Aliás, sobre o prêmio conferido a Chaplin, o crítico de cinema e jornalista Sérgio Augusto afirmou, com uma precisão cirúrgica, que foi "um Oscar cravejado de vergonha e hipocrisia." E antes que me esqueça. O segundo colocado na lista foi Martin Scorcese, que, ainda vivo e atuante, poderá, enfim, empalmar a estatueta. Talvez até na cerimônia de amanhã, já que é um dos indicados ao prêmio de Melhor Diretor. Além de que ele, pelo visto, aderiu ao esquema de produções hollywoodianas.
Samuel L. Jackson encabeçou a lista dos atores. E aí a injustiça foi dos votantes. Como não esquecer Montgomery Clift (será que foi votado?) , tantas vezes indicado e que morreu sem levar o prêmio? E James Mason, esse extraordinário ator inglês, algumas vezes indicado, mas que também ficou de mãos vazias? Richard Widmark, ótimo ator, que, parece, foi indicado apenas uma vez? Paul Newman levou mais de 30 anos para sair vencedor. Se tivesse morrido há uns 20 anos, teria tido a mesma sorte de Clift e de Mason e de tantos outros atores talentosos, de que não me lembro agora. Não faz muito tempo que Al Pacino ganhou um Oscar, depois de concorrer por várias vezes.
E mesmo quando a Academia faz justiça ao talento de um ator, acontece de não ser por sua melhor interpretação. Vou citar só o exemplo de Humphrey Bogart. Ele ganhou por uma Uma Aventura na África, (Huston, 1951) , por um desempenho inferior a de outros filmes (um exemplo isolado: O Tesouro de Sierra Madre, do mesmo diretor) , E é bom ressaltar que, quando saiu vencedor, Bogart concorria com nada menos que Marlon Brando (Uma Rua Chamada Pecado) , Fredric March (A Morte do Caixeiro Viajante) e o coitado do Montgomery Clift (Um Lugar ao Sol) , três atores de maior estatura interpretativa do que Bogart, não desmerecendo o talento deste.
E como diretor, há que citar John Ford. Ganhou 4 Oscars (o recordista, até hoje, entre os diretores) , mas em nenhum deles foi por um dos seus westerns. Ora, Ford foi o maior entre todos os cultores do gênero, elevando-o, a partir de No Tempo das Diligências, 1939, à categoria de arte. Ah, Hollywood. Ah, Academia.
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