terça-feira, janeiro 11, 2005

E aqui estou eu contribuindo para aumentar a imensa população de blogueiros espalhados pela Internet. O nome do blog, é evidente, presta homenagem a uma das obras-primas de Charles Chaplin, e sendo o dono um cinemeiro de carteirinha assinada. deve levar as pessoas à suposição de que ele será dedicado ao cinema. Não é bem assim. O cinema terá uma participação destacada, mas outros temas serão tratados, tais como literatura (a minha e a de outros escritores), MPB, etc. Até de política poderei, eventualmente, falar, ainda que precise tapar as narinas. Para inaugurar, no entanto, esta página, achei interessante escrever sobre o filme que a ela emprestou o nome. Não é uma crítica recente. Foi escrita há uns doze/treze anos e publicada num semanário de Natal, já extinto, onde escrevi durante uns poucos meses. Sai aqui da forma que saiu lá. As únicas alterações feitas foram para corrigir erros de revisão, uma praga que ainda hoje sobrevive na imprensa local. Vamos, então, ao texto.
LUZES DA CIDADE
Se o lançamento em vídeo de Luzes da Cidade oferece a oportunidade de uma reavaliação crítica, essa reavaliação, em contrapartida, esbarra num obstáculo quase intransponível. Ou seja, o de falar de uma obra (prima) que de tão exaustivamente analisada e dissecada, não dá a ninguém a chance de descobrir-lhe algum elemento que tenha escapado à argúcia de tantos quantos se debruçaram sobre ela. E essa é uma dificuldade que não encontramos apenas em Luzes da Cidade, mas se estende a qualquer outro clássico de Chaplin, e a coisa se complica ainda mais se tivermos de falar do próprio cineasta. De todo modo, assumamos o risco de fazer chover no suficientemente molhado e digamos alguma coisa sobre o filme.
No livro Minha Vida , Chaplin confessa que ficou deprimido com a observação de um jovem crítico americano, em artigo escrito quando o filme foi lançado, segundo a qual Luzes da Cidade "pendia para o sentimentalismo". Embora Chaplin não tenha se queixado de que alguém mais tenha feito a mesma observação, é de se acreditar que isso tenha ocorrido. E não somente a Luzes da Cidade. Na apresentação de Minha Vida, o crítico Sérgio Augusto comenta essa restrição à obra de Chaplin, acrescentando que ela foi "duradoura e epidêmica".
De fato, em Luzes da Cidade não há como negar o apelo ao sentimentalismo localizado na cega vendedora de flores. Mas por ele é também alcançado o vagabundo, quando, comovido pela cegueira da jovem, vai à luta em busca de recursos para custear a cirurgia que a fará abrir os olhos. Já antes dele conhecer a cega, o seu bom-mocismo é revelado quando evita que o milionário cometa suicídio. Mas há em toda a sequência, pelo menos, infiltrado no sentimento da boa ação, o componete humorístico, o que atenua a presença daquele, fato que quase não ocorre nas cenas entre o vagabundo e a cega. E é preciso, no entanto, chamar a atenção para a solução encontrada por Chaplin, no final, não só por evitar um happy end inteiramente implausível, mas por saber captar, num close do rosto do vagabundo, a expressão de dor que ele tenta disfarçar num sorriso. Essa imagem do rosto de Carlitos resulta no que, talvez, seja o mais genial de todos os finais de filmes da História do cinema. Fico pensando se Woody Allen não se inspirou nele para o de A Rosa Púrpura do Cairo. Em Bergman é que não foi.
Mas mesmo sem esse final, Luzes da Cidade ainda manteria o status de grande obra em razão do humor. (Aliás, é graças ao elemento humorístico que a obra de Frank Capra ainda desperta interesse.) É uma quase ininterrupta sucessão de gags engraçadíssimas que deixam o espectador na árdua tarefa de escolher a mais bem elaborada. A sequência da festa, na casa do milionário, que culmina com um apito entalado no esôfago de Carlitos? A luta de boxe? O jantar no restaurante aonde o vagabundo é levado pelo milionário generoso quando bêbado? Difícil, muito difícil escolher.
Rever Chaplin (e, também, Keaton, Lloyd, o Gordo e o Magro,, mas principalmente Chaplin) é antes de mais nada obrigatório, diante da indigência criativa de que padecem as comédias atuais.
NOTA DE HOJE - Revi o filme faz pouco tempo, em DVD, e pude ver que a sua grandeza continua. E, curioso, achei o sentimentalismo mais diluído no elemento humorístico e na poesia simples que o filme irradia. Agora, uma curiosidade. Uma descoberta de Chaplin, a atriz Virginia Cherrill, que interpreta a jovem cega, fez apenas mais treze filmes depois da sua estréia. E nenhum deles memorável, inclusive uma comédia de John Ford, A Garota. Encerrou, prematuramente, a carreira em 1936. Morta em 1996, aos 88 anos, por coincidência a mesma idade com que faleceu o seu descobridor.

2 comentários:

benechaves disse...

Oi, Sobreira: finalmente vc tb aderiu, hein? Ficou legal o visual e o nome tb. Afinal de contas, Chaplin merece tal homenagem e "Luzes da Cidade" acho seu melhor filme. Agora é tocar o barco pra frente. Parabéns e muito sucesso!
2005 abraços...

Anônimo disse...

Feliz em estar aqui na primeira edição de deu blog. Bem vindo ao mundo da blogosfera Sobreira. Pelo que li vc tem um curriculo maravilhoso e este blog vai ser um caldeirão cultural.
O nome do blog é bem sugestivo, e o teu texto traduz bem a tua adimiração por Luzes da cidade, a meu ver tb um filme atemporal. Bons filmes e boas musicas a gente não cansa de ver e ouvir não é?
Deixo beijos e vou colocar um link lá no meu para te visitar sempre.

Angela http://anjosa39.zip.net/