domingo, setembro 05, 2010

PALHAÇOS

Foto :  Google


Sábado retrasado fui à festinha de aniversário dos dois anos de um neto. Gosto de ir a essas festinhas  por causa das crianças, a visão delas brincando, gritando, se divertindo me traz de volta a infância. Faz-me bem observar aqueles meninos e meninas em sua inocência, inconscientes dos problemas, aborrecimentos e dificuldades que têm os seus pais (é verdade que que estes usufruem o lado bom que a vida oferece). Mas não há dúvida de que é a infância a melhor quadra da vida de uma pessoa e não é por outra razão que o adulto, principalmente o da minha idade, está sempre a relembrar os seus momentos de criança.
Essa última festinha teve a presença de um palhaço, o que deixou as crianças ainda mais animadas e fez este sócio do clube da terceira idade transformar-se, por  alguns instantes, em  uma delas, ao se lembrar da chegada anual de um circo mambembe à sua pequena cidade. O palhaço era a principal atração da meninada, Na verdade, eram dois ou três, que, com as suas brincadeiras, entre si, levavam-nos ao delírio. Claro que eles divertiam os adultos, soltando piadas, muitas vezes impróprias para a nossa idade, mas que não entendíamos e não maculavam a nossa inocência. Um palhaço (talvez o principal)  criava um bordão, ou mais de um, que era repetido no dia a dia dos habitantes da cidade, até mesmo quando o circo ia embora.
Tenho uma lembrança recorrente de um dessas figuras que levam as pessoas ao riso franco e tão saudável, sobre as quais Fellini fez um filme. Era anão, de um moreno acentuado e gordo. Me recordo dele percorrendo as ruas na distribuição de folhetos para a apresentação do circo à noite. Os meninos à sua volta, os mais brincalhões mexendo com ele e a sua reação era fazer alguma graça que nos provocava gargalhadas.
Mas o palhaço, só o sabemos quando crescemos, é, em geral, um ser triste, quando não está no picadeiro ,fazendo as pessoas rirem., e têm que enfrentar a vida lá fora. Há um quadro impressionante do pintor francês Georges Rouault (1871-1958). que mostra três palhaços com uma expressão de tristeza de fazer dó.  Já o escritor argentino Ernesto Sabato, no seu livro de memórias "Antes do Fim", narra um fato que presenciou, quando menino,  e que lhe ficou gravado na memória: o suicídio do palhaço Scarpim y Bertoldito em plena apresentação da peça "Espectros" (segundo o escritor, ele gostava de  interpretar  personagens trágicos), ingerindo uma porção de um veneno, "enquanto o público aplaudia inocentemente".   
Voltando à festinha de aniversário, em dado momento fui ao local onde o palhaço se apresentava. Havia uma "casinha" de madeira, com uma "janelinha", onde aparecia um boneco de engonço. Ao lado havia a coadjuvante do palhaço,  bonitinha e muito jovem. Pela voz do palhaço, o boneco dialogava com a mocinha, cada um deles pedindo a manifestação quando um dizia algo do outro. Todas sentadinhas, as crianças interagiam com a dupla. Fiquei observando atentamente aquele espetáculo e, confesso, me emocionei. Me emocionei ao ver aqueles meninos e meninas que, por alguns momentos, tinham deixado de lado os video games  e a televisão (e, alguns, talvez, até a Internet) para assistirem a algo novo para eles,  um divertimento  que extrai  o seu encanto através  da simplicidade,   até mesmo, diria , de uma  certa simploriedade,  e com  isso acontece a comunicação com a plateia. Eles que, ao contrário dos avôs, jamiais entraram num circo (jamais entrarão) e se depararam, entre outros atrativos,  com a arte do palhaço.  

14 comentários:

Dilberto L. Rosa disse...

Belas homenagensem forma de ainda mais belas reminiscências sobre um tempo já quase esquecido, o de quando o circo reinava entre a garotada... Todo palhaço é alegrememente triste, como os palhaços velhinhos dos asilos do filme de Fellini... Abração, meu caro! E os Morcegos voltaram!

Jota Effe Esse disse...

Pelo que suponho, o palhaço é figura universal, jamais morrerá. Já o circo tende a desaparecer, devorado pelas florestas de pedra.
Hoje tem palhaçada? Tem sim, senhor!... Meu abraço.

Jacinta Dantas disse...

Que experiência, Francisco! Ficar ali, na festa infantil e se dar a oportunidade de se ver, também, como criança que fora. Penso que a Vida é feita, em cada ser, é feita assim, no reconhecimento de si nas várias etapas de vida pelas quais o Ser vai se tornando a pessoa que se é no presente. E, com palhaço e tudo de "ingenuidade/simplicidade" dessa arte, tudo vira magia.
Grande abraço

Marco disse...

Olá, amigo Francisco.
Ah, os palhaços e os circos de infância...
Este personagem exerce um fascínio mágico sobre crianças e adultos. O meu palhaço querido é o Carequinha, que entrevistei certa vez e pude derramar todos os elogios e minhas saudades.
Bela postagem. Que a alegria do palhaço para aquelas crianças criem nelas ternuras eternas que serão relembradas quando elas forem mais maduras.
Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

DILERMArtins disse...

Mas bah, Sobreira.
Duas coisas me ocorrem:
O Pinduca, palhaço e dono do Teatro Pinduca, uma espécie de circo que apresentava uma peça por dia durante a temporada em que ficava na cidade, sempre tragicomicas. Que saudades!
E, os nossos aniversários, sem as super produções de hoje, mas nem por isso menos alegres e marcantes...
Obrigado por me trazer essas lembranças.
Abração.

Jota Effe Esse disse...

Volto nesse 7 de Setembro pra dizer que já é hora, aliás já passou da hora, de deixarmos de ser palhaços para os maus políticos. Meu abraço.

Claudinha ੴ disse...

Olá Sobreira!
Primeiramente parabéns ao netinho, será que o aniversário é no mesmo dia do meu?
Bem, sobre o palhaço, fico feliz que tenha boas lembranças. Eu frequentei os circos, fui em grandes deles em BH e Rio de Janeiro, fui naqueles de fundo de quintal também e até tivemos um cirquinha nosso na rua em que morava, mas a imagem que tenho do palhaço é sempre a da tristeza. Não conseguia rir muito daquelas graças nem me encantar. Sempre me encantei pelos trapezistas e seus músculos, mas os palhaços me traziam um medo do que tinha por detrás da pintura. Só dois me cativaram na vida. O Carequinha(quem faz pipi na cama? Euuuu!) e o Arrelia (como vai, como vai, como vai), os demais me assustavam e eu tinha uma relação até de terror para com eles. Dei trabalho a meus pais.
Mas cada um tem as lembranças do seu jeito e as suas são boas.
Um beijo.

Claudinha ੴ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Claudinha ੴ disse...

Ah, tive que procurar o significado de boneco de engonço. Agora já sei... Sempre aprendo com você. Beijos.

Vanuza Pantaleão disse...

Sobreira, meu amigo!
Que post, hein? O que eu poderia acrescentar mais?
Talvez minhas velhas memórias do Fred e do Carequinha na TV TUPI...
Fellini e a sua (nossa) Giulietta Masina em Noites de Cabiria e, é óbvio, o nosso eterno Carlitos.
Já dizem que fazer rir é muito difícil e divertir uma criança não é brincadeira, não.

Veja bem, eu não era diferente das outras moçoilas e gostava muito do Marlon Brando, Alain Delon James Dean...mas aquela madrugada da TV EXCELSIOR virou a minha cabeça. Quem era aquele japonês elegante e de boa estatura que se envolveu ardentemente com uma francesa?
Marcou!Rs.
Marcou tanto que já estava há tempos me programando para buscá-lo na net. Uma busca quase em vão, Eiji Okada já falecera e pouca coisa nos deixaram sobre seu passado. Tive que garimpar loucamante para encontrar aqueles vestígios. O que houve? A questão política da bomba atômica? Acredito que isso tenha tido uma forte influência no sumiço do meu ídolo. Mas vou revê-lo no youtube que contém todo o filme que seria um simples documentário, mas virou obra-prima.
A arte japonesa influenciando o impressionismo? Com certeza. Um desses três fez essa revelação: Van Gogh, Gauguin ou Monet. Eu li, juro.

Um domingo risonho, querido amigo!!!Bjsss

Vanuza Pantaleão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vanuza Pantaleão disse...

A emenda ficou pior que o soneto: quis corrigir o "loucamente" e errei de novo. Digitação e gripe não combinam [risos]

Vários. disse...

caro amigo, sou seu fã, queria seu email para entrar em contato com vc
e falar sobre seus livros

Vanuza Pantaleão disse...

Obrigada pelo e-mail, amigo!
Mas saiba que a beleza e a competência dos seus posts nunca serão esquecidos por nós. Você será sempre um Mestre para nós. Abraço carinhoso!