domingo, julho 11, 2010

ADÚLTERA (Le Diable au Corps/1947)




Também o título do livro, do qual o filme é adaptado, "o diabo no corpo" é a forma impetuosa, indomada e avassaladora com que dois jovens se entregam a uma relação proibida pela sociedade. E no caso de "Adúltera" (título que, além de buscar o apelo comercial, parece soar como uma atitude discriminatória contra a mulher), existe o fato de o traído ser um combatente na Primeira Guerra Mundial, já perto do seu término. Ao ser lançado em 1923 (no mesmo ano do falecimento precoce, 20 anos, do escritor Raymond Radiguet) o livro foi duramente criticado pelas ligas de ex-combatentes, por essse motivo, e considerado por outras pessoas de um "cinismo maquiavélico". E talvez a advertência feita logo após os créditos iniciais do filme, de que "os personagens desta obra cinematográfica, em sua juventude impetuosa e, às vezes, cínica, exprimem os sentimentos de alguns jovens (o grifo é meu) cujos espíritos foram tomados pela confusão que, de 1914 a 1918, estremeceu o Mundo", tenha tido a intenção de protegê-lo de condenações ainda mais fortes, tendo em vista que a França, e, por extensão, o continente europeu, ainda sofria os efeitos de outra guerra, terminada dois anos antes. Ou seja, o comportamento daquele casal jovem não exprimia a totalidade de pessoas da sua faixa etária.
Devido à condição de Marthe de uma mulher casada, essa relação que subjuga os dois amantes é feita de sobressaltos, de extremos cuidados com a exposição deles à curiosidade e maledicência humanas. François penetra na casa de Marthe como se fora um ladrão. O único momento de tranquilidade é no passeio pelo rio, de barco, quando ele adormece no colo da amante.
É, assim, um amor fadado ao fracasso, cujo símbolo é a morte de Marthe. Por sinal, o diretor Claude Autant-Lara se serve de alguns símbolos para narrar a história dessa paixão avassaladora. Entre esses, a lareira que arde quando os dois consumam o primeiro ato sexual; a presença de grades diante de François - um recurso que usadc om certa frequência faz atenuar a sua eficácia no filme, que se não atinge um nível dos mais altos, possui muitas qualidades, por conta de alguns bons momentos, como quando Marthe revela ao amante que está grávida: depois de dizer que tem uma grande novidade para lhe contar , ela aproxima a boca dos ouvidos dele. Outro é quando Marthe, nos estertores da morte, confunde a mão do marido com a de François e diz o nome deste, enquanto a mãe esclarece o genro de que ela está se referindo ao filho que não irá nascer.
"Adúltera" é também valorizado pelas interpretações de Gerard Philippe e Micheline Presle. Na história ela é mais velha, enquanto na realidade eles nasceram no mesmo ano de 1922. Grande ator e boa pinta, Gerard Philippe teve uma vida curta, falecendo a poucos dias de completar 37 anos. Já a atriz está viva, aos 88, e, ao que parece, ainda em atividade.

8 comentários:

Jota Effe Esse disse...

Os filmes, com suas histórias do passado, nos dão o que pensar dos costumes de outrora. E tu, amigo Francisco, sempre fazes um relato que nos ajuda. Meu abraço.

Sergio Andrade disse...

Ainda não encontrei por aqui. Excelente crítica, Sobreira, me deixou com mais vontade ainda pra assistir.
Micheline continua em plena atividade, com um filme lançado na França este ano!

Um abraço.

Claudinha ੴ disse...

Querido amigo, volto timidamente, encontrando o Blogger com problemas para publicar meu post.
O jeito com que comenta o filme me faz ter vontade de ver, de saber os motivos que levaram o casal a tal atitude, as consequências.
Já estava com saudades daqui!
Um beijo!

DILERMArtins disse...

Mas bah, Sobreira.
Como sempre, sua crítica nos leva a querer mais...Querer ver ou rever o filme(ver no meu caso).
Parabéns.

DILERMArtins disse...

ET: Seus comentários no ARTeiro, estão devidamente publicados, desculpe a demora, acontece que estou sem secretário, aqui na Chácara, dai todo o serviço sobra pra mim...

Claudinha ੴ disse...

Sobreira!
Meu caro amigo, voltei para agradecer sua presença e carinho lá nas comemorações do TP.
Um beijo!

Marco disse...

Caro amigo Sobreira, confesso que não conheço este filme. Também o livro não tinha ouvido falar. Mas é indiscutível que a sua resenha é absolutamente instigante.
Carpe diem. Aproveite o dia e a vida.

Vanuza Pantaleão disse...

Sobreira, meu amigo, bebi cada palavra sua. Sabe, meu marido, até mais que eu - e não falo por vaidade -, é um profundo conhecedor da Sétima Arte. Meu filho, pra variar, também. Se eles não tivessem uma vida tão corrida, aposto que estariam aqui, saboreando essa maravilha de espaço que você, tão generosamante, nos presenteia.
Meu falecido pai nos levava ao cinema desde muito cedo e víamos de um tudo, desde as chanchadas da Atlântida (vou te encomendar um post sobre as mesmas, rs), até Kirk Douglas. Tinham também os fimes mexicanos com Maria Félix, aquela beleza morena que enchia a tela...
Esse Adúltera, se não me falha a memória, já fizeram um remake dela. Mas vou conferir com o Rodrigo e volto pra te contar.
Parabéns, amigo!
Um grande final de semana!!!Bjsss