Fortaleza, anos 1950: trecho da rua Guilherme Rocha, cen-
tro da cidade, a qual desemboca na praça do Ferreira.
Foto: Google
No meu tempo de estudante em Fortaleza havia uma casa comercial que se diferençava das demais pelo tipo de propaganda que fazia. Na verdade, uma anti-propaganda, pois era anunciada por cobrar os preços mais altos da cidade, os seus produtos eram de baixa qualidade e não tinham garantia. Havia ainda a Casa Bicho, que tinha esse nome porque o seu proprietário se chamava José Bicho.
Pequenas lembranças de uma Fortaleza que não existe mais, que ficaram para sempre na minha memória. Tais como as matinês, aos domingos, do Cine Rex, ali na rua General Sampaio, a poucos metros da praça José de Alencar. Lá se reuniam os adolescentes de ambos os sexos, para ver um filme acessível à sua faixa etária. Não era raro encontrar um ou outro colega do Liceu. Numa ocasião vi o Jorge, que estudava na minha classe. Estávamos na fila para compra do ingresso, ele um pouco atrás de mim. Acompanhado de um amigo, ele lia, em voz alta, uma carta que uma namorada lhe enviara. Ria com alguns trechos da carta, aqueles em que a jovem demonstrava mais a atração que tinha por ele. Presenciando aquele exibicionismo de Jorge, eu, que já não era seu amigo, passei a detestá-lo a partir desse seu comportamento reprovável.
Um fato curioso no Rex era o preço da meia entrada: Cr$ 2,40. Por que, como os seus concorrentes, não era cobrado o preço de Cr$ 2,50? E, geralmente, ficava por esse preço, pois a bilheteira não dispunha de dez centavos. Nunca entendi isso.
Lá eu assisti A Princesa e o Plebeu. Fiquei ao lado de duas mocinhas, uma das quais não parava de falar. E uma vez em que Gregory Peck caminhava com uma mão no bolso da calça, ela disse à amiga que o homem que assim procedia era um liso.
Lembranças. Lembranças. Os programas de auditório na Rádio Iracema e na Ceará Rádio Clube, nas tardes de sábado. Talvez o mais popular de todos fosse o de Irapuan Lima, "o Chacrinha do Norte", na primeira delas. O auditório lotado de pessoas de diversas idades. Quando um cantor, ou cantora, de expressão nacional, vinha se apresentar num clube de Fortaleza, comparecia a esses programas. Num deles apareceu Elizeth Cardoso, que , na época, ainda não era chamada de "A Divina".
Um cunhado de um dos meus irmãos trabalhava na Dragão do Mar. Um dia ele me convidou para conhecer a rádio. Era uma tarde de um dia qualquer. Na ocasião estava sendo gravada uma novela. Embora fosse narrador esportivo, ele participava da novela (talvez por uma emergência) , fazendo um pequeno papel. Conseguiu com que eu assistisse à gravação. Reconheci o galã da novela, Oliveira Filho, que morava no meu bairro. E conheci um casal de atores que trabalhava em teatro. E tive uma tremenda decepção com a atriz que formava o par romântico com Oliveira Filho. Uma vez ou outra, eu acompanhava algum capítulo de rádio-novela. Morava na casa de outro irmão e a minha cunhada gostava de rádio-novela. Quando estava em casa, e se não estivesse estudando, ouvia essas novelas, ou parte delas. Então, havia uma atriz (não me lembro do nome) que me atraía pela voz suave, bonita, algo sensual, o que me levava a imaginar que fosse uma mulher bonita. Pois bem. Nesse determinado dia, lá estava ela. Não chegava a ser feia, mas estava muito longe do padrão de beleza que imaginava possuir.
E aquela funcionária bonitinha de uma loja de variedades? Aparentava ser um pouco mais velha do que eu. Estava quase sempre à frente da loja, quando eu por lá passava. Iniciamos um flerte (assim se chamava a paquera naquele tempo) e daí evoluímos para o namoro. Só que ela nunca soube que namoramos.
Pequenas lembranças de uma Fortaleza que não existe mais, que ficaram para sempre na minha memória. Tais como as matinês, aos domingos, do Cine Rex, ali na rua General Sampaio, a poucos metros da praça José de Alencar. Lá se reuniam os adolescentes de ambos os sexos, para ver um filme acessível à sua faixa etária. Não era raro encontrar um ou outro colega do Liceu. Numa ocasião vi o Jorge, que estudava na minha classe. Estávamos na fila para compra do ingresso, ele um pouco atrás de mim. Acompanhado de um amigo, ele lia, em voz alta, uma carta que uma namorada lhe enviara. Ria com alguns trechos da carta, aqueles em que a jovem demonstrava mais a atração que tinha por ele. Presenciando aquele exibicionismo de Jorge, eu, que já não era seu amigo, passei a detestá-lo a partir desse seu comportamento reprovável.
Um fato curioso no Rex era o preço da meia entrada: Cr$ 2,40. Por que, como os seus concorrentes, não era cobrado o preço de Cr$ 2,50? E, geralmente, ficava por esse preço, pois a bilheteira não dispunha de dez centavos. Nunca entendi isso.
Lá eu assisti A Princesa e o Plebeu. Fiquei ao lado de duas mocinhas, uma das quais não parava de falar. E uma vez em que Gregory Peck caminhava com uma mão no bolso da calça, ela disse à amiga que o homem que assim procedia era um liso.
Lembranças. Lembranças. Os programas de auditório na Rádio Iracema e na Ceará Rádio Clube, nas tardes de sábado. Talvez o mais popular de todos fosse o de Irapuan Lima, "o Chacrinha do Norte", na primeira delas. O auditório lotado de pessoas de diversas idades. Quando um cantor, ou cantora, de expressão nacional, vinha se apresentar num clube de Fortaleza, comparecia a esses programas. Num deles apareceu Elizeth Cardoso, que , na época, ainda não era chamada de "A Divina".
Um cunhado de um dos meus irmãos trabalhava na Dragão do Mar. Um dia ele me convidou para conhecer a rádio. Era uma tarde de um dia qualquer. Na ocasião estava sendo gravada uma novela. Embora fosse narrador esportivo, ele participava da novela (talvez por uma emergência) , fazendo um pequeno papel. Conseguiu com que eu assistisse à gravação. Reconheci o galã da novela, Oliveira Filho, que morava no meu bairro. E conheci um casal de atores que trabalhava em teatro. E tive uma tremenda decepção com a atriz que formava o par romântico com Oliveira Filho. Uma vez ou outra, eu acompanhava algum capítulo de rádio-novela. Morava na casa de outro irmão e a minha cunhada gostava de rádio-novela. Quando estava em casa, e se não estivesse estudando, ouvia essas novelas, ou parte delas. Então, havia uma atriz (não me lembro do nome) que me atraía pela voz suave, bonita, algo sensual, o que me levava a imaginar que fosse uma mulher bonita. Pois bem. Nesse determinado dia, lá estava ela. Não chegava a ser feia, mas estava muito longe do padrão de beleza que imaginava possuir.
E aquela funcionária bonitinha de uma loja de variedades? Aparentava ser um pouco mais velha do que eu. Estava quase sempre à frente da loja, quando eu por lá passava. Iniciamos um flerte (assim se chamava a paquera naquele tempo) e daí evoluímos para o namoro. Só que ela nunca soube que namoramos.
A ALMA DAS CIDADES
Poema de Horácio Paiva/RN
Poema de Horácio Paiva/RN
A cidade passou
antes de mim.
E não houve adeus.
Perdeu-se
no caos incontrolável
da impermanência.
Não a cidade onde nasci,
é óbvio,
mas a que aprendi a amar depois.
E quando vi que passara,
retirei-me.
Sem olhar para trás...
Anjos
- que não sabem que são anjos -
vieram ao meu encontro
e serviram-me.
Ainda não morri,
concordo,
mas a alma de minha cidade
não existe mais.
antes de mim.
E não houve adeus.
Perdeu-se
no caos incontrolável
da impermanência.
Não a cidade onde nasci,
é óbvio,
mas a que aprendi a amar depois.
E quando vi que passara,
retirei-me.
Sem olhar para trás...
Anjos
- que não sabem que são anjos -
vieram ao meu encontro
e serviram-me.
Ainda não morri,
concordo,
mas a alma de minha cidade
não existe mais.
8 comentários:
Então, aqui estou eu, lendo suas lembranças. Lembranças gostosas de um tempo bem diferente. E, o que me encanta mesmo, é a riqueza de emoções que vou sentindo nas entrelinhas do texto: a antipatia à postura do colega, publicando algo que deveria ser reservado, e, a fantasia com a atriz de radio novela, para mim, são o destaque.
Grande abraço e bom domingo
Querido Francisco
Mais um belo relato de suas recordações, tão rico de pormenores que nos faz acompanhá-lo como se também as estivéssemos vivendo.
De salientar que um "rapazinho" - calculo que ainda não adulto - tivesse sentido repúdio pelo conhecido que partilhava a carta da namorada e com isso fazia zombaria. Prenúncio de bom carácter, em meu entender...
Bonito poema.
Beijinhos
Mariazita
Querido amigo Sobreira, que bom ter estas lembranças, significa que não passamos por este mundo em vão. Também tenho umas cidades que só existem em minhas saudades, mas tudo se transforma...
Seu relato tem muito a ver com seu último livro que eu li, um rapaz descobrindo o viver.
Um beijo!
* Assim que puder, dou um jeito nos comentários.
Mas bah, Sobreira.
Lembranças de Fortaleza, suas lembranças, as minhas mais modestas, são lembraças de pequenas cidades do interior do Brasil. Mas sempre lembranças de cidades, municípios, lugares onde tudo acontece...Infelizmente a Federação Brasileiram e suas autoridades tratam muito mal nossos municípios, sem entender que todo nosso trabalho, nossas lembranças, nosso amor fica nas cidades onde vivemos.
A CASA DA MARIQUINHAS
completa hoje, domingo, 14 de Fevereiro, dois anos de vida.
Gostaria de contar com a tua presença, e de te oferecer o presentinho que preparei para os amigos.
Beijinhos
Mariazita
Não conheci a Fortaleza das suas lembranças (quando a conheci já era outra), mas as suas recordações despertaram as minhas.
abraços
me chamo Mauricelio,fiz parte do programa do Irapoan lima,era cantor, a musica que mais marcou foi,segura este samba ogunhe,fiqueiu muito conhecido.lembro,de Aidilva maria,branda azul,e outros que por nome esquerci,quantas saudades.se essa turma ainda existirem entrem em contacto comigo pelo face,meu endereço é mendes mauricelio.pois temos muito que conversar.
só me resta saudades.beijos e abraços para todos que fizeram parte de minha vida passada.
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