quarta-feira, julho 09, 2008

AMOR À FLOR DA PELE (2000)







Um filme triste este do chinês Kar-Wai Wong. Triste e amargurado, porque os personagens centrais, Chow (Tony Leung) e Su Linzhen (Maggie Cheung), que é sempre chamada por Mrs. Chan, sobrenome do marido, não conseguem transformar em amor a atração que sentem um pelo outro. A não-consumação desse amor ocorre por causa da mulher, mas a razão não é explicada, apenas ela chega a dizer uma vez "não devemos fazer como eles", que são o marido dela e a esposa dele, que têm um caso. Assim, não vão uma única vez para a cama no seu curto relacionamento, não se fazem carinhos, ainda que estejam quase sempre juntos, até em um quarto de hotel. É como se fossem dois amigos (embora, segundo Borges, a amizade é uma das formas que o amor assume), solitários pela constante ausência dos outros dois parceiros, dois carentes em busca de um amor, já que fracassou o legitimado pelo casamento. Em resumo, não é um filme de amor, mas da impossibilidade de um amor, e, nessa particularidade, "Amor à Flor da Pele" faz lembrar o universo temático de Antonioni, dentro, contudo, de um outro contexto.

O diretor enfatiza bem essa impossibilidade ao reunir os dois algumas vezes à frente de uma grade, cujas barras se assemelham à de uma prisão. E como se fosse um contraponto à falta de entrega total, avassaladora a esse amor, a trama é pontuada em algumas ocasiões pela voz de Nat King Cole interpretando boleros.

Um detalhe a ser destacado é que os dois adúlteros não são vistos pelo espectador. Ouve-se em raras ocasiões a voz deles, ou com Chow, ou com Chan, mas a câmera os "esconde", só mostrando o rosto ou o corpo destes. (Na verdade, há um plano em que a mulher de Chow é vista chorando, depois que o amante lhe diz que vai encerrar o caso, mas de uma forma em que não se distingue com nitidez o rosto dela.) Não interessa ao diretor apresentá-los ao espectador, pois, ainda que os dois sejam os desencandeadores da aproximação e, conseqüentemente, do sofrimento de Chow e Chan, estes, sim, são os personagens que lhe importam, os seus sentimentos, a sua dor.

Wong prova com este filme porque é um dos cineastas prestigiados pela crítica. Sabe produzir imagens de grande beleza, sabe revelar o drama daquele casal unido (e ao mesmo tempo desunido) pelo amor em planos que dispensam as palavras (uma das cenas mais belas e expressivas é a da lágrima caindo do olho de Chan quando ela está sozinha em um quarto, enquanto Chow está em outro quarto) e tem o pulso forte, mas sensível, na condução dessa história triste, como também no desempenho dos atores centrais.
E que linda mulher essa Maggie Cheung!



Um comentário:

Mariazita disse...

Vim agradecer a visita que, em boa hora, fez ao meu blog.
Porquê em boa hora??? Porque assim me deu a oportunidade de conhecer este seu blog, que considero muito bom!
Muito boa a descrição do filme, que não vi, mas fiquei com muita vontade de ver. Vou alugar no Clube de Vídeo.
Adorei "Bicicleta". Que lindo! Emocionou-me. O assunto "crianças" interessa-me muito. Tenho alguns posts dedicados ao tema.
Não li mais, por agora. Mas vou voltar, com mais tempo.
Beijinhos
Mariazita