quarta-feira, dezembro 05, 2007

DESDE QUE OTAR PARTIU... (Depuis Qu' Otar Est Parti.../2003)




A francesa Julie Bertucelli demonstra talento na sua estréia no cinema (já tinha dirigido um filme para a tevê) neste "Desde Que Otar Partiu"..., uma produção franco-belga. Antes ela fora assistente de alguns diretores, como Bertrand Tavernier ("Um Sonho de Domingo") e Kielowski ("A Dupla Vida de Veronique", entre outros grandes filmes). E o seu pai Jean-Louis Bertucelli também é diretor. É com firmeza, mas sobretudo com sensibilidade e delicadeza, os silêncios, os gestos, as expressões faciais substituindo as palavras em certos momentos, que Julie Bertucelli narra essa história de três mulheres de gerações diferentes, a avó, a filha viúva e a neta, que moram juntas num apartamento em Tbilisi, capital da Geórgia, um dos países que integravam a União Soviética.
O Otar do título é filho da velha Eka (Esther Gorintin), que vive em Paris, para onde fora com o objetivo de seguir a carreira de médico, porém lá só consegue se manter no ofício de pedreiro. Embora sem aparecer, e isso já ocorreu em outros filmes, ele é um personagem importante. A sua presença se faz sentir nas cartas que manda para a mãe (às quais junta um dinheirinho) e por um eventual telefonema. E pela rivalidade que desperta na irmã Marina (Nino Khomasuridze) na disputa (que só está na cabeça dela) pelo amor da mãe, que claramente o prefere à filha.
O roteiro, co-escrito pela diretora, privilegia a participação da jovem Ada (Dinara Drukarova). Ela intervém nas constantes discussões entre a avó e a mãe, que, às vezes, são originadas por diferenças políticas, pois a velha Eka conserva a sua admiração por Stalin. Sem este, na visão dela, o seu país não estaria passando por problemas, inclusive de administração. Lê para a avó as cartas enviadas pelo filho e livros de autores franceses e faz-lhe massagens nos pés. É Ada que está em casa quando chega de Paris o amigo de Otar, com a mala deste, que contém os seus pertences. Sem ser vista pela avó, guarda a mala e quando a avó surge para ver quem é o visitante, ela, através de gestos, o faz entender que a velha não sabe da morte do filho.
Aliás, a parte mais significativa do roteiro é a decisão tomada por Marina de esconder da mãe a morte de Otar. Para isso, ela se dispõe a escrever as cartas que o irmão continuaria escrevendo se estivesse vivo. Essa atitude de Marina, no entanto, faz aflorar um sentido de ambiguidade, pois pode ter sido determinada não apenas pelo desejo de poupar a velha mãe da dor da perda do filho querido. E é justamente por Ada que o espectador é alertado para isso, quando a jovem acompanha Marina e o amante à casa de campo da avó. Num momento de raiva (não se sabe exatamente por quê), acusa Marina de ter em mente um objetivo na sua atitude: ao iludir Eka de que Otar continua vivo, ela pretenderia, na verdade, lutar para um dia conquistar o coração da mãe. Para Ada, com Otar morto, isso seria impossível.
Já perto do final a ação do filme se transfere para Paris, com a ida da três mulheres àquela cidade, determinada por Eka que quer visitar o filho. E, lá, o roteiro, que já era bom, evolui na qualidade. É quando a velha, sozinha, vai procurar o apartamento onde morava Otar. E ao saber de um vizinho que o filho está morto e recebe dele uma carta que destinara a Otar, descobre, então, toda a trama armada pela filha. É, talvez, o grande momento de "Desde Que Otar Partiu"... A velha fica um pouco sentada no topo da escada do apartamento, observando a porta vermelha do apartamento de Otar. Depois vai a uma praça, onde senta num banco. Em certo momento, retira do bolso a carta e é aí, talvez, que toma a decisão de participar também do jogo. Ou seja, o filho está vivo. E ao voltar para o hotel, diz à filha e à neta (preocupadas com a sua ausência) que fora visitar Otar, mas não o encontrou, pois ele fora embora para os Estados Unidos, em busca de melhores oportunidades de trabalho.
O filme termina com Ada (e só poderia terminar mesmo com ela) deixando o aeroporto de Paris. Resolvera ficar na França. É uma resolução súbita, impulsiva e inesperada, tomada quando, afastada da mãe e da avó, está numa livraria e ouve o aviso de embarque. Bem realizada a cena em que ela, através do vidro da sala de embarque, por meio de gestos, comunica a Eka e Marina a sua decisão. Não há falas por parte de ambas e há um pequeno afago de Eka em Marina, que não resiste às lágrimas. Nesse ato de Eka fica a esperança de que Marina possa vir, no futuro, a conquistar o coração da mãe. Ambas perderam os filhos, e esse fato poderá uni-las na dor e na saudade e fazer cessarem os desentendimentos, as discussões entre elas.
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Uma curiosidade. A atriz Esther Gorintin (georgiana, como os demais integrantes do elenco) estava com 89 anos durante as filmagens. E estreara no cinema há apenas 4 anos antes, portanto com 85 anos nas costas. E pelo que me informei, continua em atividade.

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

O filme parece interessante, Sobreira, mas não me chamou a atenção quando de seu lançamento entre nós. Aliás, não me lembro se ele foi lançado comercialmente... Um abraço.

Anônimo disse...

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