quarta-feira, novembro 07, 2007

NOMES PRÓPRIOS TÃO IMPRÓPRIOS



Li na revista "Língua Portuguesa", última edição nas bancas, que um casal chinês quis dar ao filho recém-nascido o nome @. Sim, o sinal que aparece nos e-mails, chamado de arroba no Brasil. Segundo a revista, a justificativa dada pelo casal é que @ "quando traduzido para o chinês, tem o mesmo som dos ideogramas em mandarim para a expressão 'eu o amo'. O nome da criança, portanto, seria uma homenagem ao amor que os pais têm por ela". Fiquei imaginando se algum pai brasileiro, da espécie de internautas que chegam quase à idolatria ao computador, quisesse batizar uma filha com o nome de Arroba. Não queria estar na pele da coitada. As gozações que iria sofrer ao longo da vida, as piadas sobre o seu nome, proporcionadas pelo fato de que a palavra também significa uma unidade de peso, equivalente a 15 quilos, usada para produtos agropecuários.

Não consigo entender o que passa pela cabeça de certos pais na hora de escolherem um nome para o filho. Há nomes que ensejam a pensar que o pai não estava com o juízo perfeito na ocasião. E não seria também o caso de, por não desejar o nascimento do filho (ou filha), o sujeito quisesse lhe dar um nome que o ferisse por toda a vida, como uma chaga? Há alguma coisa que não sabemos qual (a não ser o péssimo gosto), que leva um pai a nomear uma filha de Merdolina. E por falar nesse nome, me lembro de quando trabalhava na seção de ordens de pagamento. Muitas vezes a orpag era transmitida por telefone. E um dia recebi uma mensagem de uma agência de Fortaleza. O nome da beneficiária era Medda. O colega até me advertiu, em tom de brincadeira: "Cuidado, Sobreira, pra não trocar o primeiro "d" por um "r" quando for escrever o nome da moça".

Em certos nomes não há um componente escatológico como o de Merdolina, por exemplo. O caso é apenas de mau gosto mesmo. Quando trabalhei no interior do Ceará tive uma namorada chamada Primitiva. Na mesma cidade encontrei um colega com o nome de Oceano Atlântico. Oceano Atlântico Linhares, que tratávamos apenas por Oceano. Outro exemplo, o nome do excelente ator Lima Duarte (foto acima, in Google) : Aryclenes Venâncio Duarte. Ele abomina o seu prenome, segundo soube pelo seu colega (já falecido) Paulo Gracindo, num espetáculo solo que este apresentou em Natal na década de 1980. Paulo, que também não gostava do seu verdadeiro nome (Pelópidas), revelou que quando alguém da Globo chamava Lima Duarte por Aryclenes (pra mexer com ele), levava como resposta uma expressão chula muito usada. "Um dos nomes é bem pequenininho", acrescentou. O sobrenome Vandré foi criado pelo próprio compositor, em parceria com Théo de Barros, da obra-prima "Disparada". Ele abreviou o segundo nome do pai, que era, vejam só, Vandregísilo.

Ainda nesse caso de apenas mau gosto estão aqueles nomes que encerram uma homenagem. Quando estudava no Liceu, de Fortaleza, havia um colega chamado Irapuan Índio do Piauí. Numa aula de Português, o professor, ao fazer a chamada, fez uma gozação com o nome dele, que arrancou risadas da classe. Ele carregou o fardo do nome enquanto o pai estava vivo. Com a morte deste, Irapuan (de quem sou amigo até hoje e, como eu, se tornou funcionário do Banco do Brasil), decidiu suprimir esse incômodo "Índio do Piauí". O filho de Oswald de Andrade, fruto do seu casamento com Patrícia Galvão (Pagu), tinha por nome completo Rudá Poronominare Galvão. Rudá não sei a razão. Já Poronominare é uma entidade indígena, cujo nome significa "dono da terra e do céu". É o que revela a matéria "Marcas de batismo" dessa ótima revista, que não conhecia, escrita por Luiz Costa Pereira Junior.

Um comentário:

Anônimo disse...

Merdolina parece ter sido pelo fato de o pai querer um filho homem e merdolina teria tido a infelicidade de ser a sétima filha.