Não faz muito tempo alguém aqui de Natal afirmou, numa entrevista, que havia lido "Ulisses" de uma assentada. De imediato me ocorreram duas hipóteses: ou ele não conhece o significado de assentada (o que acho muito pouco provável), ou não estava falando a verdade. Acho impossível ler de uma só vez um livro de cerca de 700 páginas escrito numa linguagem clara, acessível até a um leitor de mediana capacidade intelectual e narrado de forma linear. Agora, imagine uma obra dotada de características formais, estilísticas, lingúísticas, conteudísticas de "Ulisses," cujo acesso é permitido a uns poucos privilegiados. E ainda fiquei na dúvida se essa pessoa leu mesmo o livro de James Joyce. Porque muita gente tem vergonha de dizer que não o leu. E também de dizer que tentou ler, mas o pôs de lado depois de algumas páginas.
Adquiri "Ulisses" numa coleção de clássicos da literatura, capa dura. Comprei e o deixei guardadinho na estante. Cadê coragem, cadê disposição para enfrentar o bicho? Bom. Uns 15 a 20 anos depois, decidi um dia lê-lo. Li todo? Que nada. Num esforço sobre-humano cheguei a umas cem páginas. Talvez um pouco mais. E não foi de uma "assentada" não. Esse número de páginas foi lido em várias vezes. E digo e afirmo, como naquela letra de uma música de Cartola, que entendi pouquíssimo do que Joyce escreveu. E, no entanto, esse leitor devorou essas 700 páginas em menos tempo do que o o tempo em que transcorre a ação do livro. Eu vou dar um crédito a ele. Ele pode ter lido integralmente "Ulisses," mas durante muitos dias. E o terá entendido? Ou, pelo menos, parte dele? Tenho as minhas dúvidas e nem são porque lhe falte capacidade intelectual.
Reafirmo, portanto, do alto dos meus 64 anos: não consegui ler "Ulisses," e do que li entendi muito pouco. Quase nada. Sinto uma ponta de inveja dos que realmente o leram e o entenderam. Que não são muitos, tenho plena certeza. Incapacidade minha? Deve ser. E porque não o entendi, não gosto desse livro de Joyce. Em compensação, já li 3 ou 4 vezes, e sempre com renovado prazer, "Dublinenses," livro de contos, de um dos quais, "Os Mortos," (um dos melhores, se não o melhor), o diretor John Huston fez um belo filme ("Os Vivos e os Mortos"), o último de sua carreira. Gosto menos de "Retrato do Artista Quando Jovem."
Só espero não ser arrastado a um muro de fuzilamento pelos exegetas dassa obra de acesso dificílimo, se não impenetrável.
4 comentários:
Oi Francisco, tudo bom?
Me chamo Pedro Fiuza e sou diretor de programação do Cineclube Natal.
Foi com muito prazer que encontrei o seu blog numa procura do Google com os termos "Cineclube", "Natal" e "Luzes da Cidade".
Imaginei que um ex-presidente do Cineclube Tirol e realizdor de um blog chamado Luzes da Cidade não poderia deixar de ser avisado sobre a sessão que faremos amanhã, dia 18 com o grande filme de Carlitos: Luzes da Cidade.
Por favor, senhor Francisco, sinta-se convidado à nossa sessão que será às 17h no Teatro de Cultura Popular (ao lado da Fundação José Augusto) que será muito bem vindo além de termos a certeza que o senhor muito acrescentará ao debate final sobre Carlitos.
Caso queira mais informações sobre o Cineclube Natal, há o nosso blog www.cineclubenatal.blogspot.com
Um grande abraço!
Pedro Fiuza
Eu NÃO li! O meu Pai ofereceu-me uma versão reduzida para crianças, com bonecos e tudo. FELIZMENTE!
Meu amigo, estou rindo. Seu post me deixou assim. Com k então d euma assentada....
Tá! Com geito ainda o reescreve. Estes e/ou estas (mas são menos estas do k estes. Aliás são raras pelo k conheço. Mas como continuo a assumir-me como feminista serei suspeita)) intelectuais são anedóticos.
Olhe. Tmb não acabei. não desgostei, mas é como diz. è para ler e parar reflectindo. Ao início tinha k recomeçar. Depois parei e ainda não chegou o tmeo de a ele voltar. Há obras k só no mmt certo devem ser lidas e este não o é. Todos podemos ler "de uma assentada", não custa nada. Mas a questão é: o k será "LER"?
Grande abração, daqui onde a Primavera iludiu o mundo e o Inverno regressou em menos de meia tarde.
Luz e paz em seu caminho meu amigo Francico
BJ
Perdi um enorme comentário!!!!!!!!!!!!!! rs
Vou refazê-lo...
Li Ulisses, por obrigação, na Faculdade de Letras, como um castigo. Levei uns dois meses. É difícil, mas, fizemos a leitura em grupos de estudos e cada colega colaborou com suas pesquisas acerca das referências, dos lugares, etc...
Mas, desistimos de "Finnegans wake", porque o achamos insuportável, afetado e hermético demais. Nenhum prazer estético nos advém dessa complexidade enfadonha.
E quem lê esse livro de Joyce e diz que o apreciou é tão afetado quanto ele! rs
Beijão!
Dora
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