sábado, novembro 25, 2006

SARABAND


Em 2003, em filme feito para a TV, agora lançado em DVD, Bergman retomou o casal Marianne (Liv Ulmann) e Johan (Erland Josephson) de Cenas de um Casamento, realizado há trinta anos. Mas Saraband não se concentra nos dois, agora separados, embora eles tenham ativa participação no desenrolar da história. Principalmente Marianne, cuja visita ao ex-marido irá por à mostra o relacionamento conflituoso com o filho Henrik (Borj Ahlstedt) e o deste com sua jovem filha Karin (Julia Dufverius). A história de Saraband se aparenta com a de um pequeno romance, constando de um prólogo, 10 capítulos e um epílogo. O genial cineasta sueco lida com os seus temas habituais (a morte, os conflitos amorosos e familiares, a velhice, entre outros) e o faz com uma força e um brilho que, talvez, não se esperasse mais de um homem já perto dos noventa anos. Confina-os em ambientes internos, pois o filme é todo passado nas casas de Johan e de Henrik. Há um "capítulo" numa igreja, onde Marianne entra para orar e ouve alguém tocando Bach no órgão da igreja (o título, por sinal, tem o nome do compositor.) O executor é Henrik, que, ao acabar, tem um diálogo, a princípio sereno e normall com Marianne, mas que depois se torna ácido. É , aliás um dos melhores momentos de Saraband.
Talvez o personagem mais "presente" seja Anne, a falecida esposa de Henrik. Ela é muito mencionada, seja por Júlia, seja por Henrik, que não consegue se conformar com a sua morte e procura transferir para a filha o amor pela esposa. Ele pretende substituir o amor de uma pela outra. Dormem juntos, embora não transpareça o menor indício de um incesto. (No entanto, quando ele descobre que a filha irá partir com uma amiga, para seguirem a carreira musical, o beijo que ele lhe dá, como despedida, não é o de um pai. E tenta o suicidio, após a separação da filha) Até o velho Iohann fala dela com carinho a Marianne e conserva uma foto dela no seu escritório. levando-nos a aventar a hipótese de ter sentido uma atração amorosa por ela.
Como sempre nos filmes de Bergman, ele extrai toda a potencialidade de que os atores são capazes. De Liv Ulmann e Erland Josephson, não é de surpreender as suas interpretações , já mostradas em tantos outros filmes do cineasta. A expressão da atriz. no último "capítulo", quando, no quarto em pé, de frente para Iohann, os dois despidos, é dessas que deixam uma marca inesquecível. Mas os outros dois, estão muito bem, mais ainda Borj Ahlstedt, que mostra o seu potencial interpretativo no encontro com o pai.
É um Bergman ainda em forma. O que nos deixa animados a ver o filme que ele anunciou que irá fazer (ou já está fazendo), quebrando a promessa, feita após Fanny e Alexander , de que se despedira de vez da tela grande.
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PHILIPPE NOIRET
Tem morrido muita gente do cinema nesses últimos meses. Só nesta semana se foram o diretor Robert Altman ("Nashville", "Cerimônia de Casamento") e o ator Philippe Noiret. Nascido em 1930, Noiret fez grandes filmes e trabalhou com grandes diretores (até com Hitchcock, embora num dos filmes mais fracos do mestre, "Topázio") , mas ficará para sempre lembrado pelo papel do projecionista Alfredo no encantador "Cinema Paradiso", de Giupesse Tornatore/1988. Fez um outro filme bem popular, "O Carteiro e o Poeta", de Michael Radford/1994, no qual interpretava o poeta chileno Pablo Neruda. Trabalhou ainda em "A Comilança", de Marco Ferreri. Fez naus de 125 filmes, o último dos quais no ano passado, ainda não exibido por aqui. Trabalhou também no teatro. Que a terra lhe seja leve.

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