sábado, novembro 18, 2006

OUTRA CRÔNICA SOBRE MARLENE


Domingo passado comentei aqui uma crônica de Vinicius de Moraes sobre Marlene Dietrich. Falando da postagem, Moacy Cirne me sugeriu que publicasse uma crônica do potiguar Berilo Wanderley (1934-1979) , também crítico de cinema, sobre a atriz de O Anjo Azul, o que faço agora. Num texto delicioso (que integra o livro Cine Lembrança, Sebo Vermelho, 2004) , que deixa a sensação de ser inspirado em um sonho, BW mostra o poder de sedução da vampe Marlene. E também a paixão que ela lhe despertava e em milhões de cinéfilos espalhados pelo mundo. (Aliás, como uma homenagem a ela, vou ver daqui a pouco. aí pela décima vez, O Expresso de Shangai (Josef Von Sternberg/1932) . Ei-lo.
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QUE, MARLENE...
E NÃO É QUE MARLENE...
E não é que MARLENE DIETRICH acaba de entrar, sem bater, e cheia de provocação, ainda segurando o trinco da porta, me grita: "Quero um uísque"! Mas, a esta hora, MARLENE, é quase meia-noite, que dirão os vizinhos? E, além do mais, você assim... nesse vestido aberto... essas pernas de fora... me deixa em paz, MARLENE...
A mulher está impassível, mão no trinco da porta, um olhar de onça no cio, cigarro no canto da boca. Só falta cantar "LOLA LOLA". Que fazer? Largo o livro e saio, como um louco, em busca de um uísque. Grito pelos corredores da casa: "Um uísque para MARLENE DIETRICH"! Pareço Ricardo I querendo trocar seu reino por um cavalo.
Afinal, volto, copo de uísque na mão. Puro em um copo pequeno, sem gelo, como ela gosta. Quando chego, a terrível mulher já não está com a mão no trinco da porta. Está deitada no sofá, olhando para o teto, jeito muito debochado, uma perna na parede, outra atirada para o chão, cigarro ainda no canto da boca. Passo-lhe o uísque. Não vou dizer que ela segurou o copo, porque é pouco. Ela agarrou o copo. Com garras, com unhas, que unhas terríveis as de MARLENE DIETRICH, com dentes. E tomou a dose de uma só vez. Cinco minutos depois, pulava do sofá e cantava exatamente "Lola Lola". No meio da sala, lânguida. Cigarro entre os dedos, corpo em chama, pernões para o ar.
MARLENE, MARLENE..
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REVISITANDO BILAC
Vem ver querida as estrelas
Mas os teus ouvidos afina
Pois elas estão falando de nós.
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A QUEM POSSA INTERESSAR
A L & PM acaba de lançar uma nova edição de Os Cães Ladram, de Truman Capote, em cujas páginas aparece a entrevista do escritor com Marlon Brando, em 1956, a qual foi tema de uma postagem neste blogue semanas atrás.

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