Domingo passado comentei aqui uma crônica de Vinicius de Moraes sobre Marlene Dietrich. Falando da postagem, Moacy Cirne me sugeriu que publicasse uma crônica do potiguar Berilo Wanderley (1934-1979) , também crítico de cinema, sobre a atriz de O Anjo Azul, o que faço agora. Num texto delicioso (que integra o livro Cine Lembrança, Sebo Vermelho, 2004) , que deixa a sensação de ser inspirado em um sonho, BW mostra o poder de sedução da vampe Marlene. E também a paixão que ela lhe despertava e em milhões de cinéfilos espalhados pelo mundo. (Aliás, como uma homenagem a ela, vou ver daqui a pouco. aí pela décima vez, O Expresso de Shangai (Josef Von Sternberg/1932) . Ei-lo.
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QUE, MARLENE...
E NÃO É QUE MARLENE...
E não é que MARLENE DIETRICH acaba de entrar, sem bater, e cheia de provocação, ainda segurando o trinco da porta, me grita: "Quero um uísque"! Mas, a esta hora, MARLENE, é quase meia-noite, que dirão os vizinhos? E, além do mais, você assim... nesse vestido aberto... essas pernas de fora... me deixa em paz, MARLENE...
A mulher está impassível, mão no trinco da porta, um olhar de onça no cio, cigarro no canto da boca. Só falta cantar "LOLA LOLA". Que fazer? Largo o livro e saio, como um louco, em busca de um uísque. Grito pelos corredores da casa: "Um uísque para MARLENE DIETRICH"! Pareço Ricardo I querendo trocar seu reino por um cavalo.
Afinal, volto, copo de uísque na mão. Puro em um copo pequeno, sem gelo, como ela gosta. Quando chego, a terrível mulher já não está com a mão no trinco da porta. Está deitada no sofá, olhando para o teto, jeito muito debochado, uma perna na parede, outra atirada para o chão, cigarro ainda no canto da boca. Passo-lhe o uísque. Não vou dizer que ela segurou o copo, porque é pouco. Ela agarrou o copo. Com garras, com unhas, que unhas terríveis as de MARLENE DIETRICH, com dentes. E tomou a dose de uma só vez. Cinco minutos depois, pulava do sofá e cantava exatamente "Lola Lola". No meio da sala, lânguida. Cigarro entre os dedos, corpo em chama, pernões para o ar.
MARLENE, MARLENE..
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REVISITANDO BILAC
Vem ver querida as estrelas
Mas os teus ouvidos afina
Pois elas estão falando de nós.
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A QUEM POSSA INTERESSAR
A L & PM acaba de lançar uma nova edição de Os Cães Ladram, de Truman Capote, em cujas páginas aparece a entrevista do escritor com Marlon Brando, em 1956, a qual foi tema de uma postagem neste blogue semanas atrás.
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