domingo, novembro 12, 2006

2 POETAS E SUAS IDOLATRADAS ATRIZES


Marlene Dietrich veio ao Brasil na década de 1950. Duas crônicas foram escritas sobre ela, antes de sua chegada, uma contra, outra a favor. A primeira, de Carlos Drummond de Andrade, publicada no Correio da Manhã. Com o título de "Provocação"?, o poeta de José subestimava a visita de Marlene ao nosso país, considerando-a como uma provocação aos fãs de Greta Garbo, entre os quais ele se incluía. Pra que, meu Deus do Céu, ele foi fazer isso? Vinicius de Moraes, marlenófilo ardoroso, escreveu uma crõnicia dirigida a Drummond com o extenso título de "PROVOCAÇãO? NÃO, POETA CARLOS. É que outro valor maior se alevanta". Demonstrando revolta e indignação, mas respeitando Drummond, chegando a chamá-lo de "querido" e reconhecendo a sua grande estatura de poeta, Vinicius faz uma defesa apaixonada da grande Marlene. Trata-a por a Ùnica, a Maravilhosa, Anjo Azul , Divina Alemâ, enquanto chama Greta de "Fugidia Sueca". E tendo conhecido Marlene e Greta, Vinicius faz uma comparação entre as duas. Começa dizendo que Greta é uma ulher fascinante, mas na tela. E relata o contato que teve com ela na casa de uma socialite francesa. A uma certa altura, ele diz a Greta que admirou a sua atuação em vários filmes, os quais cita. Em vez de retribuir o elogio, a sueca o fita com um "olhar de salmão defumado", em seguida vira-se para o garçom que lhe trazia numa bandeja uma "estranha beberagem, sobre a qual flutuava uma pétala de rosa". sacudiu a cabeça e exiigiu um drinque de vodca. O fato causou um mal-estar geral, pois a bebida oferecida era uma especialidade da anfitriã, que teve de se virar para satisfazer a exigência da convidada.
Já de sua adorada Marlene, Vinicius narra um episódio ocorrido num bar de Paris, onde ele e um amigo "enxugavam" um uisquinho, na ocasião os únicos presentes no bar. De repente, não mais que de repente (como naquele seu poema), eis que entra Marlene, acompanhada da gerente do estabelecimento. A atriz senta-se e (Vinicius não o diz, mas, suponho, que a pedido da amiga) começa a cantar uma série de canções. Percebe-se claramente que ele não consegue conter o júbilo e o orgulho de ser um dos cinco espectadores (além do amigo, da gerente do bar, do garçom e do barman) a ouvir Marlene cantar ali pertinho dele, naquele ambiente fechado num certo dia em Paris. E provoca Drummond, mandando-o perguntar a Garbo se ela faria isso. "Mande, poeta Carlos". Um pouco adiante ele confessa que ficou de "joelho bambo" ao ver a alemã pela primeira vez em Hollywood. E pede o aval de Heminguay, "que não é qualquer toco de vela", para quem Marlene foi a mais extraordinária mulher que conheceu.
No parágrafo final da crônica, Vinicius adverte Drummond que não venha de Mallarmé, que ele pegará o seu Rimbaud. É que na crõnica do mineiro, ele, para exaltar Greta, cita este verso de Mallarmé' "si chère de loin et proche et blanche". E Vinicius responde, citando dois versos de Rimbaud: "O Femme, morceau d'entrailles, pitié douce" e "c'est toi que pends à nous, porteuse de mamelles nous te berçons, charmante e grave Passion".
Ñão sei. Posso estar enganado. Mas depois de ler o texto de Vinicius (que está no livro Para Viver Um Grande Amor, Companhia das Letras/1991) fiquei com a suspeita de que essa "briga" entre os dois poetas envolvendo suas adoradas atrizes foi combinada. Pode ser que a minha suspeita seja infundada, mas que me deu a impressão de algo combinado, isso deu. Infelizmente, não conheço a crônica de Drummond. Nem sei se ele respondeu a Vinicius. Poetas...

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