A chuva o apanhou em frente ao cemitério. Por um instante a aversão o dominou e lhe fincou os pés no chão. Havia casas por perto, mas a timidez inibia-lhe a vontade de abrigar-se numa delas. Hesitou. A chuva aumentava, já começava a inflar-lhe a roupa ensopada. Sem outra saída, violentou o gênio e atirou-se para o cemitério. Abriu o portão à toda, o transpôs, avistou várias filas de pessoas diante de guichês. Descobriu uma poltrona vazia, caio nela, esperando a chuva passar. Sem um jornal para se entreter, pôs-se a observar o trabalho dos caixas. Eram muitos, os respectivos prenomes inscritos numa tabuleta sobre a vidraça que os separava dos clientes. Lia os nomes até onde os olhos alcançavam. O seu nome estava numa das tabuletas - achou graça na coincidência.
Em uma certa parte de sua vida esteve por trás da vidraça. Não se adaptava ao cargo, mas necessitava de dinheiro. Houve uma vez em que pagou em excesso a um cliente e se enrascou. Os colegas se uniram e lhe emprestaram a quantia que deveria ser reposta em 24 horas. Daí para a frente a tensão não mais o largou. Permaneceu no emprego até o dia em que saldou a dívida. Ouviu uma voz: o senhor me espere para descer comigo. Levantou a vista, viu as costas de uma mulher que caminhava muito apressada. Vestia-se de preto e era excessivamente magra. Correu para alcançá-la, mas num instante perdeu-a de vista. Foi até a porta de entrada, não a encontrou. Continuava a chover, voltou para a poltrona.
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