sábado, julho 16, 2005

JOSEPH LOSEY (1909-1984)



O artigo que se segue saiu num jornal local em 15.7.84. poucos dias depois do falecimento do cineasta Joseph Losey. É aqui republicado por me parecer que um diretor da importância de Losey anda um tanto esquecido. Na década de 1960 ele foi muito cultuado pela crítica , e isso num período em que os cinemas da Itália e da França exerciam um grande predomínio artístico, e poucos diretores, como Losey, gozavam do prestígio merecido dos grandes nomes daquelas dois países. É, pois, como uma homenagem a ele, nesses 21 anos transcorridos de sua morte que resolvi lançar o texto neste espaço.
Na carreira de Joseph Losey, falecido em Londres na semana passada, é possível localizar a existência de três fases: a fase americana, a fase inglesa e a fase francesa. A primeira inicia-se com o curta-metragem A Gun in His Hand (1945), ocorrendo, três anos depois, a estréia no longa-metragem com O Menino dos Cabelos Verdes, obra de vigoroso apelo antibelicista e anti-racial, hoje colocada entre os pontos mais altos da biografia do cineasta. Quatro fiilmes depois, entre os quais uma versão do clássico de Fritz Lang, M, O Vampiro de Dusseldorf, a carreira de Losey é bruscamente interrompida pela ação do macarthismo, que inclui o seu nome na famigerada lista negra de Hollywood. Impedido de trabalhar, ele se muda para a Inglaterra. Abre-se, assim, um novo período na vida e na carreira do diretor, marcado, nos primeiros anos, por grandes dificuldades. Mesmo distante da América, ele é obrigado a usar pseudônimo nos filmes que dirige, ou, pior, sofre o constrangimento de vê-los assinados por um testa de ferro. Segundo o crítico Rubens Ewald Filho, , foi decisivo para a carreira de Losey, alguns anos depois, o fato de o ator Dirk Bogarde, de grande popularidade na época, ter aceitado trabalhar em seus filmes. Além disso, o macarthismo estava morto e sepultado, juntamente com o senador que lhe deu o nome.
A década de sessenta presenciou o prestígio de Losey alçar às alturas, graças a títulos como Eva, O Criado, Estranho Acidente, Deus e Pátria. O ápice foi alcançado com a conquista da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1971, com O Mensageiro, um dos filmes mais visualmente belos do cinema. A este sucede O Assassinato de Trotsky, realizado na Itália, e a seguir, aparecem os fiilmes que constituem a fase francesa de Losey, onde se destaca Monsieur Klein, densa e pouco acessível obra sobre a intolerância anti-semita numa França ocupada.
Analisando a carreira de Losey, um crítico notou que os seus personagens masculinos são uns vencidos pelas suas próprias vidas e pelas instituições, contra as quais não podem simplesmente lutar. Essa condição lhes confere sempre uma auréola de mártires, nunca de heróis. Mas essa obsevação, se é válida para os homens que povoam o universo loseyano (e logo me ocorre o escritor de Eva) , não o é para o cineasta. Pois coragem e disposição para lutar foi o que não faltou a esse americano de Winsconsin, que chegou a conviver com Eisenstein e Brecht. Vítima, como os dois, do obscurantismo político, Losey sofreu humilhações, enfrentou dificuldades de sobrevivência, foi expulso de sua pátria, mas jamais abriu mão de seus princípios. E porque aliou à coragem um grande talento, superou as adversidades e inscreveu o seu nome na galeria dos artistas notáveis do século.

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