
quarta-feira, março 12, 2008
AS MANGAS

quarta-feira, março 05, 2008
UM DEBATE SOBRE BOCCACCIO 70

Em 1966 Gilberto Stabili e eu, membros do Cineclube Tirol, de Natal (ele presidira a entidade no ano anterior) , escrevíamos uma coluna no jornal Correio do Povo. Eu escrevia num dia, ele no outro. Uma feita, Gilberto me propôs fazermos um debate sobre "Boccaccio 70", filme constituído de 3 episódios, dirigidos por Fellini ("As Tentações do Dr. Antônio), Visconti ("O Trabalho") e De Sica ("A Rifa"). Aceitei o desafio e uma noite fui à casa da irmã de Gilberto, onde ele residia. Ficamos no quarto dele. Ele passava para um papel tanto as suas opiniões sobre os 3 episódios, quanto as minhas. Depois datilografou. Foi um debate curto, devido às limitações do espaço de que díspunhamos no jornal. Achei que podia ser de interesse divulgar esse "confronto" entre dois jovens na casa dos vinte anos (ele mais velho um pouco do que eu, mas com uma vivência de cinema de já um veterano, comparada com a minha). Eis o que escrevemos naquela noite já distante, que saiu no jornal uns dois a três dias depois.
quarta-feira, fevereiro 27, 2008
O BEIJO DE UM JOVEM EM MACHADO DE ASSIS
quarta-feira, fevereiro 20, 2008
A PANTERA

quarta-feira, fevereiro 13, 2008
MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS (Coeurs/2006)

quarta-feira, fevereiro 06, 2008
CURIOSIDADES

quarta-feira, janeiro 30, 2008
2 POEMAS DE CARNAVAL DE CARLOS PENA FILHO (PE)

tela de Di Cavalcanti (1922)
A mesma rosa amarela (*)
Você tem quase tudo dela,
o mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela,
só não tem o meu amor.
Mas nestes dias de carnaval
para mim, você vai ser ela.
O mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela.
Mas não sei o que será
quando chegar a lembrança dela
e de você apenas restar
a mesma rosa amarela,
a mesma rosa amarela.
Soneto principalmente do carnaval
Do fogo à cinza fui por três escadas
e chegando aos limites dos desertos,
entre furnas e leões marquei incertos
encontros com mulheres mascaradas.
De pirata da Espanha disfarçado
adormeci panteras e medusas.
Mas, quando me lembrei das andaluzas,
pulei do azul, sentei-me no encarnado.
Respirei as ciganas inconstantes
e as profundas ausências do passado,
porém, retido fui pelos infantes
que me trouxeram vidros do estrangeiro
e me deixaram só, dependurado
nos cabelos azuis de fevereiro.
(*) - Segundo revela o crítico e pesquisador Ricardo Cravo Albim, "A mesma rosa amarela" foi escrito por Carlos Pena Filho (morto em acidente de carro em 1960, com apenas 31 anos de idade) para o carnaval daquele ano. Apresentado a Capiba para musicá-lo, o compositor de"Maria Betânia" gostou tanto do poema que achou que ele não deveria ser cantado apenas nos quatro dias de carnaval e fez um samba-canção. "A mesma rosa amarela" foi gravado pelo cantor Claudionor Germano (também pernambucano, como os autores, e intérprete preferido de Capiba), mas não obteve sucesso. O sucesso veio quando Maysa a gravou, uns 2 anos depois. Com o passar dos anos, vários outros cantores regravaram a música, inclusive Nelson Gonçalves.
NOTA - Os 2 poemas fazem parte do livro "POEMAS - Carlos Pena Filho" (Global Editora, 1983).
quarta-feira, janeiro 23, 2008
MACHADO DE ASSIS & WILLIAM WORDSWORTH

Quem leu "Memórias Póstumas de Brás Cubas" deve se lembrar de um capítulo intitulado "O menino é o pai do homem". Ali pela quinta ou sexta linha do primeiro parágrafo, Machado escreveu: "Um poeta dizia que o menino é o pai do homem". Quem era o poeta, o escritor não diz. É estranha a omissão do nome do autor da frase, principalmente por não ser um costume de Machado, que não deixava de informar a fonte de um uma frase, ou uma palavra. Às vezes, se não creditava o autor, o fazia com a obra, certamente por ser esta muito conhecida, como alguma peça famosa de Shakespeare, "A Divina Comédia", "Dom Quixote", etc. Mas nesse caso, o personagem-narrador menciona apenas e vagamente "um poeta". Nem a nacionalidade do poeta é dita. Qual o motivo? Machado não se lembrava do nome do poeta e entendeu que não era importante procurar o livro, que, provavelmente, ele possuía? Ou preguiça de procurá-lo? É possível.
quarta-feira, janeiro 16, 2008
OS MELHORES ANOS DAS NOSSAS VIDAS (The Best Years of Our Lives/1946)

quarta-feira, janeiro 09, 2008
TRÊS VELAS

Foto extraída de www.studyoanasouza.com/
Pois é. Na próxima sexta, dia 11, o "Luzes da Cidade" estará com três velas. São três anos que edito este blogue, falando de cinema , de literatura, um ou outro assunto fora desses dois, e , vez por outra, contando minhas lembranças da infância. Três anos. E eu que, quando ingressei na blogosfera, duvidava de que este espaço chegasse a um ano de existência. É verdade que, durante esse período, pensei por várias vezes em parar. E continuo a pensar, vez por outra. De uns tempos pra cá já não tenho o mesmo entusiasmo dos primeiros meses. Até há uns dois meses tinha estabelecido uma data redonda para apagar estas luzes: justamente no aniversário dos seus três aninhos. Acabei mudando de idéia. E vou tocar o "Luzes" enquanto der. No dia em que achar que "já estou por aqui", paro. Paro e sem volta. Nem que me arrependa da decisão. Mas, por enquanto, vou editando o bichinho. Há outros motivos, além da falta de entusiasmo, mas prefiro não citá-lo.
Irei sentir saudades, porque gostei da experiência. Além de divulgar os meus livros, o que redundou no interesse de vários visitantes por adquiri-los (e para todos esses enviei, com o maior prazer, um livro da preferência deles), tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas da melhor espécie humana. E talentosas, inteligentes, sensíveis. Com muitas delas aprendi muitas coisas. E lhes ganhei a amizade. É até possível que tenha sido elas o principal responsável por eu continuar aqui, três anos depois de estrear na blogosfera. Podem não ser muitas, mas o que me importa é o valor humano e intelectual que elas possuem. Agradeço do fundo do coração a essas pessoas pelas visitas gratificantes que têm feito ao "Luzes", umas com mais assiduidade, outras com menos assiduidade. Mas eu procuro entender as razões de algumas não virem aqui com muita frequência. E agradeço até aqueles que aqui vieram por um certo tempo e depois desapareram. Agradeço até a quem veio uma única vez.
Não poderia deixar, no entanto, de registrar uma queixa no final desse texto. Uma coisa me aborrece demais. É a atitude de certos(as) blogueiros(as) de, não sei por que razão, não retribuirem a visita que lhes faço pela primeira vez. Acho isso uma falta de educação. Mesmo que a pessoa não goste do meu blogue, deveria, pelo menos, me agradecer por ter aparecido por lá. Eu nunca deixei de retribuir uma visita que alguém me fez pela primeira vez. Já me deparei com alguns blogues desinteressantes, ao lhes retribuir a visita, mas não deixei de agradecer a vinda do editor ao meu. Felizmente, foram poucas pessoas. Mas ainda hoje me deixam até mesmo magoado.
Por fim, um grande abraço a todos , aos quais renovo os votos de um 2008 ainda melhor do que lhes possa ter sido 2007.
quarta-feira, janeiro 02, 2008
UMA VELHA FOTO

Futebol , quadro de Portinari.
No dia de Natal recebi um telefonema do Quinca. É aquele amigo de infância que em uma noite de 2005 me telefonou, depois de mais de quarenta anos sem termos contato, e não quis se identificar, esperando que eu lhe descobrisse a identidade com o lançamento de pistas, o que acabou acontecendo. (Relatei o fato neste espaço.) Desta vez ele me ligou mais para me desejar um feliz ano novo, mas, em meio à breve conversa, Quinca revelou que possuía uma foto em que ele está comigo e mais três meninos. Também tenho essa foto, disse a ele. E, rapidamente, falamos sobre os outros fotografados. A foto foi tirada antes de um jogo de futebol. Não foi uma pelada, mas uma partida "oficial", pois estamos de camisa. Se não estou enganado, foi um jogo no campo do convento dos frades franciscanos, contra os alunos internos. Curioso o fato de estarem ali apenas os atacantes. Eu estou agachado, as mãos pousadas na bola, ladeado pelo Nei e Tonico. De pé, o Quinca e o Boroca, este com uma mão apoiada no meu ombro. Ao fundo aparece uma árvore frondosa. Nei, dos quatro, o menino com quem tive menos contato, era filho de uma professora, dona Nilda, uma mulher alta e muito simpática e comunicativa. Tonico, filho de Raimundo Marreiro, proprietário de uma casa comercial no mercado de Canindé. Embora me desse com ele, era mais amigo de um dos seus irmãos, o Marreirinho. Tonico tinha mais dois irmãos e uma irmã. A mãe, dona Laura, sofria de uma doença mental e vivia enclausurada em casa. Boroca era um pretinho, de uma família de uma situação financeira razoavelmente boa, pois o pai (Zé de Lima) era dono de uma agência de passagens de ônibus. Zé de Lima tinha as unhas das mãos muito crescidas, quase do tamanho das do cineasta José Mojica Marins. Era um tanto pernóstico e, por causa disso, fazia parte do anedotário da cidade. Boroca era o melhor de nós cinco e, talvez, o melhor de todos os seus companheiros de peladas. Me lembro do seu domínio de bola, dos seus belos dribles, dos seus lançamentos. Tinha futuro como jogador. Mas deve ter optado por outra profissão, pois não ingressou num time da capital, como era de se esperar. Não sei que fim levou. Vou procurar saber notícias dele, quando me encontrar com o Quinca, provavelmente ainda este semestre em Fortaleza.
Esse foi um dos raros jogos "oficiais" que fizemos. Jogávamos mesmo era pelada, que, naquela época, não tinha esse nome. Todo "santo dia" eu jogava. E quase sempre saía com os pés feridos. E à noite, antes de dormir, a mamãe passava Asseptol nos pés, sempre reclamando do meu "vício" e ameaçando contar sobre ele ao papai. Mas acho que o papai sabia que eu jogava, mas fingia que não sabia. Por conta do futebol, levei umas duas surras da mamãe, uma delas de ficar na memória.
De tanto jogar, tive um dia um problema muito grave em um dos joelhos. Não sei em qual dos dois. É capaz de ter sido no esquerdo, onde sofro de uma artrose que me aporrinha há mais de 20 anos. Mas como dizia, foi um problema grave. O joelho doía e eu andava mancando. É possível que a mamãe tenha me levado ao doutor Aramis, o médico da cidade, que, como os médicos daquela época, tinham que entender de todo tipo de enfermidade. Ele chegou a se eleger prefeito. Sei que tomei remédio em cima de remédio e nada. Já estava preocupado e a mamãe também. A preocupação dela era ainda maior porque combinada com o medo de o papai descobrir a causa da doença. Ele deve ter me perguntado alguma vez por que eu andava mancando e eu, certamente instruído pela mamãe, inventei uma história. Até que um dia apareceu lá em casa uma mulher pobre, que morava um pouco longe da cidade. Parece que a mamãe era madrinha de um filho dela. Pois essa mulher humilde foi que acabou curando o meu mal. Ouvindo mamãe relatar, já aflita, o meu caso, recomendou o uso de um tipo de planta, cujo nome não me lembro. Fazia-se uma infusão dessa planta, que essa senhora trazia. E toda noite a mamãe aplicava a infusão no meu joelho. Não me lembro quantas vezes usei o "remédio". Só sei que, em poucos dias, ele começou a surtir efeito. Até desaparecerem a dor e a dificuldade de caminhar. E já não era sem tempo, tanta a falta que sentia do meu jogo diário. E apesar da advertência da minha mãe, que não queria que eu voltasse a jogar, logo que me vi curado, voltei aos campinhos de areia. E haja Asseptol!
quarta-feira, dezembro 26, 2007
MELHORES FILMES VISTOS E REVISTOS EM 2007

Eis os filmes que mais me agradaram no ano que está se findando, obedecendo àqueles critérios de todo aquele que faz uma lista, principalmente o do gosto pessoal. Os filmes estão relacionados em ordem alfabética, tal como em 2006. Mas este ano, seguindo o exemplo de Moacy Cirne, resolvi, em meio a essa ordem, dar para os filmes as cotações de Excelente (***), Ótimo (**) e Especialmente Bom (*). É que alguns filmes por uma, ou algumas razões , levam uma superioridade sobre outros. Ei-los.
- O Alucinado (Buñuel/1953) **
- Ama-me Esta Noite (Mamoulian/1932) ***
- Bom Dia, Noite (Bellocchi/2003) **
- Brutalidade (Dassin/1947) *
- Cinema, Aspirinas e Urubus (Marcelo Gomes/2005) *
- A Dália Negra (De Palma/2006) ***
- Desde Que Otar Partiu (Julie Bertucelli/2003) **
- Estrela Solitária (Wenders/2006) *
- Flores do Amanhã (Zhang Yang/2005) ***
- Noites de Lua Cheia (Rohmer/1984) **
FILMES REVISTOS
- Chaga de Fogo (Wyler/1951) **
- Fahrenheit 451 (Truffaut/1966) **
- A Mulher do Tenente Francês (Karel Reisz/1981) *
- Nunca te Vi, Sempre te Amei (David Jones/1987) *
- Paixão dos Fortes (Ford/1946) ***
- Persona (Bergman/1966) ***
- Os Profissionais (Richard Brooks/1966) **
- A Regra do Jogo (Renoir/1939) ***
NOTA - Ontem, dia de Natal, fez 30 anos que morreu o gênio Charles Chaplin.
terça-feira, dezembro 18, 2007
TRAÍDOS PELO DESEJO (The Crying Game/1992)
terça-feira, dezembro 11, 2007
PRAÇA DA BASÍLICA

Foto da Basílica de Canindé vista da praça, retirada de
http://www.paroquiadecaninde.com.br/
Eu me reunia todas as noites com os meus amigos na praça da Basílica, exceto quando ia à sessão do Cine Canindé, ou ficara em casa de "castigo" por alguma travessura que cometera. Sentados num banco, ou em mais de um, conforme o número de meninos, comentávamos, basicamente, sobre cinema e futebol. Falávamos dos nossos heróis da tela, o Durango Kid, Johnny Mac Brown (os irreverentes o chamavam de Johnny bate bronha), Roy Rogers e outros mais. Ríamos das palhaçadas dos "doidinhos", como eram conhecidos os atores cômicos daqueles faroestes. Cada mocinho tinha o seu "doidinho" e o mais popular era Smiley Burnette, que trabalhava com o Durango Kid. Era um pouco estrábico e usava o chapéu de uma maneira engraçada. Comentávamos os seriados e tentávamos descobrir como o mocinho iria se livrar do perigo no último episódio assistido. Ansiosos, roendo as unhas, aguardávamos a semana seguinte para saber como ele se safaria. No futebol torcíamos pelos quatro grandes do Rio, então capital do país. Os de maior torcida eram Flamengo e Vasco. Raros os que torciam pelo Botafogo e pelo Fluminense. Houve o caso do Francisco José, filho de Seu Edmundo, dentista da cidade. Conheci-o torcendo pelo Botafogo, mas de uma hora pra outra ele virou a casaca para o Vasco. As más linguas diziam que ele fora aliciado por um rapaz fanático pelo Vasco, em troca de uma bola. Não sei. Só sei que por um certo tempo ele se tornou uma persona non grata entre os torcedores do Bota e, principalmente, do Fla. Se quase nunca discutíamos quando o assunto era cinema, no futebol alguns chegavam quase às chamadas vias de fato em defesa do seu time. Muitas vezes deixávamos o banco e íamos apostar corrida ao redor da praça. Nem todos iam. Mas alguns, como eu, não dispensavam a corrida. E chegava em casa suado, cansado, mas satisfeito, porque quase sempre saía vencedor nas disputas.
Mas o tempo ia passando, fomos crescendo e começávamos a prestar atenção nas moças que circulavam pela praça, ou que ficavam num banco acompanhadas dos namorados. Uma noite estava com alguns amigos e perto do nosso banco um casal namorava. O rapaz era Luís Paiva, que morava numa fazenda perto da cidade, mas não me recordo da moça. Ficamos observando atentamente os dois. Os namoros daqueles tempos. Se bem me lembro, Luís estava com uma mão pousada no ombro da moça e a outra entrelaçada com uma mão dela. E um de nós disse algo assim: "quando eu começar a namorar, vou fazer igual ao Luís". Já nessa época tínhamos a companhia de adultos no banco, ou quando ficávamos em pé, numa das laterais da praça, vendo as moças darem voltas. E algum dos adultos soltava um galanteio para uma das moças ou comentava as formas anatômicas de algumas. Uma vez, estava num banco, veio à tona entre dois rapazes uma discussão sobre quem teria mais valor, o homem rico, ou o homem culto. Ah, foi uma discussão longa e nem um dos dois, como ocorre quando duas pessoas defendem uma questão, foi convencido pelo outro. Não satisfeitos com os próprios argumentos, recorriam a pessoas que passavam. Um deles foi um dos meus irmãos, que volteava com amigos. E o meu irmão ficou mais ou menos em cima do muro.
E havia as músicas do serviço de alto-falante. Eram sempre as mesmas, uma vez na vida , outra na morte, aparecia uma música nova. (Mas quando ouço qualquer daquelas músicas, tocadas toda noite, me vem a lembrança daqueles tempos, acompanhada de uma grande saudade.) E havia as mensagens musicais. "Alguém oferece a alguém"...
Não sei se já falei nisso, se falei, vou repetir. Meu pai estabelecia a hora de os filhos voltarem pra casa. Não podíamos passar das nove e meia. Já estudava em Fortaleza, usava o meu reloginho, quando uma noite participava de um animado papo na praça. Em dado momento, olhei o rosquofe: estava perto da hora fatal. Disse que ia embora, então o Pezim me perguntou por quê. Nunca soube o nome dele. Era chamado de Pezim, porque tinha um pé menor do que o outro e ainda com um defeito que o fazia andar mancando. Era mais velho do que eu, bem mais velho. E disse o motivo. Com a autoridade de uma pessoa mais velha, falou um pouco duro pra mim, que eu já era um rapaz, não podia mais me submeter a uma imposição daquela. Fiquei calado e ao mesmo tempo hesitante entre cumprir a exigência do meu pai ou desrespeitá-la. A conversa estava tão boa. E a hora se aproximava. Foi quando falou mais alto a autoridade paterna. Eu sabia que se passasse da hora, iria ser punido com a proibição de ficar uns dias sem ir para a praça da Basílica. E eu não podia passar sem a praça. Faltava pouco para as nove e meia, mas a minha casa não era longe. Deixei apressado os amigos, que devem ter me achado um babaca. Talvez, no entanto, os pais deles não fossem severos como o meu. Ao me aproximar de casa, avistei o "velho" encostado ao portãozinho, a mamãe na cadeira sobre a calçada, como fazia todas as noites. Ao me avistar, papai puxou o relógio do bolso do pijama. Olhei também o meu e vi que passava um pouquinho das nove e meia. Tive a certeza de que iria reclamar do atraso mínimo. Mas ele não disse nada, eu entrei, fui trocar de roupa e fiquei no meu quarto.
Praça da Basílica de Canindé. Uma "madeleine" da minha infância.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
DESDE QUE OTAR PARTIU... (Depuis Qu' Otar Est Parti.../2003)

A francesa Julie Bertucelli demonstra talento na sua estréia no cinema (já tinha dirigido um filme para a tevê) neste "Desde Que Otar Partiu"..., uma produção franco-belga. Antes ela fora assistente de alguns diretores, como Bertrand Tavernier ("Um Sonho de Domingo") e Kielowski ("A Dupla Vida de Veronique", entre outros grandes filmes). E o seu pai Jean-Louis Bertucelli também é diretor. É com firmeza, mas sobretudo com sensibilidade e delicadeza, os silêncios, os gestos, as expressões faciais substituindo as palavras em certos momentos, que Julie Bertucelli narra essa história de três mulheres de gerações diferentes, a avó, a filha viúva e a neta, que moram juntas num apartamento em Tbilisi, capital da Geórgia, um dos países que integravam a União Soviética.
O Otar do título é filho da velha Eka (Esther Gorintin), que vive em Paris, para onde fora com o objetivo de seguir a carreira de médico, porém lá só consegue se manter no ofício de pedreiro. Embora sem aparecer, e isso já ocorreu em outros filmes, ele é um personagem importante. A sua presença se faz sentir nas cartas que manda para a mãe (às quais junta um dinheirinho) e por um eventual telefonema. E pela rivalidade que desperta na irmã Marina (Nino Khomasuridze) na disputa (que só está na cabeça dela) pelo amor da mãe, que claramente o prefere à filha.
O roteiro, co-escrito pela diretora, privilegia a participação da jovem Ada (Dinara Drukarova). Ela intervém nas constantes discussões entre a avó e a mãe, que, às vezes, são originadas por diferenças políticas, pois a velha Eka conserva a sua admiração por Stalin. Sem este, na visão dela, o seu país não estaria passando por problemas, inclusive de administração. Lê para a avó as cartas enviadas pelo filho e livros de autores franceses e faz-lhe massagens nos pés. É Ada que está em casa quando chega de Paris o amigo de Otar, com a mala deste, que contém os seus pertences. Sem ser vista pela avó, guarda a mala e quando a avó surge para ver quem é o visitante, ela, através de gestos, o faz entender que a velha não sabe da morte do filho.
Aliás, a parte mais significativa do roteiro é a decisão tomada por Marina de esconder da mãe a morte de Otar. Para isso, ela se dispõe a escrever as cartas que o irmão continuaria escrevendo se estivesse vivo. Essa atitude de Marina, no entanto, faz aflorar um sentido de ambiguidade, pois pode ter sido determinada não apenas pelo desejo de poupar a velha mãe da dor da perda do filho querido. E é justamente por Ada que o espectador é alertado para isso, quando a jovem acompanha Marina e o amante à casa de campo da avó. Num momento de raiva (não se sabe exatamente por quê), acusa Marina de ter em mente um objetivo na sua atitude: ao iludir Eka de que Otar continua vivo, ela pretenderia, na verdade, lutar para um dia conquistar o coração da mãe. Para Ada, com Otar morto, isso seria impossível.
Já perto do final a ação do filme se transfere para Paris, com a ida da três mulheres àquela cidade, determinada por Eka que quer visitar o filho. E, lá, o roteiro, que já era bom, evolui na qualidade. É quando a velha, sozinha, vai procurar o apartamento onde morava Otar. E ao saber de um vizinho que o filho está morto e recebe dele uma carta que destinara a Otar, descobre, então, toda a trama armada pela filha. É, talvez, o grande momento de "Desde Que Otar Partiu"... A velha fica um pouco sentada no topo da escada do apartamento, observando a porta vermelha do apartamento de Otar. Depois vai a uma praça, onde senta num banco. Em certo momento, retira do bolso a carta e é aí, talvez, que toma a decisão de participar também do jogo. Ou seja, o filho está vivo. E ao voltar para o hotel, diz à filha e à neta (preocupadas com a sua ausência) que fora visitar Otar, mas não o encontrou, pois ele fora embora para os Estados Unidos, em busca de melhores oportunidades de trabalho.
O filme termina com Ada (e só poderia terminar mesmo com ela) deixando o aeroporto de Paris. Resolvera ficar na França. É uma resolução súbita, impulsiva e inesperada, tomada quando, afastada da mãe e da avó, está numa livraria e ouve o aviso de embarque. Bem realizada a cena em que ela, através do vidro da sala de embarque, por meio de gestos, comunica a Eka e Marina a sua decisão. Não há falas por parte de ambas e há um pequeno afago de Eka em Marina, que não resiste às lágrimas. Nesse ato de Eka fica a esperança de que Marina possa vir, no futuro, a conquistar o coração da mãe. Ambas perderam os filhos, e esse fato poderá uni-las na dor e na saudade e fazer cessarem os desentendimentos, as discussões entre elas.
* * * * * * * * * * * * * * *
Uma curiosidade. A atriz Esther Gorintin (georgiana, como os demais integrantes do elenco) estava com 89 anos durante as filmagens. E estreara no cinema há apenas 4 anos antes, portanto com 85 anos nas costas. E pelo que me informei, continua em atividade.
quarta-feira, novembro 28, 2007
A VELHA SENHORA E A FILHA
"Não sei porque você foi inventar de marcar essa consulta para hoje".
Pela terceira vez a velha senhora queixava-se à filha. A filha fez uma careta, franzindo os cantos da boca, e desviou os olhos para o televisor ligado. Ainda em casa a mãe começara a cantilena, como se não estivesse convencida de que a consulta fora marcada para aquele dia, graças à desistência de uma pessoa. Não fora isso, ela só seria atendida dali a quase um mês.
O televisor exibia a novela das seis e todos os presentes, à exceção da velha senhora e da filha (esta olharia com a mesma indiferença para um quadro que estivesse no lugar do aparelho), acompanhavam atentamente as cenas. A filha, às vezes, olhava para a recepcionista, que, quando não estava ocupada em atender a alguém, tinha o rosto inclinado para o televisor. Por alguns minutos ela conseguiu errar o olhar entre a telinha, a recepcionista e as pessoas sentadas a sua frente. Parecia acreditar que, evitando virar-se para a mãe, esta parasse de aborrecê-la com queixas e resmungos. Mas foi como se a velha senhora tivesse concedido uma pequena trégua, e, ao término dela, retomasse o ataque com uma mais decidida determinação.
"Você está cansada de saber que não gosto de sair de casa no dia dos meus anos". Dessa vez a filha deu um muxoxo, conservando-se calada. Um som de risadas chamou-lhe a atenção para o televisor e ela viu uma cena cômica, que, no entanto, não lhe arrancou sequer um sorriso. As risadas não tinham ainda cessado, quando ela voltou a ouvir a voz da mãe, e foi quase um alívio que sentiu ao perceber que a velha senhora escolhera outro alvo para onde apontar o seu azedume. "Seu pai continua ignorando o dia dos meus anos. Que custava dar um simples telefonema? Mas não. Ele só tem atenção para aquela sujeita". Era um assunto a que ela voltava a cada aniversário. A filha aprendera a não mais discuti-lo, porque a mãe achara desde a primeira vez que ela assumia a defesa do pai. Nesse ponto lhe dava razão, pois ficara ao lado do pai - o único dos filhos do casal - na questão daquela separação. No entanto, contava com uma arma poderosíssima para enfrentar o assédio da mãe, desde que há uns três anos um dos irmãos deixara de frequentar-lhes a casa, em consequência de uma briga violenta entre a sua mulher e a velha mãe. "E o queridinho da senhora? Nem no aniversário da senhora ele aparece lá em casa e a senhora não diz nada". Mas o Ronaldo nunca deixa de me telefonar no dia dos meus anos. Já hoje ele me deu os parabéns. Se não vem me visitar, é por causa daquela cascavel". "Ele não quer é contrariar a mulherzinha dele. O que ele é, é um barriga-branca".
Foram interrompidos pelos acordes da Marcha Nupcial, provindos da televisão. A velha senhora virou o rosto para o aparelho e por um instante concentrou-se na cena de um casamento. Já a filha permaneceu na mesma posição, como se não tivesse ouvido a música.
"Não sei o que o meu filho viu naquela sujeita. Desde a primeira vez que botei os olhos naquela sirigaita que percebi que não era a mulher certa para o Ronaldo. Muito metida, sem educação, a boca suja. E nem bonita é. Ninguém tira da minha cabeça que aquilo foi macumba". "Ô que bobagem, mamãe", interrompeu a filha, que dessa vez não pôde reprimir um sorriso". "Bobagem não senhora. Tenho certeza que foi macumba e macumba das boas. O meu filho estava quase noivo da Estelinha. Uma moça de ouro. Fina, educada, atenciosa (a nora talhada para a senhora dominar ,) e bonita ainda por cima. A Estelinha jamais iria afastar o meu filho de mim. Eu pedi tanto ao Ronaldo pra não casar, mostrei os defeitos daquela mulher, mas não houve jeito".
Uma gritaria no vídeo interrompeu mais uma vez a velha senhora e a fez voltar-se para o televisor. Agora acompanhada pela filha. Os recém-casados partiam para a lua-de-mel, saudados por uma pequena multidão. A cena talvez tenha despertado na filha a lembrança de um outro casamento, este na vida real, que não pôde ser concretizado. "A ele a senhora pediu e ele não atendeu. Mas comigo a senhora não teve essa consideração. Simplesmente me proibiu de casar". "E você ainda acha que teria futuro um casamento daquele? Um pé-rapado, que nem presença tinha". "A senhora não gostava dele, porque ele era pobre. Mas era um homem bom e me queria bem. E eu também gostava dele. Eu é que fui uma besta, não fugindo com ele. Tanto mais que o papai não era contra o casamento, até simpatizava com ele". "Seu pai? Essa é boa - a velha mãe soltou uma risada, que chamou a atenção de uma moça, sentada de frente para elas. Seu pai o que é, é a falsidade em figura de gente. Tratava bem o seu namorado, mas depois vinha falar mal dele pra mim".
A filha sentiu o impulso de insultar a mãe, revoltada por ela pretender dividir com o ex-marido a culpa pelo casamento irrealizado, mas foi contida pelo receio de causar um escândalo ali, o qual, parecia-lhe, aquela moça estava farejando, pois não tirava mais a atenção dela, desde aquela risada da velha senhora. E talvez essa sujeição às regras sociais, impedindo-a de desrespeitar a mãe, quando já não se sentia tão tolhida pelo despotismo dela, tenha lhe revelado, em toda a plenitude, a impotência que marcou a sua vida. Por ela jogara fora a chance de viver ao lado do homem que a amava e desperdiçara a vida ao lado de uma mulher tirânica.
A mãe não parara de falar, atraindo agora a atenção de outras pessoas além da moça, já que a novela terminara e ninguém se interessava pelo jornal. De súbito a filha sentiu uma vontade incontrolável de chorar. Disposta a não resistir às lágrimas, levantou-se para sair em busca de um lugar isolado. Vendo-a se afastar, a mãe perguntou com voz autoritária pra onde você vai? ela respondeu que ia tomar um pouco de ar. "Não demore, que nós já vamos entrar", disse, e aproveitou para cobrar da recepcionista a vez de ser atendida.
Com os olhos úmidos, a filha atravessava a porta que dava acesso ao corredor, quando sofreu um encontrão com um casal de crianças que, à dianteira dos pais, chegavam alegres e gritalhonas. Passou as mãos pelo corpo dolorido, em seguida foi refugiar-se no fundo do corredor. Despovoado, quase às escuras, aquele recanto favorecia a sua necessidade de desabafo.A sua frente erguia-se uma árvore frondosa. Ali se deixou ficar, chorando baixinho, até ser chamada pela recepcionista. Puxou o lenço e enxugou cuidadosamente as lágrimas. Na sala, a mãe a esperava, de pé. Estendeu o braço para a filha e as duas se afastaram a passos lentos.
- Conto do meu livro "Clarita" (1993).
- A foto acima é uma imagem de "Desde que Otar Partiu"... (2003), um sensível e delicado filme de Julie Bertuccelli, do qual deverei falar provavelmente na próxima postagem.
quarta-feira, novembro 21, 2007
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE GILDA

"Nunca houve uma mulher como Gilda". Essa frase correu o mundo, impressa no cartaz de Gilda. E o personagem-título é Rita Hayworth. Aos 28 anos, no auge da beleza, Rita personificava o ideal da mulher, fosse para os homens, fosse para as mulheres. A femme fatale que inferniza a vida de Johnny Farrell (Glenn Ford), principalmente quando, para enciumá-lo, se envolve com outros homens. E ainda por cima casada com o melhor amigo de Farrell: Ballin Mundson (George Macready).
Rita é, de longe, o atrativo de Gilda, no seu esplendor físico e na sensualidade, esta atingindo o ponto mais alto quando ela canta (dublada por Anita Ellis) "Put The Blame On Mame". Sobre esta cena, vale transcrever as palavras de Barbara Leaning, autora de "If This Was Happiness", sua biografia sobre a atriz. "Rita se despoja na realidade somente de suas longas luvas negras, todavia seus quadris oscilantes, seus olhares lúbricos e a entrega erótica que interpreta com sentido magistral tornaram a cena uma obra mestra da insinuação proibida".
Além de Rita, no entanto, o filme de Charles Vidor possui outros elementos positivos. O roteiro, por exemplo. Curioso é que foi rascunhado por Jo Eisinger e elaborado, na forma definitiva, por Marion Parsonnet; ou seja, duas mulheres, que, juntas a Virginia Van Upp, responsável pela produção, realçam a presença feminina de "Gilda", um fato de causar espanto na Hollywood da época. (É de se perguntar se não tenha sido pela intervenção delas que haja quem identifique um componente homossexual na amizade entre Farrell e Mundson, que, confesso, não chego a perceber. Mas...)
O roteiro joga com dois elementos básicos. Um é o de mostrar coisas e pessoas sob uma aparência que não é precisamente a delas, ou a única delas. Exemplos: a bengala usada por Mundson, que oculta uma afiada lâmina; o comportamento de Gilda quando na presença de Farrell, cuja verdadeira finalidade é a de provocá-lo. O outro elemento é a intensa relação de amor-ódio, atração-repulsão entre Gilda e Farrell.
É provável que "Gilda" se tivesse convertido numa obra-prima se, por trás da câmera, houvesse um diretor com o talento e a relativa independência (levando em conta o cinema hollywoodiano) que Charles Vidor não possuía. Apesar disso, ele conduz o filme com competência e, pela eficiência do roteiro, da interpretação do trio principal, e, sobretudo, do carisma de Rita Hayworth, é um filme que tem mantido o seu interesse ao longo de mais de 60 anos, valendo a pena ser visto ou revisto.
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NOTA - A opinião da biógrafa de Rita foi transcrita do livro "A Altura e a Largura do Nada", de Ignácio de Loyola Brandão (Ed. Jaboticaba/2006).
quarta-feira, novembro 14, 2007
UM CONTO DE BARTOLOMEU CORREIA DE MELO(RN)
Todo causo cabe três estórias:
a tua, a minha e a verdadeira.
Dito de boa Sabença
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quarta-feira, novembro 07, 2007
NOMES PRÓPRIOS TÃO IMPRÓPRIOS

Li na revista "Língua Portuguesa", última edição nas bancas, que um casal chinês quis dar ao filho recém-nascido o nome @. Sim, o sinal que aparece nos e-mails, chamado de arroba no Brasil. Segundo a revista, a justificativa dada pelo casal é que @ "quando traduzido para o chinês, tem o mesmo som dos ideogramas em mandarim para a expressão 'eu o amo'. O nome da criança, portanto, seria uma homenagem ao amor que os pais têm por ela". Fiquei imaginando se algum pai brasileiro, da espécie de internautas que chegam quase à idolatria ao computador, quisesse batizar uma filha com o nome de Arroba. Não queria estar na pele da coitada. As gozações que iria sofrer ao longo da vida, as piadas sobre o seu nome, proporcionadas pelo fato de que a palavra também significa uma unidade de peso, equivalente a 15 quilos, usada para produtos agropecuários.
Não consigo entender o que passa pela cabeça de certos pais na hora de escolherem um nome para o filho. Há nomes que ensejam a pensar que o pai não estava com o juízo perfeito na ocasião. E não seria também o caso de, por não desejar o nascimento do filho (ou filha), o sujeito quisesse lhe dar um nome que o ferisse por toda a vida, como uma chaga? Há alguma coisa que não sabemos qual (a não ser o péssimo gosto), que leva um pai a nomear uma filha de Merdolina. E por falar nesse nome, me lembro de quando trabalhava na seção de ordens de pagamento. Muitas vezes a orpag era transmitida por telefone. E um dia recebi uma mensagem de uma agência de Fortaleza. O nome da beneficiária era Medda. O colega até me advertiu, em tom de brincadeira: "Cuidado, Sobreira, pra não trocar o primeiro "d" por um "r" quando for escrever o nome da moça".
Em certos nomes não há um componente escatológico como o de Merdolina, por exemplo. O caso é apenas de mau gosto mesmo. Quando trabalhei no interior do Ceará tive uma namorada chamada Primitiva. Na mesma cidade encontrei um colega com o nome de Oceano Atlântico. Oceano Atlântico Linhares, que tratávamos apenas por Oceano. Outro exemplo, o nome do excelente ator Lima Duarte (foto acima, in Google) : Aryclenes Venâncio Duarte. Ele abomina o seu prenome, segundo soube pelo seu colega (já falecido) Paulo Gracindo, num espetáculo solo que este apresentou em Natal na década de 1980. Paulo, que também não gostava do seu verdadeiro nome (Pelópidas), revelou que quando alguém da Globo chamava Lima Duarte por Aryclenes (pra mexer com ele), levava como resposta uma expressão chula muito usada. "Um dos nomes é bem pequenininho", acrescentou. O sobrenome Vandré foi criado pelo próprio compositor, em parceria com Théo de Barros, da obra-prima "Disparada". Ele abreviou o segundo nome do pai, que era, vejam só, Vandregísilo.
Ainda nesse caso de apenas mau gosto estão aqueles nomes que encerram uma homenagem. Quando estudava no Liceu, de Fortaleza, havia um colega chamado Irapuan Índio do Piauí. Numa aula de Português, o professor, ao fazer a chamada, fez uma gozação com o nome dele, que arrancou risadas da classe. Ele carregou o fardo do nome enquanto o pai estava vivo. Com a morte deste, Irapuan (de quem sou amigo até hoje e, como eu, se tornou funcionário do Banco do Brasil), decidiu suprimir esse incômodo "Índio do Piauí". O filho de Oswald de Andrade, fruto do seu casamento com Patrícia Galvão (Pagu), tinha por nome completo Rudá Poronominare Galvão. Rudá não sei a razão. Já Poronominare é uma entidade indígena, cujo nome significa "dono da terra e do céu". É o que revela a matéria "Marcas de batismo" dessa ótima revista, que não conhecia, escrita por Luiz Costa Pereira Junior.