quarta-feira, novembro 21, 2007

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE GILDA


"Nunca houve uma mulher como Gilda". Essa frase correu o mundo, impressa no cartaz de Gilda. E o personagem-título é Rita Hayworth. Aos 28 anos, no auge da beleza, Rita personificava o ideal da mulher, fosse para os homens, fosse para as mulheres. A femme fatale que inferniza a vida de Johnny Farrell (Glenn Ford), principalmente quando, para enciumá-lo, se envolve com outros homens. E ainda por cima casada com o melhor amigo de Farrell: Ballin Mundson (George Macready).
Rita é, de longe, o atrativo de Gilda, no seu esplendor físico e na sensualidade, esta atingindo o ponto mais alto quando ela canta (dublada por Anita Ellis) "Put The Blame On Mame". Sobre esta cena, vale transcrever as palavras de Barbara Leaning, autora de "If This Was Happiness", sua biografia sobre a atriz. "Rita se despoja na realidade somente de suas longas luvas negras, todavia seus quadris oscilantes, seus olhares lúbricos e a entrega erótica que interpreta com sentido magistral tornaram a cena uma obra mestra da insinuação proibida".
Além de Rita, no entanto, o filme de Charles Vidor possui outros elementos positivos. O roteiro, por exemplo. Curioso é que foi rascunhado por Jo Eisinger e elaborado, na forma definitiva, por Marion Parsonnet; ou seja, duas mulheres, que, juntas a Virginia Van Upp, responsável pela produção, realçam a presença feminina de "Gilda", um fato de causar espanto na Hollywood da época. (É de se perguntar se não tenha sido pela intervenção delas que haja quem identifique um componente homossexual na amizade entre Farrell e Mundson, que, confesso, não chego a perceber. Mas...)
O roteiro joga com dois elementos básicos. Um é o de mostrar coisas e pessoas sob uma aparência que não é precisamente a delas, ou a única delas. Exemplos: a bengala usada por Mundson, que oculta uma afiada lâmina; o comportamento de Gilda quando na presença de Farrell, cuja verdadeira finalidade é a de provocá-lo. O outro elemento é a intensa relação de amor-ódio, atração-repulsão entre Gilda e Farrell.
É provável que "Gilda" se tivesse convertido numa obra-prima se, por trás da câmera, houvesse um diretor com o talento e a relativa independência (levando em conta o cinema hollywoodiano) que Charles Vidor não possuía. Apesar disso, ele conduz o filme com competência e, pela eficiência do roteiro, da interpretação do trio principal, e, sobretudo, do carisma de Rita Hayworth, é um filme que tem mantido o seu interesse ao longo de mais de 60 anos, valendo a pena ser visto ou revisto.
* * * * * * * * * * * *
NOTA - A opinião da biógrafa de Rita foi transcrita do livro "A Altura e a Largura do Nada", de Ignácio de Loyola Brandão (Ed. Jaboticaba/2006).

Nenhum comentário: